Ontem (05/09/2008) ao fim da tarde fui à Loja do Cidadão, nas finanças. Fiquei a espera do atendimento por mais de uma hora. Fiquei a observar o comportamento dos cidadãos à espera de atendimento.

Uma família, em particular, chamou-me atenção: o casal com uma criança de 3 ou 4 anos e uma jovem, irmã da mãe da criança. O homem, na casa dos trinta, barriga bem saliente, olhar perdido, confuso, de atitude passiva-dependente. A mulher, na casa dos 25/28, baixa, tensa, de óculos, exalando raiva por todos os poros. A jovem, na casa dos 15/16, corpo apresentando sinais de sofrimento psíquico, curvado para a frente, numa postura imprópria para a idade. A criança, eléctrica, ao mesmo tempo manifestava um riso contido, provocações com tapas na cara do pai, mãe e tia.

Numa dada altura a criança vai para o chão, caminha por entre as pessoas, com o pai atrás, dizia a criança: 'quero fazer xixi'; o pai olha para a mãe; esta em tom de voz agressivo e mandão, expressa: até parece que sou eu que estou com a criança no colo, vai atrás dela; o pai da criança, baixa a cabeça numa postura de derrota e vai atrás, tenta pegá-la, mas esta reage chorando; a mãe ameaça com palavras depreciativas, à frente de todos. Logo o pai e tia sentam-se calados num canto e a mãe fica de pé com a criança no colo.

Que reflexões podem ser feitas dessa atitude materna em público? O comportamento atitudinal, emocional, inadequado da mulher portuguesa. Humilha o companheiro em público com palavras e gestos hostis. Que modelo de família tem os cidadãos jovens portugueses? A figura de uma mulher amarga, hostil, exigente, por um lado e, de outro passiva-permissiva. Em outras palavras: é uma figura materna ambivalente, num corpo de mulher, que ao tornar-se mãe, deixa de ser esposa afectiva com o companheiro, passando a manifestar um comportamento hostil, materno cultural, baseado nas crenças e repetição de atitudes inconscientes passadas.

E ai emerge o grande problema actual da mulher mediana portuguesa: a queixa, em público (reportagem recente nos meios de comunicação), de que as mulheres brasileiras vêm a Portugal tomar os seus maridos. Sou brasileira, entrei em Portugal mobilizada por um sentimento de busca, de informação e conhecimento ao nível de comportamentos maternos, dado que minha mãe e meu pai são descendentes de portugueses.

Pude sentir e ver de perto, no presente momento, as atitudes inadequadas do passado de minha mãe, nas mães portuguesas do presente. Mulheres com sentimentos e emoções, a nível afectivo-sexual, recalcados e projectados, em diferentes níveis e formas, no ambiente familiar, social e, na actualidade, nas mulheres brasileiras.

Diante da cena de ontem, pública e habitual, na vida quotidiana dos cidadãos portugueses, fiquei a rever, em meu banco de memórias passadas, se encontrava uma cena semelhante, em comportamento de casal em público, nos casais brasileiros, mas não consegui lembrar-me de nem um episódio similar. Lembro sim de ter estado em muitas filas de banco, de festas, mas nunca presenciei uma mãe brasileira humilhar um pai na frente dos filhos e demais pessoas estranhas, em público, numa situação normal, como a cena que presenciei ontem na Loja do cidadão. Ao contrário, recordo que os casais jovens brasileiros sentem orgulho de sair a rua com os filhos, e, geralmente a jovem mulher sente-se poderosa ao lado de seu companheiro; isto pude constatar em muitas festas, na Igreja aos domingos, nas compras de supermercado, etc.

Diante do contexto, qual a saída, compensatória mas imprópria, que o homem português, mediano, encontrou para, 'vingar-se secretamente', das atitudes impositivas e maternas de sua esposa, que ao assumir o papel materno esquece-se do papel de mulher-esposa amorosa?

Num corpo carregado de raiva, mobilizado instintivamente, por uma dor cega, em busca de prazer faz qualquer coisa para atrair uma mulher estrangeira, porque não são só as brasileiras que o homem português busca no estrangeiro. Aprendeu a canalizar a raiva para a função sexual, num comportamento compulsivo e de abandono; ou seja, a grande maioria dos homens portugueses que atraem mulheres e, principalmente as brasileiras, pela internet, convencem-nas a cruzar o Atlântico com mil promessas, geralmente, falsas, a começar pela identidade civil (mentem) e, logo no primeiro choque atitudinal cultural, abandonam-nas.

Este tem sido o grande fenómeno da actualidade. Inúmeras são as mulheres brasileiras que compartilham da mesma história. E por fim, algumas dizem: ter homem português pra quê, não funcionam; é só pra dizer que tem. De facto pude constatar que o homem português não aprendeu a manifestar afecto em palavras carinhosas, gestos e atitudes amorosas, que é o ambiente preparatório e facilitador para o acto amoroso, em si. Agem e reagem a nível sexual ainda muito primitivos, instintivos e mobilizados por sentimentos dúbios de carências e necessidades primárias, ligadas à primeira imagem feminina internalizada, ou seja: a figura da mãe que tiveram.

O contexto presente, tanto dos homens como das mulheres portuguesas, oportuniza uma tomada de consciência reflexiva e viabiliza, subtilmente, caminhos para uma profunda mudança no convívio marital. É penoso para as crianças conviverem e crescerem nesse ambiente, cujo modelo é o campo dos afectos que, na adolescência e posterior vida adulta, manifesta-se em diferentes comportamentos psicossociais inaptos; com a repetição do que vivenciaram no ambiente familiar e presencial do casal: o jogo competitivo de forças psicológicas, em palavras agressivas e humilhantes, em público.

Uma das maiores queixas dos jovens cidadãos portugueses é a de que os pais e, principalmente a mãe, nunca lhes dirigem um elogio espontâneo, uma palavra de carinho e estímulo criativo. Observa-se, no quotidiano das famílias portuguesas, a falta de discernimento de conteúdos psicológicos adultos perante os filhos; os pais discutem problemas adultos na frente das crianças, criticam-se, acusam-se com palavrões, falam das contas, e culpam outros pelos seus fracassos.

Jovens pais e mães, a força que nos mobiliza, internamente, em busca de um mundo melhor, são os elogios expressos em palavras benéficas, cheias de energias, como: vai em frente meu filho, confie em ti, acredite no teu sonho, és capaz!

Pais que apresentam um comportamento, como o que foi citado acima necessitam, urgentemente, de acompanhamento psicoterapêutico, numa abordagem sistémica. Apoio Psicológico familiar com um psicólogo(a).

A qualidade de vida tem origem na qualidade das palavras que expressamos aos outros e, em particular, a nós próprios e aos nossos membros familiares.