Lançar os filhos adolescentes no mundo é um grande desafio. Os pais têm que se desprender do filho criança e acreditar que ele já tem condições de enfrentar a vida. Mas como fazer tudo isto, vendo que o jovem é inexperiente, imaturo, pouco vivido?

A família é um grupo muito especial. É nela que construímos o nosso bem mais precioso: nossos vínculos de afeto entre pais, filhos e irmãos. Todos temos uma necessidade especial, que é a necessidade de pertencer. Precisamos ter algum laço afetivo com alguém, seja este alguém um companheiro ou uma companheira, um filho, um amigo, um parente; seja com quem for, precisamos ter um vínculo que nos faça pertencer.

A família com filhos adolescentes lida com grandes transformações, choques, mudanças esperadas e inesperadas. A adolescência é uma fase de descobertas, tanto para os pais quanto para os filhos. Os pais deparam com a busca de liberdade pelos filhos, e com os medos desta liberdade. Os filhos forçam a passagem para uma vida mais livre e os pais os seguram, com receio de soltar demais, ou soltam, com receio de prender demais.

Qual é a maior tarefa desta fase para a família?

 A emancipação dos filhos. Este é o grande tema da adolescência. Lidar com a juventude, a impulsividade dos filhos, com a busca do espaço e da liberdade deles. A maior tarefa da família com filhos adolescentes é vivenciar o pertencimento, ao mesmo tempo em que libera o filho para crescer, e mais tarde partir.

Como as famílias lidam com o crescimento dos filhos?

Algumas famílias lidam com o crescimento como uma perda.

Sem saber, tentam deter o desenvolvimento dos filhos, querendo monitorar todos os passos dele. Se o filho está em casa, é levado e buscado de todos os lugares que frequenta, e não é exposto a situações que tenham que ser resolvidas por ele mesmo. Os pais querem acompanhar cada passo dos filhos, pois temem o risco do crescimento. Resolvem os problemas do jovem por ele, na tentativa de oferecer a ele o melhor.

Se o filho está fora, os pais também querem acompanhar cada passo seu. Escrevem bastante, ligam, solicitam prestação de contas, querem saber dos amigos, das rotinas de casa, de tudo que se refere à vida do filho. O filho muda até de país, mas não muda de casa!

Alguns pais encaram o crescimento como uma libertação.

Estes pais fazem o contrário dos primeiros, e deixam o jovem decidir tudo sozinho.

Liberam o filho para assumir sua vida como se ele já fosse adulto. Alguns pais não percebem que a adolescência é diferente da vida adulta. A adolescência é uma passagem para a vida adulta, que tem que ser acompanhada.

O jovem precisa de referências muito claras do que é ou não permitido pela família. Ele precisa de limites, que podem ser negociados com seus pais, mas ele não pode decidir tudo sozinho. Algumas regras devem ser discutidas e acordadas. Mas os pais têm que praticar de modo muito consciente a consequência do não cumprimento destas regras.

Se o filho tem uma mesada, por exemplo, a regra quanto ao uso da mesada tem que ser clara e combinada com ele. O valor da mesada é definido para cobrir despesas de vestuário? Se sim, ele tem que se acomodar dentro de sua mesada. E se ele extrapolar? Fica devendo, fica sem mesada, todo mês tem adiantamento? O que fazer quando o combinado não é cumprido? Renegociar? Fazer viver as consequências?

Alguns pais encaram o crescimento dos filhos como um ganho.

Estes pais estimulam o crescimento responsável dos filhos, de modo que estes vivenciem a consequência do que fazem. Não os acompanham em tudo, não cobram permanentemente sua presença, liberam-nos para viver, se divertir, mas cobram um comportamento consciente e responsável.

Os filhos crescem com um voto de confiança dos pais, e vão desenvolvendo autoconfiança e responsabilidade. A segurança pessoal nasce da possibilidade de experimentar. Quando o jovem experiencia sua vida, ele pode adquirir suas convicções e não permite que os outros façam sua cabeça. Se os pais fizerem por ele, ele deixa de pensar, não aprende a refletir sobre seus atos e permanece imaturo.

Para que os pais ajudem seus filhos a crescer, é preciso que estabeleçam os parâmetros básicos que esperam do filho, e que permitam que o jovem coloque em prática estes parâmetros. As decisões terão que ser tomadas pelo jovem. Ele é quem estará à frente da própria experiência, e as consequências serão vividas por ele. É assim que o jovem terá uma experiência real de emancipação.

Não dá para agora querer ensinar tudo aquilo que o jovem ainda não aprendeu. Ele terá que se virar usando os critérios dele, e assim aprenderá. Só a própria experiência permite que uma pessoa cresça.

Educamos muito mais por atitudes e comportamentos do que por palavras. Quando os jovens têm autonomia para decidir certos aspectos de sua vida, eles vão para o mundo carregando uma autoconfiança que os habilitará a tomar várias outras decisões na vida. A autonomia é como uma chave mestra: se o jovem a conquista, ele tem liberdade de escolha e responsabilidade pelas consequências, e abrirá todas as portas com as quais se deparar. Se a família apoiar o filho em sua emancipação, ele terá autoestima e capacidade de resolver problemas, que á a chave para enfrentar a vida. A educação para a autonomia é, portanto, o maior presente que os pais podem dar aos seus filhos.