Neurolinguística

A neurolinguística é um estudo da linguagem da mente/cérebro. Sua composição gramatical une os termos - Neuro (neurologia) e - Linguística (linguagem). Tal linguagem do cérebro se expressa através de nosso corpo e de nossas palavras.

Embora tanto a nossa fala quanto a nossa postura - e demais ações de nosso corpo - sejam reflexos da linguagem de nossas sinapses neuronais, o corpo reage com muito mais precisão do que as palavras aos nossos pensamentos. Isso ocorre porque as palavras, na maioria das vezes, transpassam pelo "filtro"’ do ego.  Desta forma, temos a oportunidade, ainda que seja muito rapidamente, de planejarmos o que vamos dizer. Com exceção, em momentos de muito stress, em que podemos proferir palavras não desejadas de maneira impulsiva. Mas, de um modo geral, sempre que possível racionalizamos o que vamos falar, sejam tais palavras uma mentira ou uma verdade. Já o nosso corpo, por sua vez, reage de forma mais espontânea aos nossos pensamentos.

Por exemplo, se bocejarmos durante uma reunião de negócios e um de nossos receptores nos perguntar "está com sono"?  Por questões de cerimónia, podemos responder: "não".

Isso acontece porque raciocinamos o que vamos falar, antes de emitir uma resposta. E, assim, filtramos e respondemos de acordo com nossa própria vontade (ego).

Entretanto, de nada adianta nosso corpo expressar um determinado sinal e nossas palavras emitirem outra expressão. Na comunicação humana, bem como na neurotransmissão que ocorre em todos as relações, sempre prevalece a linguagem corporal. Conforme o exemplo visto acima, não é suficiente bocejarmos e depois declaramos que não estamos com sono. Nosso receptor não irá acreditar, pois o corpo já revelou o que realmente estamos sentindo. 

Nos estudos da neurolinguística, este fenômeno se chama Incongruência, consistindo, justamente, em o nosso corpo dizer alguma coisa e nossa fala dizer outra. Devemos sempre buscar a congruência entre nossa comunicação verbal e corporal.  Tão logo, bocejar e admitir estar com sono passa mais credibilidade do que negar, visto que o corpo já revelou previamente o que estamos sentindo.

A congruência entre as linguagens verbal e corporal são fundamentais para o fenômeno chamado Rapport (Francês: relacionamento, entusiasmo, identificação, neurotransmissão).
O Rapport é parte muito importante dos estudos da neurolinguística. Em todas as relações humanas acontece algum tipo de Rapport, positivo ou negativo, que é a somatização dos sinais linguísticos neurotransmitidos pelo corpo e pela fala durante um diálogo, entre duas ou mais pessoas. Prevalece, no entanto, a linguagem do corpo em tais relações. Sendo assim, um bom Rapport é fundamental para a construção de uma boa primeira impressão, bem como para um bom marketing pessoal. No mercado de vendas, por exemplo, a congruência corporal e verbal ocasionam em um bom Rapport entre as partes envolvidas - fator essencial para se obter bons resultados, em curto prazo, e se ganhar credibilidade de mercado, em longo prazo.

Na neurolinguística, a congruência é a harmonia entre nossa mente, nosso corpo e nossa fala. Quando cumprimos bem com esta sintonia geramos um Rapport positivo com nosso receptor. Já o contrário pode gerar um dos fatores do fenômeno denominado como Sombra.

Sombra Junguiana

Carl Gustav Jung foi um dos maiores psicanalistas do mundo, muito consagrado e reproduzido por outros autores até os tempos atuais. Suas obras deixaram um legado que se ressignifica de geração em geração. No passado, Jung já foi considerado um místico, uma linha alternativa de psicanálise. Na atualidade, é reconhecido por cientistas, da Física Moderna, do mundo todo, por seus estudos sobre arquétipos, sincronicidade e inconsciente coletivo. Seu trabalho introduziu um novo modelo de psicologia, coletiva e transcendental. Mas, em termos de psicologia individual, também realizou grandes trabalhos, expressos em grandes livros tais como "Tipos Psicológicos" (Vozes), "O Desenvolvimento da Personalidade" (Vozes), dente outras obras.

No campo da psicologia tradicional, um dos conceitos mais polémicos foi sua descrição de um fenômeno que ele chamara de Sombra. Para Jung, todos nós temos uma "sombra" em nossa personalidade que, na maioria das vezes, não é reconhecida por nós mesmos, mas sim pelos outros, principalmente por aqueles com quem mais convivemos. A priori, a Sombra é tudo o que reprimimos em nossa psique, por se tratar de algum sentimento não admitido pelo ego, ou por alguma convenção social em que estejamos inseridos. O ambiente em que nascemos, por exemplo, bem como o lugar em que convivemos, nem sempre vão ao encontro de nossas vontades, sonhos, ideais. E, em contrapartida, muitas vezes por imposições familiares, sociais, religiosas, econômicas, temos que nos adequar a tais condições.

