No primeiro artigo abordamos as diferenças entre as culturas francesa e americana relatadas por uma jornalista (Americana), que após o casamento foi morar com o marido na França. Algum tempo depois, engravida de sua primeira filha, a Bean. E então iniciam-se uma série de comparações com as diferenças culturais, relacionadas com o sono e alimentação das crianças. Com alguns esclarecimentos, formas de lidar e suas principais consequências.

Em forma de complemento, este segundo artigo vem diretamente pontuar sobre os ideais dos pais e a maturidade com que lidam na criação dos filhos. E com base nesse pensamento, iniciamos com uma dúvida muito frequente das famílias para Piaget (educador mais influente desde metade do século XX):

Como é possível acelerar o estágio de desenvolvimento das crianças? E como resposta temos: “O ritmo no qual os nossos filhos progridem, dependem das escolhas dos pais e como é a dedicação a elas ativamente”.

Atualmente percebemos que a forma de dedicação dos pais muitas vezes acaba sendo sufocante e desnecessária em alguns aspectos, deixando um curto período de tempo para que as crianças realmente se dediquem ao aprendizado: deveres e trabalhos escolares, assim como o período para dedicar-se aos estudos diariamente. E estudar. Não o limitando somente no sentido de apostilas e cadernos, mas também na leitura de histórias, assistir programas e filmes educativos, ouvir música, assim como ter no mínimo meia hora do dia ou da noite para sentar e brincar com jogos e brinquedos (orientação primária aos pais no início do tratamento psicoterápico com crianças, por exemplo).

Quanto à referência sobre traços sufocantes e desnecessários, se deve a muitas atividades extras em que os filhos são inseridos (sendo os americanos um grande exemplo disso) muitas vezes acreditando ser a única forma de estimular as crianças ou compensar a ausência (para os pais que trabalham fora o dia todo). Porém, fica a grande questão: “Onde os filhos encontrarão momentos para a dedicação citadas acima, se não lhes é permitido tempo suficiente?

Além do mais, essa rotina também sobrecarrega os pais e minimiza o tempo que teriam juntos para dedicar-se aos estímulos mais importantes da vida que são o auxílio no aprendizado escolar, o respeito, a educação, os valores, o acolhimento e o carinho.

E isso não quer dizer que seja errado matricular os filhos em aulas extras, pois elas são muito válidas. Porém, com limites e não praticamente todos os dias da semana. Em contraste com os franceses, que sendo mais práticos, colocam a independência e o espaço para a criança com um ponto chave. Enquanto os pais americanos veem os filhos praticamente como um projeto, os franceses buscam conteúdos diferenciados: “Eles buscam desenvolver os talentos e as habilidades das crianças por uma série de atividades organizadas, por um processo intensivo de argumentação (estímulo da expressividade e vocabulário) e supervisão das experiências deles na escola”.

Outro ponto existente e alarmante é a diferença discrepante entre a cultura americana e a francesa em relação às festas de aniversários infantis. Enquanto as mães americanas e britânicas esperam que você se sociabilize, com frequência e durante várias horas (o que pode não ser tão agradável e cansativo), em França as crianças de três anos participam de festas em que só elas ficam, com base no pensamento de que os filhos podem ficar bem sem eles ali o tempo todo (com a supervisão de outros adultos e recreadores) e com isso é permitido ter um tempo para respirar ou resolver algo importante.

E, mais uma vez, percebemos que é possível permitir menos sufocamento nas relações entre pais e filhos, respeitando a individualidade de cada um, sendo uma forma de estímulo e independência para ambos.

Para o início dessas intervenções se faz necessária a compreensão da máxima em que “Os filhos são criados para terem a própria vida, suas construções, independência... Enfim, suas escolhas! E não para ficarem ao lado dos pais e controlados por eles por toda a sua vida”. Sendo assim, um processo leve, substituindo o controle pela troca prazerosa e saudável!

Só assim conseguiremos quebrar algumas amarras, evitando níveis elevados de frustração, fracassos e tendências a transtornos psicológicos ou doenças psicossomáticas por não conseguirem lidar com as próprias questões ou não terem conseguido chegar ao bom êxito pela falta de liberdade, pela impossibilidade de independência e o pelo enfrentamento da própria psique, sejam os pais ou os filhos, que vale sempre a pena lembrar: A infância é uma fase decisiva e transitória...

 

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