1. INTRODUÇÃO

Ainda existem muitos estigmas com relação ao câncer, relacionando-o com a morte, vendo-o como um castigo ou o adiamento dos planos do futuro, entre outras comparações. Muitas vezes, essas crenças errôneas fazem com que os pacientes que suspeitam ter um câncer fiquem postergando a confirmação de um diagnóstico fidedigno ou, na esperança da cura, busquem avaliações de vários médicos, obtendo diversas devolutivas, manipulando-se a si próprios, querendo encontrar uma resposta para minimizar a gravidade da doença ou eliminar a existência de um possível tumor, estendendo, como consequência, o tempo para iniciar o tratamento, conduzindo ao agravamento da doença ou até mesmo ao estágio de metástase.

O psicólogo começa a desenvolver o seu trabalho de acompanhamento a partir do momento em que o diagnóstico de câncer é confirmado. Receber esse diagnóstico não é fácil, até porque o paciente já se encontra vulnerável desde o momento em que a possibilidade da existência de um câncer era apenas uma desconfiança. O psicólogo faz o acolhimento durante a pré-consulta, momento da chegada do paciente ao Hospital Oncológico. Posteriormente, após a confirmação do diagnóstico, realiza a “escuta ativa”, despertando a segurança e o apoio que o paciente encontrará no profissional sempre que precisar. O acolhimento deve ser realizado de modo humanizado para que o paciente sinta-se totalmente amparado e consiga obter novamente o equilíbrio. Durante o processo do tratamento oncológico é normal que comecem a despertar no paciente diversas dúvidas e questionamentos, devendo o psicólogo ter conhecimento sobre o caso em questão, para poder esclarecer o que está acontecendo; qual o tratamento a que será submetido; os resultados esperados; os devidos efeitos colaterais e os desafios que terá que enfrentar. O ato de esclarecer as dúvidas faz com que os pacientes “abram um leque” com várias possibilidades de enfrentamento, sendo necessário o acompanhamento do psicólogo para que esses mecanismos não se tornem em obstáculos durante o tratamento. Alguns tratamentos tornam-se invasivos para os pacientes, em virtude de não terem conhecimento de como é o procedimento que será submetido. Esse conhecimento é construído dia após dia, no período do tratamento oncológico. Durante o tratamento, costumam-se aflorar os sentimentos e as emoções que causam à angústia, o medo e a aflição diante das dificuldades encontradas, principalmente quando surgem os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, onde os pacientes muitas vezes não sabem como lidar com a situação. Pode ocorrer também o pensamento sobre a “diferença”, em relação ao próprio corpo físico. Ao perceberem que ocorreram algumas alterações em seu corpo, alguns pacientes sentem-se constrangidos ao se compararem com outras pessoas e com o meio social com que convivem. O tratamento oncológico pode ocorrer por meio da quimioterapia, radioterapia, cirurgias e outros processos. Hoje, a cirurgia é considerada um meio de tratamento muito eficaz para a cura do câncer. Contudo, muitas vezes o paciente precisa de um acompanhamento psicológico mais intenso pelo motivo dos abalos psicológicos, como no caso do câncer de mama, onde é comum a retirada da mama, com impacto na sua feminilidade, a qual é ameaçada pela ideia de “mutilação”, algo difícil de ser elaborado pela paciente que, de imediato, não saberá lidar com esse fato, motivo pelo qual precisará de um intenso acompanhamento psicológico.

 

