“Os analfabetos do século XXI não serão os que não conseguem ler e escrever, mas os que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.”

(ALVIN TOFFLER, citado por P. Mckenna, p. 190, 2009).

Na semana, 16 a 20 de Março/2009, apareceu no noticiário nobre televisivo, notícias e questionamentos, no mínimo preocupante, para comunidade europeia, com julgamento do pai Criminoso (Fritz). Encarcerou a própria filha e deu origem a uma prole de incesto. Um pai de formação superior, socialmente adaptado e acima de qualquer suspeita.

Que sociedade culta é essa, que esconde-se por detrás de uma fachada, dita evoluída, com seus membros isolados e sofrendo no mais profundo desespero afectivo-emocional-social? Um silêncio doloroso de marcas perpétuas, numa jovem de 19 anos e, filhos, com que estrutura personalidade e traços de carácter?

Fica-nos um alerta e algumas perguntas no ar, acerca da atitude quotidiana das pessoas e famílias daquela comunidade europeia, reportando-nos para o presente quotidiano de cada um e, despertando, em nós, o mais nobre sentimento social: solidariedade. Vamos-nos perguntar: Será que aquela jovem não tinha amigos ou o medo os fez calar? Como era a conduta diária dos colegas de escola? Aquela família não tinha parentes, amigos e vizinhos? E como estão as relações familiares, no campo dos sentimentos e emoções? Há diálogo, respeito e compreensão? Ou cada um fecha-se no seu casulo pessoal da dor emocional, pensando-se, cheio de razão, negando a si e aos familiares um diálogo aberto, reflexivo?

O caminho é a maturidade emocional, via Psicoterapia, objectivando solução e compreensão dos sentimentos de família, com o resgate dos laços afectuosos e responsáveis de cada membro e diálogo pessoal e familiar.

Parece ser um traço marcante, nos comportamentos familiares europeus, os ressentimentos, as ameaças verbais e o distanciamento físico-emocional, num isolamento afectivo doentio. Como cada um trata da raiva, da revolta, das magoas, da tristeza, dos lutos internos e do stresse quotidiano? Engolindo, sufocando-se com comidas, bebidas, sexo pervertido, trabalhos de baixo nível e desempenho laboral ineficiente?

A realidade, a cada amanhecer, traz consigo sementes de oportunidades e meios de escolhas, a cada cidadão habitante dessa grande nave, chamada terra. Entretanto, a grande maioria deambula pelos dias e noites. Cego em si mesmo, criando dependências e coo-dependência, em relacionamentos adultos imaturos asfixiados, com a mente adormecida pelos fármacos, cafés, cigarros, sem diálogo, envelhecidos pelo peso dos sentimentos e emoções doentes, martirizando-se e martirizando o elo da cadeia familiar nuclear, no papel de vítimas. Um coquetel perfeito para as demências, principalmente, o Alzheimer e Parkinson.

Há tantos meios e jeitos de resolver um problema, de criar soluções alternativas, de reconstruir-se e continuar desenvolvendo competências. Mas para que a mudança rígida de hábitos e crenças negativa mude, é preciso investimento em conhecimentos, desaprender o que é velho e reaprender tudo outra vez. Se a doença da cabo da vida, imaginem a ignorância de si mesmo, no submundo dos sentimentos e emoções. E qual o papel social da função paterna, materna, dos detentores de saberes, principalmente, os educadores e profissionais da saúde? E como fica o desenvolvimento afectivo-emocional dos inocentes?

No fim da tarde de quinta-feira (19/03/2009), fui a um salão de estética. Quase no fim de seu trabalho comigo, sabendo que eu sou psicóloga, a jovem esteticista, abre seu coração e fala do sofrimento da filha e de seu sentimento de culpa, vergonha e preocupação. Sua filha de seis anos, a três semanas passadas, passou a defecar nas calças, em qualquer lugar e, em casa também. A mãe aflita, após comunicado da professora, procurou-a e pediu um encaminhamento para uma psicóloga, no que a professora diz, sem meios termos, que não era coisa grave, que não era para se preocupar, e que não podia encaminhar. A mãe voltou para casa triste e começou a ralhar com a filha, dizer-lhe que era uma vergonha se sujar daquele jeito, que já tinha seis anos, etc.

Entretanto, um facto, chamou a atenção da mãe, quando o cachorro da família morreu, no inicio dessa semana (16/03/09). Expressou inconsolada a mãe que, a filha não reagiu, permaneceu como se nada tivesse acontecido, não manifestou qualquer tipo de sentimento. Percebeu que não era normal para uma criança de seis anos, tão apegada ao cachorro, não chorar a perda, porque ela e o marido sentiram. Comentou com o marido e, com uma amiga, sem saber que atitude tomar. Pensou em ir ao médico, mas com vergonha e confusa, pensava: o que vou dizer e, de certo que daria medicamento. Diante de sua dor e vergonha, escutei-a e teci alguns comentários acerca da faixa etária - 6 anos, reorganização da fase mais importante da estrutura de personalidade, que em certas crianças sensíveis emotivas, poderia ocorrer fixações, que levaria, mais tarde a regressão, sempre que estivesse diante de situação conflituosa mais agressiva. No que a mãe confirma que a filha é muito sensível e, tem dificuldade com a professora.

