A Psicologia Freudiana se divide, resumidamente, entre os estudos da mente consciente e da inconsciente.  A Psicologia Junguiana segue este mesmo modelo, estendendo, entretanto a mente inconsciente individual a um inconsciente coletivo. Freud abordou um formato de psique, com complexos, dentre muitos, o ego. Jung, abordou os arquétipos, que são fenômenos intrínsecos em cada ser vivo, como, por exemplo, padrões de comportamento, que se manifestam de forma coletiva.

No ponto mais profundo de nossa mente inconsciente, encontra-se o Self, que é a totalidade do que somos; já em nossa mente consciente, em seu ponto mais raso, encontra-se o ego, que é apenas uma pequena parte de nossa psique.

No início da vida há um eixo mãe-criança, no qual a mãe é o self do neném. Isto ocorre desde a relação intrauterina até as fases iniciais da infância. Depois de um tempo, há um primeiro rompimento que os separa psiquicamente. Daí, começa a florescer o ego.

De certa forma, nascemos em um planeta que nos impõe um ego coletivo, já consolidado, o que, naturalmente, promove o crescimento de cada novo ego individual. Para Freud, o ego nasce influenciado pelo Id, que consiste nos nossos instintos básicos. Para Jung, tais padrões básicos são padrões arquetípicos. Já o desenvolvimento do ego, através do contato com o mundo externo, Freud chamara de superego. Quanto mais potencializado o nosso superego, menos percepção temos de nossos conteúdos inconscientes.

Da juventude à fase adulta nos emaranhamos, cada vez mais, com o mundo externo. Desta forma, nosso ego se consolida de forma inconsciente. Na medida que seu complexo avança, não percebemos sua esfera em nossa mente. Neste contexto, o problema não está apenas no fato de não acessarmos com facilidade à nossa mente inconsciente mas sim de não termos consciência plena de nosso egocentrismo. A inconsciência sobre o ego é uma de nossas maiores inconsciências. Na prática, não sabemos sua dimensão: onde começa e onde termina; o que é egóico e o que não é. Nos confortamos pelo argumento sobre a dificuldade de se discernir o que é formado pela nossa mente consciente e o que é formado pela inconsciente; o que provém do ego e o que provém do self; o que é um complexo e o que é um arquétipo; e, ainda, o quanto o ego pode influenciar o self e o quanto o self pode influenciar o ego. Reconhecemos esta etiologia psíquica e, sobretudo, a dificuldade de se interpretar conteúdos inconscientes. Por estas razões, ignoramos uma auto-análise mais profunda.

Sobre o que tange nossa mente Inconsciente há algumas manifestações, tais como: através dos sonhos, através de nossa intuição, e de nossa linguagem corporal.

Sobre o que tange nossa mente Consciente, não podemos apenas pejorar nosso ego, como um vilão. Há uma função primordial que é a de nos situar como indivíduos; é a nossa identidade; nossa parte, que nos diferencia dos demais no mundo.

O problema consiste no excesso de ego - que Freud chamara de Neurose - bem como na falta de consciência sobre nossa mente inconsciente, na qual, segundo Jung, se encontra o nosso self. Embora o ego seja muito presente e o self muito ausente, nas relações humanas conseguimos, de um modo geral, nos alinhar entre essas duas esferas psíquicas. Este alinhamento é o eixo ego-self.

Na maturidade começamos a nos individuar e, assim, transcender o self.  Há uma individualização do ego quando somos mais jovens, e uma individuação ao self quando somos mais velhos. No entanto, podemos individuar nossa mente no decorrer de nossas vidas, independentemente de nossa idade. O processo de individuação também é um eixo ego-self.  Trata-se de uma evacuação de nossas máscaras, buscando-se a si mesmo.

Transpassamos pela vida nos equilibrando, inconscientemente, entre o nosso eu externo e o interno; entre a nossa aparência e a nossa essência; entre o nosso ego e o nosso self; entre o nosso egoísmo e a nossa individuação. Este equilíbrio entre o mundo externo e o interno é o eixo ego-self. Trata-se de um bom senso entre o que somos para nós, dentro de nossa mente, e o que somos para os outros, fora de nossa mente. Por analogia, é o eixo entre matéria e psique.

Tal harmonia também pode ser analisada na biologia humana, através do eixo corpo-mente ou, da mesma forma, na física quântica, pelo estado dual de um elétron (partícula-onda) pois,  o que forma um elétron é, em parte, a partícula, e em outra parte, a onda. O que forma um ser humano é, em parte, o corpo, e em outra parte, a mente.

Portanto, em diferentes esferas: na Física, aborda-se o fenômeno partícula-onda; na Biologia, o equilíbrio corpo-mente; na, Psicologia Junguiana, o eixo Ego-Self. 

 

Referências bibliográficas:

JUNG, CARL G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Vozes, 2002.

JUNG, CARL G. Energia Psíquica, Vozes, 2002.

Newmann, Eric, A História da Origem da Consciência, Cultrix, 1995

CAPRA, FRITJOF, O Tao da Física, Presença, Lisboa, 1989.

FREUD, SIGMUND, O Ego e o Id, , Imago, 2006.