O que é afinal o processo de vinculação? Como se estabelece? É importante para o desenvolvimento do indivíduo? A teoria da vinculação, veio confirmar a importância das relações humanas e as suas consequências no desenvolvimento individual. A teoria mostra que desde o nascimento, as crianças procuram a relação com o outro no estabelecimento de ligação, com a figura de vinculação. Porque é tão importante a relação que estabelecemos com os nossos pais, ou cuidadores? Será que vai determinar o que somos e o que vamos ser?

De acordo com Bowlby, a vinculação é uma relação emocional profunda e duradoura que liga uma pessoa a outra no tempo e no espaço. Este autor defende que os seres humanos nascem com um sistema psicobiológico, ou seja, sistema comportamental de vinculação que os motiva a procurar proximidade das figuras de vinculação (Bowlby, 1956).

John Bowlby, foi um psiquiatra e investigador britânico, do século XX, um dos primeiros a perceber a importância das relações objetais que estabelecemos com os nossos pais, ou cuidadores. Bowlby estudou o efeito do abandono e da negligência, em crianças hospitalizadas, e percebeu que a relação com os adultos é primordial para a sua sobrevivência e desenvolvimento. Os bebés recém-nascidos, eram privados do contato com os seus pais ou cuidadores, e em comparação com bebés que mantinham o contato e o carinho dos seus pais, estes recuperavam mais lentamente de doenças, verificando terem problemas no desenvolvimento.

John Bowlby, descobriu um aspeto muito importante para a compreensão dos seres humanos. Quando nascemos somos dependentes dos adultos, não só para satisfazer as nossas necessidades básicas, como comer e beber, mas também porque precisamos de afetos e atenção. Sem esses requisitos não nos desenvolvemos adequadamente, e posteriormente teremos muitas dificuldades nos relacionamentos interpessoais.

Segundo Mary Ainsworth, uma psicóloga canadiana-americana, defendeu que as crianças e os seus cuidadores podem estabelecer vários tipos de relações de vinculação, esta descoberta foi feita através de uma experiência chamada “A Situação Estranha”, que ainda hoje é utilizada por psicólogos em todo o mundo, para compreender os comportamentos de vinculação de cada criança.

Ainsworth, defendeu que as relações de vinculação podem seguir três padrões, nomeadamente: a vinculação segura, a vinculação insegura-ambivalente, a vinculação insegura-evitante. Poderá também existir a vinculação desorganizada, que é mais notória principalmente em crianças de pais com perturbações psicopatológicas graves, como por exemplo: a esquizofrenia. Uma criança com um padrão de vinculação insegura-ambivalente, estabelece uma relação ambivalente com os seus cuidadores, tanto manifesta reciprocidade na relação como alguma imprevisibilidade nas atitudes, devido aos pais não estarem presentes quando necessita e afasta-os por a terem abandonado anteriormente.

Quando uma criança manifesta um padrão de vinculação insegura-evitante, normalmente tem cuidadores negligentes, que não lhe deram o apoio e a atenção que necessitava, desenvolvendo um afastamento emocional e físico. Uma criança com um padrão de vinculação seguro, sente que os seus cuidadores/progenitores estão disponíveis nos cuidados básicos para o seu desenvolvimento, ou seja, é transmitida uma base contentora ligada às primeiras relações objetais.

Importa perceber que a relação que estabelecemos com os nossos pais ou cuidadores, é muito definidora das relações que iremos estabelecer na idade adulta, uma vez que é desde criança que aprendemos a observar o mundo, criando padrões de comportamento e de expetativas em relação aos outros. Deste modo, quando chegamos à idade adulta, as relações de vinculação refletem-se nos relacionamentos que estabelecemos com o outro, principalmente os amorosos.

Uma criança que tenha estabelecido uma vinculação segura, tenderá a crescer e a criar relações positivas, a ter facilidade nos afetos e a encontrar um equilíbrio harmonioso entre intimidade e independência. Por sua vez, as crianças que estabelecem vinculações mais inseguras, poderão encontrar mais dificuldades no relacionamento com os outros.

Na adultez poderão tornar-se indivíduos mais ansiosos e inseguros nos afetos, estabelecendo relações de dependência e pondo de parte a necessidade do seu espaço pessoal. Particularmente são indivíduos mais impulsivos, preocupados, criando laços desestruturados com o outro.

Por sua vez, podem tornar-se indivíduos mais desligados e muito independentes, que evitam o estabelecimento de relações amorosas e de algum compromisso. Para estes indivíduos, os relacionamentos amorosos não são importantes, assumindo um papel secundário, com alguma inexistência nos afetos.

Podemos afirmar, que nas teorias de vinculação as crianças de famílias desestruturadas, desenvolvem comportamentos de vinculação não adaptativos, os modelos internos tendem a ser desorganizados. Quando o sistema de comportamento de vinculação é ativado, essas crianças vão estar em conflito, a figura de vinculação, que deveria ser segura e protetora, surge como perigosa, indisponível e desprotegida.

A família é considerada o suporte da criança, para o desenvolvimento das qualidades instrumentais, como a perceção, a motricidade e a linguagem. Cada criança está condicionada não só pelo património genético, como também pelas circunstâncias que rodearam a gestação, como o parto, a sua vida extrauterina, certos fatores inatos e as variações do meio (Malho, 2006).

A interação da relação mãe-criança, é hoje em dia encarada de outra forma, o pai assume por vezes tarefas que outrora eram da mãe, como por exemplo os cuidados prestados ao bebé. Devido à exigência profissional da mulher, e o pouco tempo disponível para a família, origina por vezes, a que os equilíbrios alterem-se, assumindo outras funções e adquirindo poderes.

Cada um de nós, poderá preencher mais ou menos características de um tipo de vinculação, não quer isto dizer, que em adultos preenchamos um dos três modelos de comportamento, apenas nos identificamos mais com um tipo de vinculação a outro. Seria interessante pensarmos, se somos ou não todos diferentes nas relações que estabelecemos com o outro?! Será que já pensou que podemos ter perceções diferentes nas relações adultas? Que os nossos relacionamentos interpessoais foram influenciados pelas relações de vinculação que estabelecemos em criança? Seria interessante refletir e termos consciência da pessoa que somos.

Para concluir, seria importante haver no sistema familiar, sentimentos de apoio e cooperação, para o desenvolvimento salutar da criança. Hoje em dia, tem-se vindo a verificar que a família perdeu o “monopólio” da transmissão de valores, da informação de atitudes, na educação, dando origem a outros agentes na socialização como a escola.

Freud já dizia que o adulto que somos reflete-se na criança que fomos!

 

Referências Bibliográficas

Malho, M. (2006). Criança, Família, Escola, Que Relação? Boletim do IAC: Lisboa.

Bowlby, J. (1956). The growth of independence in the young child. Royal Society of Health Journal, 76, 587-591.