Repensei a situação angustiante da mãe e sugeri alguns encaminhamentos, como levar a criança a uma psicoterapeuta infantil e, em casa fazer um banho de imersão, seguido de uma massagem corporal. Mesmo assim vim para casa pensativa, acerca da atitude pouco ética de uma professora e, um sistema obstrutivo, sem encaminhamentos ou uma orientação mais assertiva, e pais com pouca ou nenhuma iniciativa para fazer escolhas próprias. Como ficam as crianças e seus pais, nos conflitos quotidianos, se a escola não mostra-lhes caminhos possíveis?

Levantei-me cedo no dia seguinte (20/03), com uma nova sugestão em mente para ajudar aquela mãe e a criança. Recordei da terapia do abraço que praticava nos grupos em psicoterapia, como processo de resgate afectivo, em sujeitos carentes de afecto, em minhas praticas clínicas no Brasil. Procurei pelo número de telefone e, quando falei com a mãe, qual não foi minha surpresa. Contou-me ela feliz, que ao chegar em casa naquele dia, que fora o dia anterior, seguiu minha sugestão, após o banho fez uma massagem e acabou por adormecer ao lado da filha. Percebeu o quanto a filha estava carente e que havia dormido bem. Reforcei a mãe elogiando sua atitude e, sugeri praticar a terapia do abraço, principalmente a noite, num abraço afetuoso seguido de uma palavra carinhosa à filha, acolhendo-a no colo, simbolicamente, como um bebe, mas reforçando seu crescimento e maturidade emocional. Recriando o amor dos pais presentes, pontuando à mãe que ela estava a sentir medo do pai, por isso na escola estava com medo da professora, no que a mãe confirma, dizendo: pois é isso, ela tem medo do pai. A jovem mãe agradeceu-me alegremente. É uma clara confirmação de que nosso corpo e mente espelham-se na realidade presente, em busca de um portal cognitivo compreensivo para abrir-se e despejar as cargas afectivas tóxicas, mas com apoio sólido afectivo acolhedor visando solução.

Ao ouvir o relato daquela mãe e o sofrimento da menina de seis anos, de imediato me reportaram às teorias freudianas e congéneres acerca da formação de nossa estrutura de personalidade. A manifestação do sentimento de vergonha daquela mãe projectando e reforçando na filha, censuras ameaçadora punitiva, que a levaria a uma fixação em fases infantis, em seu comportamento emocional. A filha reagindo, negativamente, distanciando-se cada vez mais do corpo físico emocional presente, sentindo-o feio e sujo, preso a um profundo sentimento carente de afecto físico emocional. O que sem dúvida, daria origem a um futuro comportamento com estrutura de personalidade obsessiva.

Para reforçar os bons laços familiares, cito uma parte da carta do Dr. Phil McGraw aos pais:

Caro Pai, cara Mãe: Quero falar consigo sobre a família(...). Tal como você, eu amo a minha família mais do que tudo no mundo e quero que estejamos todos em segurança, com saúde, felizes, e que sejamos prósperos em tudo o que fizermos, tanto no seio da família como quando saímos para o mundo. (...). Contudo, como pais, a nossa missão é tomar consciência de tudo o que pode ter um impacto potencial sobre nossas famílias. (...). As pessoas que entram no nosso mundo familiar vêm dos mais variados universos: professores, treinadores, família alargada, colegas da escola e outros. Alguns são bem intencionados, outros não. (...). Os seus filhos são as suas jóias da coroa e é hora de as fazer brilhar. (...) É altura de dizermos:(...). Não me deixo intimidar pelas influências que arrastam os meus filhos e a minha família. (...) Não aceito as epidemias de drogas, álcool e sexo no segundo e terceiro ciclo da escolaridade. (...). Não vou continuar a educar como se tivesse medo de os meus filhos não gostarem de mim se eu exigir mais do seu comportamento, do seu aproveitamento escolar, ou do seu espírito, à medida que lhes ensino que, na vida, é importante estabelecer boas relações pessoais. Não sentirei culpa nem procurarei compensá-los vestindo-os com roupas de marca e enchendo-os de brinquedos desde o infantário! Não estou incumbido de ser amigo deles, a minha função é ser pai, o seu protector, o seu professor e o seu líder. Hei-de virar-me do avesso, se preciso for, para romper com qualquer herança familiar que possa estar a contaminar o modo como conduzo a minha família e como lido com os meus filhos. Deem-me as ferramentas, a orientação e as técnicas específicas e eu farei tudo para socializar os meus filhos de tal modo que eles fiquem imunes às muitas promessas sedutoras de gratificação instantânea, às realidades falsas e os estilos de vida provocadores do mundo acelerado de hoje. Não vou deixar que a televisão e a internet tomem conta deles, (...). ...vou ligar-me à eles e prepará-los para lidar com um mundo que os ameaça e lhes desfoca a imagem que têm de si mesmos. Vou criar o orgulho, a unidade, a lealdade e o 'espírito de equipa' que é tão decisivo numa família.” ( Dr. Phil McGraw, em A Família em primeiro lugar, 2007).