Antes de qualquer consideração, é importante definir o termo psicoterapia. Em sentido psiquiátrico, o termo psicoterapia designa um tratamento que visa aliviar ou resolver os desajustamentos mentais, especialmente os que originam de causas particularmente psíquicas.

A psicoterapia subentende um efeito psíquico sobre o psiquismo do indivíduo e portanto o estabelecimento de uma relação humana, de pessoa a pessoa, na qual o psicoterapeuta utiliza apenas o seu próprio psiquismo e ponto de vista para influir a self do paciente. Neste sentido, o objectivo elementar é a influência, encontrar caminhos de resolução e liberação aos conflitos, desejos, medos e tendências ambivalentes.

Muitos problemas apresentados ao longo das sessões de psicoterapia, neste caso refiro-me ao contexto angolano, são característicos da época em que vivemos, partindo de um específico tecido social em desequilíbrio e reestruturação mental. Muitos dos pacientes que procuram os nossos serviços têm uma ideia desfasada sobre a essência do trabalho realizado pelo psicólogo. Encontram para o consultório em busca de “varinha mágica” para os seus problemas, medos, angústias e ou dúvidas, e mais tocante ainda que os mesmos sejam resolvidos numa única sessão. Essa crença quase mágica do poder de cura do psicólogo contraste obviamente com o princípio elementar da realidade: a terapia é um processo de crescimento pessoal, de desenvolvimento de potencialidades, de aprofundamento do próprio conhecer-se, que leva tempo em qualquer perspectiva.     

Os problemas que levam a procurar um psicoterapeuta são de natureza comportamental, de desajustamento familiar e social, estados neuróticos, angústias, medo, problemas sexuais e escolares.

Na psicoterapia, torna-se necessário que haja uma atitude de apoio do médico ao paciente, que deve confiar no médico e tornar-se suficientemente desembaraçado para poder expor os seus problemas, aprendendo a analisá-los e compreendê-los. O médico, psicólogo ou outro profissional de saúde mental, deve mostrar interesse, sinceridade e atenção pelo paciente, não sendo, de forma nenhuma, juiz ou critico das atitudes analisadas. Inicialmente pode-se observar uma atitude de desconfiança e resistência do paciente em relação ao trabalho desenvolvido pelo terapeuta, porém, vencida essa primeira fase do tratamento, estabelece-se um clima de confiança e torna-se possível ao paciente aceitar a ajuda terapêutica.

No trabalho de interpretação, o terapeuta deve colocar-se inteiramente do lado do paciente, de maneira que ele se convença de que simpatiza e concorda com os seus pontos de vista. A confiança despertada por uma atitude dessas, permite uma comunhão espiritual sincera e a possibilidade de agir sobre o estado mental de forma inteiramente aceitável para o doente. Ao mesmo tempo que eleva, no paciente, o conceito de si mesmo, sua autoconfiança, faz com que procure a aprovação, o aplauso e a satisfação. Devemos ter em mente que um gesto, uma frase, uma atitude do terapeuta (iatrogênicos) podem provocar alterações completas no paciente, modificando os seus conceitos, pontos de vista e valores humanos.   

A psicoterapia é pois, entenda-se em simples palavras, uma relação de ajuda baseada em conhecimentos científicos e específicos. Qualquer terapeuta trabalha sobre um referencial teórico que é suporte para a sua intervenção na situação psicoterapêutica: psicanálise, cognitivo-comportamental, fenomenológico, psicodrama, existencial, entre outras.  

No entanto, apesar da sua eficácia, a psicoterapia não é indicada em todos os transtornos de personalidade e em determinado tipo de psicoses. Em relação a duração podem ser breves (Orientação, consulta terapêutica de 1 a 8 encontros) focalizadas (se centram num problema especifico, por exemplo: afectivo ou laboral), ou de duração não determinada (abarcam todas as problemáticas). Por último, em algumas patologias é fundamental conciliar a medicação ao apoio e orientação psicológica.

Como referi no meu livro “Psicólogos, porquê e para quê?” na psicoterapia sexual devemos inicialmente descartar qualquer problema orgânico no paciente, caso contrário, colocamos em causa o esforço terapêutico. No entanto existem outras abordagens na psicoterapia: infantil, analítica, de grupo, individual entre outras.

Finalmente corrobora da opinião Ieda Porchat que afirma “um terapeuta precisa viver sem se proteger excessivamente dos riscos que são inerentes à vida”. Outrossim, consiste no facto do próprio terapeuta conhecer os seus limites e possibilidades de actuação; cultivar a sua cultura e diversificar os interesses pessoais bem como sensibilidade e criatividade.

 

Referências bibliográficas:

ANGERAMI-CAMON, Valdemar et alii, Psicologia Hospitalar: teoria e prática, Pioneira Thompson Editora, S.P, 2003.

DORON, R. & PAROT, F., Dicionário de psicologia, 1ª ed., Climepsi Editores, Lisboa, Outubro de 2001

PESTANA, E. e PASCOA, A. Dicionário Breve de Psicologia, 2ª edição, Lisboa, Presença, Fevereiro, 2002

MIELNIK, I. Dicionário de termos psiquiátricos, 1ª edição, São Paulo, Roca, 1987.

CORDIOLI, Aristides. Psicoterapias. Abordagens atuais, 3ª edição, Porto Alegre, 2002.