Sim, viver dói e muito! São decepções, tristezas, arrependimentos, rompimentos. Nem sempre é o lado positivo da vida que está em evidência, mas são elas, as nossas angústias, aquelas que insistimos em abrigar em nossos corações por pura incapacidade de digeri-las. Aliás, muitas vezes já desejei que o meu estômago estivesse no lugar do meu coração, seria bem mais fácil para eu separar aquilo que eu deveria absorver ou expurgar.

Olhar para vida sempre com olhos apaixonados e sorriso nos lábios é impossível, seria como estar com fome e querer estudar literatura. Refletir e filosofar sobre os sentimentos nossos de cada dia.. exige que tenhamos uma base mínima de equilíbrio emocional, que estejamos saciados minimamente de amor e de fé. Tente falar de otimismo para um depressivo, um desempregado ou um abandonado, impossível! Primeiro é preciso recuperar o mínimo das energias para dar os próximos passos em busca da reconstrução emocional, para reestruturar a sanidade e a lucidez. Isso serve para cada um de nós, não existe mágica quando estamos melancólicos, desapontados e cabisbaixos.

Temos que respeitar os nossos sentimentos, tomar fôlego, voltar a respirar, afastarmo-nos dos nossos agressores, recompormo-nos, dar-nos colo... Depois, em um segundo momento, já refeitos reiniciaremos os nossos processos de reconstrução interior, de retorno a paz. Só não podemos ser ingênuos em acreditar que a paz é a ausência da dor.

Temos o dever com nós mesmos de entender que a paz é o equilíbrio, apesar da dor. Assim saberemos que viver continuará doendo em muitos outros momentos, mas já não nos assustaremos tanto quando ela reaparecer. Estaremos mais fortes, mais atentos e mais experientes para não permitir que ela prolongue, além do que deve, a sua estada em nossos corações.