Hoje em dia sabemos que a infância é um período de desenvolvimento marcado por mudanças bio-psico-sociológicas muito importantes, onde as interacções sociais vão ganhando cada vez mais importância. Neste sentido, quando uma criança experiencia uma ou mais interacções sociais negativas, o seu desenvolvimento poderá estar negativamente condicionado a longo prazo.

A exposição a uma interacção social recorrentemente negativa pode ser tão grave como isto: dificuldades de auto-regulação emocional (p.e. fraca modelação afectiva, baixa auto-percepção, baixa auto-estima, baixa auto-conceito); alteração do estado de consciência (p.e. amnésia, híper-amnésia, desrealização, despersonalização, flashbacks, pesadelos com eventos específicos, terrores nocturnos); problemas escolares (p.e. dificuldades na regulação da atenção, desorientação espacial e temporal, perturbação do desenvolvimento psicomotor, dificuldades de comunicação, dificuldades de aquisição de conhecimento), dificuldades no controlo de impulsos (p.e. agressividade contra si e contra os outros); falta de confiança e de capacidade em prever o comportamento dos outros (p.e. desconfiança, suspeição, problemas de intimidade); e consequente isolamento social. Estas crianças podem ainda apresentar elevados níveis de ansiedade, havendo uma alteração dos padrões normativos em termos neuro químicos e, consequentemente uma modificação no que diz respeito às cognições, afectos e comportamentos.

O impacto deste tipo de interacção social negativa depende de vários factores, que definirão o maior ou menor grau de gravidade do trauma: (1) da experiência em si; (2) das características da criança que enfrenta a ameaça; (3) dos recursos que tem disponíveis após a ameaça; (4) da presença de pais emocionalmente distantes; (5) de pobres manifestações de afecto e intimidade; (6) do baixo suporte parental; (7) da exposição precoce e repetida à violência; (8) de relações familiares conflituosas, coercivas e punitivas, expressas no recurso frequente a castigos corporais.

Assim, todos percebemos que a qualidade das experiências de vinculação e a forma como são representadas afectam o desenvolvimento sócio-emocional, a interpretação do contexto em que se insere, a forma como lida com os problemas e as estratégias comportamentais que utiliza, as quais podem facilitar ou dificultar a sua adaptação.

É de extrema importância desenvolver uma intervenção atempada e multidisciplinar, pois só assim poderemos proporcionar condições adequadas para a estimulação das potencialidades desenvolvimentais da criança, da sua autonomia, auto-estima e auto-conceito, de forma a minorar e/ou estabilizar os efeitos negativos que as experiências relacionais traumáticas provoquem.