A Sombra é uma mistura de nossos complexos (influências externas) e, ao mesmo tempo, pode se manifestar como um arquétipo (aspectos internos de nossa personalidade, que independem de influências externas). Mas, justamente por não ser, em sua maioria, percebida conscientemente por nós mesmos, e sim, frequentemente, pelos outros de nosso convívio, se designa também, conforme os estudos da neurolinguística, como uma incongruência. Uma pessoa que fala em tom de voz muito alto, por exemplo, pode não perceber e nem admitir este traço de sua personalidade, independentemente da causa que a fez se expressar sempre com esta tonalidade. Outro exemplo é o de uma pessoa que ande muito rápido o tempo todo, e que também não percebe e nem admite caminhar em tal velocidade. Mas, tal comportamento é percebido por seus receptores, gerando assim uma incongruência entre sua linguagem corporal e verbal. Em um contexto geral, tudo que é percebido pelos outros e não percebido por nós está relacionado a algo que, em algum momento de nossas vidas, reprimimos em nossa psique e, desta forma,  se tornará uma "Sombra" de nossa personalidade.

É possível conjugarmos muitos exemplos relacionados a incongruência humana, dos estudos da neurolinguística, com o conceito de Sombra junguiana. Refletindo o nosso corpo grande parte de nossa personalidade, este mesmo corpo revela, naturalmente, a nossa Sombra. Mas, conforme vimos nos exemplos citados, o mesmo fenômeno pode ser reconhecido, também, em nossas manifestações verbais.

Ainda no campo da Psicologia, há outros estudos que sintetizaram tanto os aspectos da neurolinguística quanto os da Sombra junguiana, tal como o conceito chamado "Janela de Johari", criado pelos pesquisadores Joseph Luft e Harry Ingham, que aponta o fenômeno dos "4 Eus": o Eu Aberto, o Eu Cego, o Eu Secreto e o Eu desconhecido.

Eu Aberto
Está relacionado ao nosso Eu social, do Ego, da Persona; é racional e consciente. Demonstra, ao campo social, apenas uma parte do que somos.

Eu Secreto
Está relacionado ao nosso Eu pessoal, que somente quem convive no ambiente íntimo/familiar consegue perceber, e ao qual as pessoas do convívio social não têm acesso. 

Eu Cego
É justamente o que mais pode revelar a nossa "Sombra", pois está relacionado ao nosso Eu que não reconhecemos em nós mesmos, mas que, tanto as pessoas de nosso ambiente social quanto as do nosso ambiente íntimo/ familiar, podem perceber. Portanto, conforme vimos, em consonância, com o reflexo da Sombra de Jung, o Eu cego é reprimido pelo nosso ego, e pode ser manifestar como um complexo.

Eu Desconhecido
É  bastante relacionado com os estudos junguianos pois, além de poder manifestar-se em algum momento como uma Sombra, está relacionado com o nosso Self, que é um de nossos arquétipos primordiais.  O Self está em nossa mente inconsciente, onde o ego não tem acesso. Por esta razão, no lugar de um complexo, quando advinda dessa atmosfera psíquica, a sombra se manifesta como um arquétipo. O Eu desconhecido (Self) é a atmosfera mais profunda e mais sábia de nossa mente, tanto desconhecida por nós, quanto por quem convive em todos os nossos ambientes. Somente o arquétipo da Sombra pode, repentinamente, emergir parte desta atmosfera psíquica aos nossos receptores e a nós mesmos.

Portanto, todos os "4 Eus" estão diretamente relacionados com os estudos da Neurolinguística e com os da Sombra junguiana. Tais conhecimentos são, em verdade, ferramentas de autoconhecimento, ou do fenômeno que Jung chamou de "Processo de Individuação", que é a busca de transformamos nossas incongruências em congruência e, sobretudo, de tornarmos nosso inconsciente cada vez mais consciente, nosso ego cada vez mais em Self, nossos complexos cada vez mais em arquétipos e, por fim, nossa Sombra cada vez mais em luz.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

JUNG, CARL G. O Desenvolvimento da Personalidade, Vozes, 2002.

JUNG, CARL G. Tipos Psicológicos, Vozes, 2002.

JUNG, CARL G. O Eu e o incosciente, Vozes, 2002.

FRITZEN, SILVINO JOSÉ, Janela de Johari, Vozes, 2013