Num verão, em plena hora de calor, com o sol a pique, sufocava-se com o ar que não corria.

Em comemoração dos 12 anos de casamento e do nascimento da filha Lídia, Alfredo e Amália integram a multidão veraneante de uma cidade costeira, num domingo de agosto.

Amália e Lídia, mãe e filha, gostavam de estar na praia.

Alfredo também, mas por outros motivos.

Gostava de esperar no passeio da estrada, em pé, de frente para o mar, enquanto a mulher e a filha montassem o guarda-sol às riscas coloridas, as cadeiras de praia e esticassem as toalhas para definirem território.

Alfredo não punha um pé na água do mar.

Na melhor das hipóteses, como foi o caso, tirava os sapatos e as meias, que enfiava de qualquer jeito dentro dos sapatos ou nos bolsos das calças, desabotoava mais uns botões da camisa, arregaçava as calças com duas ou três dobras e seguia.

Mal pisava na praia, começava a acelerar a marcha por causa da temperatura, ficando-lhe muitos grãos de areia grudados aos pés suados.

Sentava-se numa cadeira, punha os pés em cima de uma toalha, expondo o vincado do elástico das meias nas canelas, e ali ficava, meio Alfredo debaixo do guarda-sol e meio Alfredo ao sol.

Nunca se apercebia!

Suava em bica.

A cabeça e a cara pingavam.

A camisa estava ensopada e colada ao corpo, evidenciando o farto e escuro manto de pêlos que lhe cobriam, sobretudo, os ombros e omoplatas.

As calças, já há muito que estavam coladas às pernas.

Bebeu, de um gole, uma cerveja que a mulher lhe entregou e que tinha tirado da caixa térmica.

Bebeu outra, ergueu-se e deitou-se numa das toalhas que a mulher e a filha tinham estendido na areia.

Deitou-se de lado.

A barriga não deixava que se deitasse virado para baixo e a mulher não deixava que ele se deitasse virado para cima, por ser a posição de maior facilidade para ressonar.

Adormeceu.

Amália ia-lhe dando safanões, proporcionais à intensidade dos roncos que, mesmo assim, sonavam, agravando-se a severidade dos abanões se os roncos lhe saíam pela tubagem de baixo.

Acordou pouco tempo depois.

Tinha sido apenas uma pequena sesta para renovar motivações.

Estava com uma face toda vermelha de queimada pelo sol, a outra estava cheia de areia colada pelo suor.

Sacudiu-se da melhor forma que lhe foi satisfatória, sorriu para a mulher e foi-se embora.

Sentado, na borda da estrada que delimitava a praia, sacode a areia dos pés, apesar de muita lá ter ficado quando enfiou as meias, calçou os sapatos, desfez as dobras das calças, levantou-se e foi, feliz, à sua vida.

Estava com sede e com fome.

Ficou, a gosto e relaxadamente, à espera da mulher e da filha, numa esplanada de cervejaria, em frente à praia.