«… a educação para os valores, numa sociedade que não estimula o altruísmo, é mais necessária do que nunca.»

Daniel Sampaio

Excerto do seu livro: ‘Da família, da escola, e umas quantas coisas mais’.

 

A Escola continua a ser (ou é mais do que nunca) uma excelente oportunidade para a transformação pessoal e social. Tem o poder de mudar o mundo. Contudo, será desejável que essas mudanças contribuam para uma melhoria da qualidade de vida de todas as pessoas. Na minha perspetiva, estaremos mais perto deste objetivo quando a educação dada aos alunos conseguir incluir e estimular a autenticidade, a humildade, a capacidade reflexiva, o sentido crítico, a autocrítica, o respeito pela diversidade, a luta por valores acoplados à liberdade, a defesa dos direitos humanos, a criação e a manutenção de um sentimento comunitário, entre tantos outros componentes essenciais. A Escola deve respeitar e empoderar o indivíduo que, num processo cooperativo com outras pessoas, ajudará a mudar a sociedade. Sem muros e sem guerras. Com amor e com paz.

A Escola continua a ser (ou é mais do que nunca) uma excelente oportunidade para a transformação pessoal e social. Tem a obrigação de usar a educação para batalhar pelos direitos que nos levam a uma sociedade mais justa e harmoniosa. A permissão dada a modelos xenófobos, racistas, sexistas e homofóbicos, é uma porta aberta para a entrada de políticos, políticas e práticas desastrosas que não se baseiam na conquista do bem comum. A Escola não pode apodrecer, por dentro e por fora, nem os agentes educativos que a sustentam podem adormecer. Estes últimos devem assumir o papel principal na intervenção cívica e política. Um arrojo necessário e exemplar dos agentes educativos para uma melhor ordenação das raízes comunitárias, numa coligação com as crianças, com os jovens e com os pais para a mudança de políticas, da sociedade, das relações e das pessoas.

A Escola continua a ser (ou é mais do que nunca) uma excelente oportunidade para a transformação pessoal e social. O desinteresse, a desmotivação e o abandono da Escola pelos mais novos, por diversas razões, preocupa-me e deve preocupar a todos. Principalmente pelo facto da perda do poder (estruturado) do conhecimento e, consequentemente, pelo afastamento inevitável na luta por uma sociedade mais justa. A Escola tem o dever de motivar os jovens para uma vida cívica e política ativa e inteligente (cultivando o conhecimento e a capacidade crítica). As funções principais dos agentes educativos não devem ser o preenchimento de papéis, o despejar de matéria e as análises fatalistas dos insucessos educativos. Acima de tudo, eles e elas devem perceber que são uns cidadãos privilegiados pelo exemplo que podem dar, pela relação que podem criar, pela transformação que podem iniciar, pela partilha rica e construtiva que devem transmitir e pelas mensagens que podem escutar provindas da inteligência dos mais novos. Um ato corajoso de «sair da caixa», de contrariar as tendências de rankings e de eliminar a diferenciação cega dos bons e dos maus alunos. É saber usar o poder da educação, derrotando os poderes «podres» instalados.

A Escola continua a ser (ou é mais do que nunca) uma excelente oportunidade para a transformação pessoal e social. Está na hora de estarmos do lado da Escola e dos bons educadores (e, podem crer, há muitos mais do que se possa imaginar). Devemos exigir mais de nós e dos outros. Devemos ser persistentes e resilientes. Devemos colaborar com a Escola e torná-la mais de todos. A educação tem o poder de levantar a voz acima de um muro para unir esforços, derrubando-o no final. Questiono: onde cabe a educação se limitarmos a Escola e as funções dos agentes educativos de excelência à matéria da disciplina e à burocracia excessiva, vezes sem conta, e se os pais não assumirem as suas responsabilidades educativas? Sem educação não há capacidade e coragem para se dar as mãos e instalar um paradigma de fraternidade. A Escola tem que assumir o papel da educação – numa responsabilização conjunta com os pais, pois todos fazem parte do processo educativo e devem sempre assumir os seus papéis – especialmente trabalhando a transformação dos indivíduos que esperam uma resposta segura, corajosa e inspiradora. Quando não a encontram o que se pode esperar? Desesperam, perdem a esperança, não veem alternativas, não investem, desmotivam-se e abandonam (a escola, a sociedade e o seu futuro).

Por último, quero deixar clara a minha intenção: esta mensagem pretende ser encorajadora para a mudança de atitudes, porque acredito que a Escola continua a ser (ou é mais do que nunca) uma excelente oportunidade para a transformação pessoal e social. Na Escola: é numa relação aberta, envolvente e cooperante com as pessoas e com a educação que se pode almejar um mundo melhor. A Escola que educa cria uma sociedade íntegra. Na sociedade: todos somos responsáveis pela educação. O nosso exemplo crítico, ativo, proativo, sério, determinado e cooperante, de forma continuada, semeia esperança para um futuro melhor.