Um trauma psicológico deriva de uma experiência dolorosa que, por não se suportar ou por se encarar com dificuldade, decide esconder-se à memória.

Há, no entanto, um legado que, sempre que pode, não desaproveita a oportunidade de se manifestar. E aquilo que a mente procura esconder é sistematicamente narrado pelos comportamentos, pelas verbalizações, pela postura e, várias vezes, pela patologia de órgãos e sistemas do corpo humano.

Nos contextos mais nocivos para a sanidade psíquica e somática, importa tornar consciente essa faixa invisível com a qual continuadamente se esbarra. Nesse âmbito, existem condições basilares que contribuem para facilitar uma atmosfera propícia ao trabalho monitorizado e sistemático de desenterro dos monstros adormecidos: Uma atmosfera de confiança e tranquilidade; O relaxamento, psíquico e fisiológico; A recordação das vivências e a reconstrução de significados; A expurga ou catarse; A aceitação; A redefinição de valores e atitudes.

As memórias, incluindo as traumáticas, são subjectivos processos de construção baseados em experiências. Isso explica a razão pela qual, perante um mesmo episódio ou ocorrência, duas ou mais pessoas podem ter recordações diferentes, com dissemelhantes graus de emocionalidade e discrepantes níveis de detalhe lembrado.

Dentro da mesma linha de raciocínio, também se torna claro o porquê de evocarmos de forma diferenciada um determinado evento, à medida que a nossa vida evolui. Por exemplo, um acontecimento da juventude em que parecia que o mundo desabava, na idade adulta pode entender-se como ridículo ou sem importância.

Variados estudos têm demonstrado que os traumas psicológicos não falados ou não partilhados, estão relacionados com a maior incidência de doenças. Já o acto de se falar sobre as dolorosas reminiscências, com interlocutores adequados, diminui a tensão emocional e auxilia a reconstruir a estrutura da personalidade. Ajuda a ter mais tranquilidade para novos projectos e a pacificar as espinhosas experiências vividas.

Quem não se recorda de se sentir aliviado depois de abrir o jogo, ou fazer alguma revelação mais íntima, num contexto de segurança e aceitação? É precisamente esse alívio que liberta o indivíduo e o faz partir para outra. Uma nova vida. Um recomeço com arejadas perspectivas.