Saindo da mesma estação de metro como todos os dias desde que cheguei aqui, deparei-me com uma situação diferente, mas não incomum. Ali, do meu lado, uma criança de mais ou menos seis anos saía, no meio da multidão de estudantes, sozinha, com uma mochila nas costas e uma camisa listrada colorida, aquela que quase todos já usaram quando crianças. Lá se ia a pequenina, com seus raros seis anos de experiência de mundo na mochila.

Com a chegada brutal do inverno, o tempo mudou. Naquele dia, a chuva nos recebia na saída da estação. De pronto, saquei meu chapéu de chuva e saí. Olhei para trás e saía a criança encolhida com sua mochila de pano, pronta a enfrentar a chuva diretamente. Com a cabeça inclinada para frente e o cabelo já começando a gotejar, enfrentava a chuva com suas passadas curtas, porém firmes.

Aproximando-me de meu destino final e vendo que a criança era tomada pela chuva por completo - embora estivesse ali na frente de todos estava, na verdade, aos olhos de ninguém - resolvi correr até ela para oferecer-lhe ajuda. O meu chapéu de chuva seria a forma de ajudá-la no provável longo caminho, que ainda levaria a pé. Corri contra chuva e chamei-a: “- Oi, tome aqui o chapéu de chuva, leve-o! Não preciso mais dele, já cheguei ao meu destino!

Ela, assustada, com medo do estranho - no caso, eu - fez um sinal negativo com a cabeça e acelerou o passo em meio à tempestade que não cessava. Diante da compreensível reprovação ao meu ato despretensioso, observei-a até perdê-la de vista completamente.

No meio daquelas gotas pesadas e daquele vento frio, seguia a criança sozinha para um lugar indefinido. Talvez ela só tenha existido para mim, porque para mais ninguém ela importava, afinal sequer foi vista. A pequenina caminhava como se já não houvesse nada senão a própria chuva e como se seu chapéu de chuva fosse o próprio mundo. Antes de voltar para a rotina, dei-lhe um adeus com os olhos.

As gotas, se outrora caiam do céu, agora, acabavam de nascer nos meus olhos. Porque aquele momento marcou-me por uma razão um tanto quanto mais significativa e nostálgica. A criança já não era simplesmente uma criança, mas sim uma representação simbólica da minha infância que seguia sem volta. A chuva já não era simplesmente uma chuva qualquer, senão minhas lágrimas de saudade, e o caminho já não era um simples caminho, mas o trilhar da efeméride chamada tempo.

Agora estava eu ali, sozinho, com lágrimas saudosas e silenciosas, dizendo adeus à minha própria infância que, após negar-me contato, perdeu-me de vista no caminho do tempo, na imagem daquela criança de camisa listrada.