Relaxados e sem réstia de pudor, estavam estatelados nos bancos do carro puxados para trás, enquanto pensavam num hotel para dormirem.

Entretanto já Horácio tinha adormecido e roncava com pujança.

Levou uma cotovelada da mulher, a Rosalina.

Parou o ronco durante alguns segundos.

Já não levou outra.

Rosalina estava já com a boca toda aberta e seca, na produção de uma escavacada sinfonia de roncos e assobios.

Acordaram com a luz do sol madrugador incidindo nos olhos.

Rosalina tinha o chapéu todo escambado para o ombro e cuspia algumas penugens das plumas roxas que lhe tinham entrado para a boca, ajudando a limpeza com os curtos e grossos dedos das mãos que metia, literalmente, dentro da boca.

Horácio estava bem-disposto pelo sono que o recuperou, mas ansioso para chegar ao seu destino.

Era lá que tinha as suas descontrações.

Já só sentia fome.

Antes de se porem em marcha tiveram que abrir as portas e as janelas do carro durante um bocado.

Foi o tempo de se aliviarem.

Rosalina, agachada ao lado da porta aberta do carro, verbalizava o alívio através de suspiros, enquanto o jato quente fumegava ruidoso contra o empedrado da rua, acompanhado pelo gasoso recital que saía por trás.

Horácio já se sacudia, ajudando na orquestra.

Espreguiçaram-se.

Ouviu-se o motor do carro.

Tinham cerca de 700 quilómetros de estrada.

Não tinham ficado para jantar no dia do casamento de Olívia, única filha que tiveram.