A briga nos revela a fraqueza humana, o nosso lado ainda imaturo e em constante desenvolvimento, um verdadeiro engatinhar. Brigar pode ser saudável quando temos a capacidade de autoconhecimento de nossa imperfeição. É preciso buscar compreender o lado pedagógico que as brigas podem ter na nossa vida, se estivermos atentos. Um verso de uma canção brasileira não muito conhecida diz assim: “tem carinho que parece briga, tem briga que aparece para trazer sorriso”, sim, se a briga não se alojar no centro do palco das relações interpessoais, poderá até mesmo trazer sorrisos.

Brigar tem um caráter didático quando, num momento posterior, aporta o reconhecimento, as desculpas e o perdão. Se nenhum desses elementos não chegarem depois, pode-se dizer que a lição da briga foi em vão. Um ditado popular corrobora com essa ideia e enuncia mais ou menos o seguinte: “o parvo é aquele que não aprende com os próprios erros, o inteligente é aquele que percebe que errou e aprende consigo mesmo a fim de não incorrer no mesmo erro e o sábio é aquele que aprende com o erro dos outros simplesmente pela observação”.

A regra deve ser a observação da situação ao nosso redor, isto é, as brigas que ocorrem e seus motivos, as separações e os desentendimentos, para assim nos questionarmos: como poderíamos contorná-los se estivéssemos envolvidos? É um exercício de se colocar no lugar alheio para aprender a apartar o conflito com seu próprio meio.

A vida é um constante cair em buracos diferentes, mas quando começamos a cair no mesmo buraco estamos, em última análise, com alguma dificuldade de discernimento do que realmente queremos. Brigar é viver, na medida em que viver seja aprender com as brigas. O “apontar dedos” é uma atitude imatura que quase todos nós invariavelmente fazemos a fim de achar subterfúgio para jogar a culpa às costas do outro, porém justamente aqui está o caráter mais deslumbrante e educativo que uma briga pode ter: a socialização dos riscos e a solidariedade dos danos.

A exclusão da culpa quando o assunto é briga, nunca ocorrerá unilateralmente, pois assim como ela, a resolução do conflito deve ser mútua. A linguagem da briga é, pois, um jogo de espetos entre a língua do que ataca achando argumentos plausíveis para suas atitudes e a língua do que se defende, e contra-ataca, pensando estar na posse da verdade dos fatos e resguardado pela razão.

Entretanto, o sumo de toda briga são os meios de resolução pacífica que podem ter para sua ruptura. Nada melhor que um calar a boca com um beijo, um atacar o outro com um abraço, um fazer uma piada ou uma declaração inesperada que desarme o outro, um elogiar sincero para cessar a ofensa e um desculpar-se reconhecendo a culpa recíproca. Por vezes somos dominados pelas brigas e conviver com elas pode levar-nos a perder o sentido de muitas relações, mas enquanto não reconhecermos nossa impotência humana e tirarmos das brigas as lições de fundo que carregam, viveremos apenas de brigas e não com elas conviveremos em paz.