"O vaginismo caracteriza-se por um espasmo reflexo involuntário dos músculos perivaginais e, ocasionalmente, dos músculos adutores da coxa, a ponto de os joelhos ficarem colados um contra o outro, o que provoca dor, e nos casos extremos, impede o coito" (Profª. Jussânia S. Oliveira)     

As mulheres com vaginismo têm por queixa principal a dificuldade em ter uma penetração. Se não há penetração, não há actividade sexual satisfatória.

Se perguntarmos às mulheres se já ouviram falar de vaginismo, elas podem não saber do assunto ou dizer nunca receberam, em alguma ocasião, explicações sobre tal. Em contrapartida, certos termos são, muitas vezes, postos de lado no diálogo sobre determinado tema.

Invertendo a questão, se perguntarmos a um grupo de mulheres se já ouviu alguma amiga queixar-se de não conseguir ter relação sexual, que tem medo da dor que o pénis pode causar após a penetração, que os músculos se contraem e fica ansiosa quando o namorado ou marido tira a roupa e diz “é agora, deita, que vamos começar a…”, certamente que a reacção será diferenciada.

A dor durante a relação sexual chama-se dispaurenia (tema a ser abordado brevemente), e isto pode acarretar o vaginismo secundário, pela produção de uma reacção condicionada reflexa de aversão ao coito.

Em palavras mais simples, a mulher que sente constantemente dor quando faz relações sexuais pode sentir-se sem saída, culpada, bem como desencadear medo em relação ao acto sexual, esquivando-se, adiando, não querendo estar a sós com o namorado ou marido. Entende-se que a causa principal para esta mulher é o evento traumático relacionado com a dor e que ela percebe como ameaçador para si.

 

Podemos dividir o vaginismo em três principais grupos: primário, no qual a mulher nunca teve a penetração do pénis ou objectos para a vagina; secundário, a mulher já experimentou a penetração, mas, devido a algum problema ou evento percebido como ameaçador, não consegue ter uma relação sexual; selectivo, que ocorre diante de determinados companheiros.

Autores consideraram, nos últimos anos, outro grupo como não-selectivo, que ocorre com a mulher, independentemente do parceiro ou companheiro sexual.  

A ansiedade relacionada com a penetração pode significar resistência, para que o parceiro passa avançar ao introduzir o pénis. Nestes casos, é comum o terapeuta avaliar os níveis emocionais da paciente. É preciso realçar que a maioria dos pacientes com queixas sexuais, quando aplicado neles o inventário de ansiedade de Beck, aponta para a ansiedade generalizada.

O tratamento deste problema sexual consiste, essencialmente, na extinção da resposta vaginal condicionada. Os terapeutas sexuais empregam uma variedade de objectos a serem inseridos na vagina para o descondicionamento. De modo geral, submete-se a paciente a um intenso programa de relaxe muscular para diminuir, ao máximo, a tensão psicofísica.

 

Aos estudantes de Psicologia

Normalmente, as pacientes vagínicas, quando chegam ao consultório, começam por contar outras estórias até chegar ao que realmente interessa. É importante motivá-la para falar, encorajá-la e fazê-la sentir-se a vontade, levando-a a confiar na pessoa que está diante de si.

Antes de qualquer intervenção psicoterapêutica, é importante verificar se os exames clínicos ginecológicos estão completos. Na terapia sexual, devemos eliminar as hipóteses relacionadas com as causas orgânicas do problema.

Há relatos de profissionais que têm em conta as dificuldades que esse grupo de mulheres apresenta para fazer qualquer tipo de exame ginecológico, devido ao espasmo dos adutores da coxa que são intensos. Nestes casos, o terapeuta deve acompanhar a paciente, fazendo sessões de relaxamento.

 

Conclusão

O vaginismo é um problema sexual que aflige poucas mulheres em termos percentuais, se o compararmos às outras disfunções sexuais femininas. Nota-se que, na medida em que a mulher amadurece e se decide a estabelecer um relacionamento afectivo duradouro, recorre à busca de tratamento, pelo desejo de ter filhos.

Os estudos feitos sobre o vaginismo são unânimes em considerar a educação religiosa rígida, os valores sexuais repressivos, sentimentos de culpa, a falta de confiança; e o medo da dor são os proponentes psicológicos originários do problema, que podem estar associados ao trauma emocional, desinformação, ignorância, abuso sexual e ao perfil do companheiro sexual.

As mulheres que vivem este problema enfrentam duas barreiras na sociedade angolana; primeiro, a falta de profissionais capazes e qualificados que as ajudem de modo eficaz; a segunda barreira é o contexto sócio-cultural relacionado à feminilidade.

Consideramos a sexualidade uma parte integral da personalidade do indivíduo, e o seu desenvolvimento total depende da satisfação de necessidades básicas, tais como o desejo de contacto, a intimidade, a expressão emocional, o prazer, o carinho e o amor.     

 

Saiba mais em:

EICHER, W. Sexualidad normal y patológica en la mujer., Ed. Morata, Madrid, 1978.

RODRIGUES., O.M & PROTTI, F. Vaginismo! Quien calla, no siempre otorga! Ed. Biblioteca 24x7, São Paulo, 2008

Aprimorando a saúde sexual. Manual de técnicas de terapia sexual. Org. Instituto Paulista de Sexualidade, Ed. Summus, São Paulo, 2001.