Dou por mim a pensar no quanto somos fracos para aceitar algo que a maioria das pessoas parece sentir, mas não tem a coragem de aceitar: quase todos nos achamos especiais e diferentes, e não queremos ser iguais “aos outros”, mas temos medo de declarar de viva voz. Parece-me aquela típica atitude portuguesa que diferencia a opinião pública e a opinião publicada: ou seja, publicamente ou não, até digo o que penso acerca do assunto, mas se for para ser gravado ou publicado, ah, então já tenho que ter uma atitude politicamente correta e dizer o contrário do que penso! Claro que acredito na igualdade de princípios universais constitucionalmente assentes em que todos somos iguais em termos de direitos, liberdades e garantias. Mas, psicologicamente, moralmente, deontologicamente, somos todos iguais?

Tenho visto inclusivamente que esse tem sido um dos principais fatores que levam ao sofrimento psicológico de centenas de crianças - jovens (e até adultos) que procuram ajuda psicológica porque se sentem diferentes e, na tentativa de se aceitarem como são, e na de se enquadrarem num grupo de referência em que todos devem ser da mesma forma, entram num sofrimento atroz que por vezes leva a desfechos medonhos.

Um dia mais tarde, espero que tenham a maturidade de perceberem que os outros até podem rir-se de si por ser diferente, mas deveria sentir-se orgulhosa da pessoa que é, e rir-se dos outros, por serem todos iguais (Bob Marley aborda muito bem este assunto nos seus temas).

Pensem nisto: “Riem-se de mim por eu ser diferente? Pois eu rio-me de vós por serem todos iguais!”

Pode parecer uma atitude elitista, mas a psicologia tem demonstrado que é na aceitação do meu eu, na construção do meu self, do aumento da minha autoestima, da aceitação da minha autoimagem e no fortalecimento dos valores e princípios que me foram ensinados, que vou desenvolvendo o sentido da minha vida como um ser único, amado pelos outros, que ama e vive com os outros, mas que eu deveria ser capaz de me amar e mimar todos os dias. E isso eu só consigo pela minha diferença (tal como cada um deveria tentar fazer; pelo menos é o que eu penso).

Para quê querer enquadrar-me num grupo e por vezes, para fazê-lo, ter que partilhar a minha vida e os meus problemas. Como diz um grande pensador, se passarmos a vida a contar os nossos problemas aos outros, 90% não quer saber disso para nada, e os outros 10%, ainda por cima fica feliz por você ter problemas! Sei que estou a generalizar, mas refiro-me aqui a “outros” como as pessoas que não fazem verdadeiramente parte da nossa vida. Para quê lamuriar-se pelos problemas que tem? Abençoe a vida e faça como muitos de nós… pense assim: apenas há dois tipos de problemas, os que têm solução e os que não têm. Desta forma, dedique-se sobre os que têm solução, não se lamurie... quantos aos que não têm solução, já estão solucionados! Passe à frente e mude a página!

Augusto Cury tem uma frase fabulosa acerca disto: “Produzir ideias tem um preço, ser diferente tem um preço, nem sempre fácil de pagar, mas é necessário para saldar o débito com o nosso próprio Eu”.

Ao contrário do que sugeria alguém, eu não vou pedir desculpas à sociedade por ser diferente!

Olhemos à nossa volta e vejamos se nos identificamos com a maioria das coisas que vemos… Queremos mesmo ser iguais e defender as mesmas ideias que nos vamos apercebendo todos os dias, seja no trabalho, numa conversa caída do céu num café, na defesa de uma constante irritabilidade, queixume e agressividade que se banalizou de forma que nos deveria envergonhar, quer em meios mais acessíveis a todos como as redes sociais, quer em meios mais (supostamente) seletivos, como os media? Varpechowski tem uma frase fortíssima quanto a isso: "Quanto mais enquadrado na sociedade, mais perto da morte se está".

Com este ponto de vista não quero dizer que deva pensar mal das pessoas que me parecem proceder mal; como sugeria Sócrates (o filósofo), prefiro acreditar que estão equivocadas!

E para ser diferente termino assim: “A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia.” (Michel Foucault) E é a paz que esta diferença louca me traz que me ajuda a ser feliz e me manter sereno para atender centenas de pessoas nos seus momentos de maior angústia.

Como psicólogo, cada um dos meus utentes sabe que procuro ajudá-los a sentirem-se fortes e realizados e a interiorizar que a pessoa mais importante do seu mundo deveria ser ela própria, única, incomparável, especial. Se a pessoa estiver bem, então poderá espalhar o bem a todos à sua volta (e isso não é sinal de egoísmo, mas sim de responsabilidade para consigo e para com os que ama).

Citando Aristóteles “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”. Por isso meus amigos vos peço, da próxima vez que me virem, respeitem a minha diferença e, por favor, tratem-me de forma desigual! Creiam que estarão a contribuir para a minha felicidade, como eu gostaria de contribuir para a felicidade de cada pessoa que tenha a coragem de ser diferente, como Fernão Capelo Gaivota.

“Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando?”  (Richard Bach)

Abrace a psicologia da diferença e seja feliz! Cumprimentos a todos!