O treino de atletas jovens tem de ser cuidado e planeado com coerência, disciplina, discernimento e atitude. As idades de iniciação são decisivas no futuro dos jovens, quer a nível desportivo e, não menos importante, a nível pessoal. As crianças são capazes de auto-construir um adulto com muitas bases nas suas vivências desportivas!

Nos jovens devemos privilegiar o gosto pela modalidade, a criação de hábitos desportivos, de disciplina, higiene, aquecimento, etc. O treinador acaba por ser um complemento importante aos pais e professores do atleta, no que diz respeito à sua educação e à sua formação como pessoa e cidadão.

Guiando-me por este ponto, pelas várias vertentes da vida do jovem que funcionam em complementaridade, é pertinente referir o apoio dos pais, e a importância deste no início da carreira do atleta. Em fases posteriores da vida desportiva do atleta, o nível moral acaba por ganhar um papel mais proeminente e torna-se um factor determinante; este nível moral é (foi) construído pelas suas vivências, em idades mais tenras, proporcionadas por treinadores, directores do clube, pais, pares, etc.

Ressalvo que “apoio” não é “pressão/exigência”! Os pais têm de entender que os seus filhos não vão apaziguar as suas próprias frustrações (e.g. quando os pais desejam para os seus filhos aquilo que eles nunca conseguiram ser), e que as expectativas têm limites. Eles devem saber exprimi-las da forma correcta, pois um atleta apenas se sente motivado quando sente que é capaz de alcançar o objectivo definido ou esperado; isto é, se as expectativas dos pais forem demasiado elevadas, e se a criança sente que não consegue lá chegar, vai acabar por diminuir o seu rendimento e, até por vezes, desistir da modalidade, colocando de parte a sua vida desportiva.

O atleta também se sente motivado apenas se os objectivos propostos (pelo treinador, pelos pais ou por ele próprio) forem parcelares. É necessário desenvolver caminhos a seguir, estratégias a utilizar e metas a atingir, a curto e a longo prazo (um objectivo a longo prazo – geral – e vários objectivos a curto prazo – parcelares). Se quisermos, é necessário dividir um objectivo geral em vários objectivos singulares/específicos e mais acessíveis, com mais probabilidade de sucesso.

Esta definição de objectivos é a primeira etapa no planeamento de um treino, de um jogo e até de um campeonato. Além disso, é a definição de objectivos que permite ao atleta (e ao treinador, assim como aos mais diversos intervenientes no processo desportivo/competitivo) desenvolver as, supra referidas, estratégias para alcançar o sucesso, quer este seja pessoal/individual, quer seja de grupo/equipa. É fundamental que o treinador incentive os atletas a definir os seus próprios objectivos, para além dos objectivos da equipa (que devem ser formulados com conjunto – treinadores, dirigentes e atletas); se os objectivos individuais do atleta forem estudados é possível avaliar e, por vezes, prever o seu nível de desempenho. Estes objectivos pessoais devem ser posteriormente analisados pelo treinador e, também, depois conjuntamente com a equipa; objectivos inalcançáveis ou despropositados, relativamente à equipa ou ao tipo e nível de competição em que está inserida (e.g., um atleta de nível distrital deseja ser campeão nacional; um atleta raramente convocado pretende ser o melhor marcador do campeonato), devem ser reformulados e adaptados ao interesse geral do grupo (e.g., um atleta de nível distrital deve ambicionar chegar aos lugares cimeiros da tabela para conseguir classificação para a fase nacional; um atleta raramente convocado deve pretender ganhar um lugar na equipa principal), essa deve ser a prioridade máxima. É importante ter em conta que os objectivos definidos devem ser concretos e viáveis; o “fazer o melhor possível” não é uma opção, é demasiado vago!

Voltando à questão das camadas jovens, é importante que o treinador tenha a preocupação de manter os atletas orientados para a tarefa, e incentivá-los a melhorar simultaneamente. O resultado vai ganhando importância progressivamente, à medida que o nível do atleta aumenta. A mesma atitude deve ser tida pelo próprio treinador, contudo tendo o cuidado de não desvalorizar demasiado o gosto pela vitória, correndo o risco de perder a motivação da equipa. [Talvez seja nesta perspectiva que os treinadores se baseiam para festejarem, apenas, os golos a partir do escalão de iniciados, valorizando demasiado o “importante é participar”… quando não é! O importante é melhorar, superar-se, transcender limites.]

Um atleta orientado para a tarefa é aquele que quer melhorar em relação a si mesmo, por sua vez, um atleta orientado para o resultado (ou para o ego) é aquele que deseja vencer e se preocupa com o adversário e com a competição. O ideal é que, em alguma fase da sua carreira, o atleta consiga atingir o equilíbrio e conciliar essas duas orientações, assim como racionalizar os seus esforços e ambições pessoais.

Pois, não só o atleta tem estes deveres. O treinador é o seu precursor mais saliente, e tem de ser ele a incutir-lhe estes conceitos, valores e atitudes. Nas camadas jovens, o treinador acaba por ter a função de “educar” os pais dos seus atletas, para que todas as arestas possam ser limadas e para que se crie um bom atleta, não em termos técnicos ou tácticos, mas sim em valores e atitudes pessoais.