2. O PSICÓLOGO COMO INTERMEDIADOR ENTRE O PROCESSO DE TRATAMENTO ONCOLÓGICO E O PACIENTE COM CÂNCER.

Durante o processo do tratamento oncológico, o psicólogo especialista em psico-oncologia tem como objetivo oferecer suporte psicológico ao paciente, para que o mesmo consiga elaborar o diagnóstico do câncer e buscar forças para não desanimar e se entregar à doença. É importante que o paciente consiga obter um equilíbrio psicológico e emocional diante da situação em que se encontra. O profissional de psicologia busca trabalhar a superação do paciente desde o momento do diagnóstico, sendo este um dos momentos mais difíceis em relação à aceitação e o desequilíbrio emocional, como também outros fatores como as más notícias que vão surgindo durante o processo do tratamento, que levam o mesmo à desesperança; as mudanças dos procedimentos do tratamento que, dependendo do tumor, de sua gravidade e local, obrigam a algumas alterações, causando no paciente o esgotamento físico; as expectativas que os pacientes começam a criar diante de alguns resultados obtidos durante o tratamento, que muitas vezes são frustradas com o surgimento de alguns resultados negativos; os resultados que são ansiosamente esperados pelos pacientes, sendo eles negativos ou positivos, e os processos terminais, quando o paciente já se encontra no quadro de metástase. Na fase terminal, o psicólogo desenvolve os cuidados paliativos, o ato de cuidar e amparar; é necessário esquecer-se da doença e olhar somente para o paciente como um indivíduo, um ser humano, oferecendo uma qualidade de vida e uma morte tranquila. Entender as suas angústias e as suas decisões, pois, muitas vezes o paciente quer viver a fase terminal em sua própria casa com a sua família. É preciso deixar de lado a antiga visão do modelo biomédico - no qual o paciente era visto apenas como uma máquina - e começarmos a entender que, por trás de todos aqueles aparelhos hospitalares, existe um indivíduo que ainda pode escolher e decidir por si.

 

3. O ADOECIMENTO DOS FAMILIARES E OS DESAFIOS DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR.

Juntamente com os pacientes oncológicos, os familiares começam a adoecer aos poucos, e o desequilíbrio psicológico vai adquirindo espaço entre os familiares, causando os esgotamentos, os temores e as preocupações diante de um familiar com o câncer. O suporte psicológico também deve ser estendido aos membros das famílias dos pacientes que se encontram em tratamento oncológico, pois estes também necessitam de respostas e esclarecimentos sobre o que está acontecendo com o seu familiar. Sentem-se muitas vezes aflitos e temerosos, com medo do que poderá acontecer, ainda mais quando se trata de um paciente em fase terminal, onde toda a família é desestruturada pelo fato da possível perda de alguém muito querido, na qual os familiares começam a viver o processo de luto antecipatório e, na maioria das vezes, não sabem como lidar com a morte e com a ideia de ter que viver com a ausência do seu familiar, ainda mais quando este é um pai de família que sempre foi o responsável por tudo. Nesse caso ocorre uma desorganização total dos familiares que terão que assumir todos os compromissos dos quais, até então, não tinham conhecimento do quel envolviam, sendo necessário se readaptar a um novo estilo de vida; ou no caso de pacientes terminais com filhos pequenos, a dor é uma via de mão dupla, tanto para os filhos pela perda da mãe/pai, como para o/a paciente por ter que deixar seus filhos com seus familiares e entre outros casos. O psicólogo inserido na equipe multidisciplinar torna-se, por inúmeras vezes, uma ponte entre os pacientes e a equipe do tratamento oncológico; o psicólogo precisa analisar os desafios enfrentados pelos profissionais da equipe. Talvez algum membro apresente resistência ao lidar com o paciente terminal pelo fato de ter que encarar a realidade da morte. Os tabus sobre o câncer podem estar enraizados dentro da própria equipe. Os pacientes oncológicos necessitam de uma assistência que os resgatem como indivíduos que precisam de apoio, segurança e amparo e cujos valores sejam respeitados, proporcionando uma qualidade de vida para os mesmos e seus familiares e, no caso dos pacientes em fase terminal, oferecer uma morte tranquila e digna; as bases fundamentais dos cuidados paliativos.

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve por base o interesse da importância do psicólogo inserido na área da oncologia, bem como do papel desenvolvido com os pacientes com câncer, sendo estes em fase adulta, em tratamento oncológico, os seus familiares ou cuidadores e toda a equipe multidisciplinar. Por meio deste artigo e de tantos outros já publicados, podemos compreender a grande importância do psicólogo inserido na área da oncologia, tratando-se de um trabalho que exige do profissional de psicologia muito acolhimento, empatia, dedicação, compreensão e a escuta ativa. O psicólogo é aquele profissional que, diante do sofrimento do paciente oncológico, vai desenvolver e criar meios para minimizar todas as angústias, sofrimentos, desesperanças, desequilíbrios psicológicos e emocionais que todos os tratamentos oncológicos causam tanto na vida dos pacientes como na vida de seus familiares. É necessário que o psicólogo desenvolva um olhar diferenciado, que tente buscar a essência do paciente e não se restrinja aos reflexos da doença e às consequências dos efeitos colaterais no corpo do individuo; mas sim que o acolha como um todo, ou seja, realize um tratamento mais humanizado, respeitando os seus valores, seus desejos e sua dignidade.