Introdução:
Homem de 36 anos, casado, com um filho. É sargento da Guarda Civil e trabalha em oficinas.

História do problema:
O paciente sofreu duas quedas (Junho e Outubro 1999) com breve perda de consciência. Após a segunda queda apresenta uma amnésia retrógrada muito severa que afecta todos os processos de memória (episódica, semântica e procedimental), que condiciona uma dependência absoluta em relação às actividades da vida diária e uma grande desadaptação social. No entanto, mantém intactas as suas capacidades de aprendizagem, pelo que se efectuou reabilitação neuropsicológica; vários meses depois observou-se uma notável melhoria da memória procedimental e semântica, mas persistem dificuldades na memória episódica (localização temporal dos acontecimentos), as quais originam limitações para uma vida autónoma e a incapacidade de trabalhar.

Discussão:
Este caso apresenta importantes dificuldades de diagnóstico diferencial, já que as explorações neurofisiológicas e de neuroimagem realizadas (rigorosamente normais) não evidenciam lesões que justifiquem a severidade do transtorno mnésico e o padrão deste não é o habitualmente observado no síndrome amnésico pós-traumático. Contudo, também não cumpre os critérios de perturbação dissociativa nem aparecem dados que sugiram simulação. A evolução do caso proporciona mais elementos diagnósticos, persistindo, contudo, a impossibilidade de o encontrar nas classificações nosológicas actuais.