Índice

Introdução

Conhecimento da realidade do abuso e agressão sexuais

Definições e concepções do abuso sexual

Factores associados à presença do abuso sexual
 

1ª Parte
   1. Variações das percepções de abuso sexual e consequente comportamento abusivo
        As diferenças nas percepções do abuso sexual
        A Teoria da Socialização do Papel Sexual
        A Hipótese da Atribuição Defensiva
        A "má comunicação" entre os sexos
        Outras variáveis que afectam as percepções de abuso sexual
 
2ª Parte
   2. Diferenças e semelhanças entre os sexos
        As diferenças de género na sexualidade: algumas teorias distintas
        Os papéis de género e as atitudes
        A Teoria do Estatuto Sexual e a “Cultura de Violação"
3ª Parte
        A “Token Resistance”
        Expressividade e Instrumentalidade
        Abuso psicológico e abuso físico
        As agressões directa e indirecta
 
 4ª Parte
   3. Estilos de vinculação e a agressão e abuso nas relações

   4. Poder, domínio e conflito nas relações
 

5ª Parte
Instrumentos utilizados na investigação neste domínio

Reflexões finais

Bibliografia

6ª Parte

 

3. Estilos de vinculação e a agressão e abuso nas relações

É um facto que os investigadores acerca da vinculação no adulto afirmam que o amor romântico é um processo de vinculação (Hazan e Shaver, 1987). Segundo a teoria da vinculação os indivíduos em relações íntimas adultas estão ainda à procura do mesmo sentido de segurança e apoio da parte dos seus parceiros que era importante nas suas relações de vinculação seguras durante a infância. Bowlby (1977; cit. in Simpson et al., 1996) refere que as experiências com outros significativos nas fases precoces da vida conduzem à formação de internal working models do self e dos outros significativos. Uma vez formados, estes modelos influenciam o desenvolvimento da personalidade e guiam comportamento social. Embora maleáveis (Main, Kaplan, & Cassidy, 1985; cit. in Simpson et al., 1996), os working models vão-se tornando cada vez mais estáveis ao longo do ciclo vital (Bretherton, 1985; cit. in Simpson et al., 1996), exercendo um grande impacto nas relações adolescentes e adultas.

Hazan e Shaver (1987) identificaram vários estilos de vinculação no adulto que representam formas características deste pensar acerca das relações íntimas, estando essas formas de pensar baseadas em experiências passadas. Ainda, eles guiam a interpretação da informação proveniente dos relacionamentos de acordo com as expectativas construídas dentro do modelo (Bretherton, 1987; cit. in Kesner et al., 1997). (...)

Kesner e cols.(1997) levantaram a hipótese dos homens que agridem e abusam as suas mulheres poderem estar a utilizar violência física em alguns momentos durante os quais eles sentem que as suas necessidades de vinculação não estão a ser satisfeitas pelas suas parceiras.

Aliás, a agressão relaciona-se com o sistema comportamental de vinculação durante a infância. Bowlby (1988; cit. in Kesner et al., 1997) afirma que o comportamento zangado é uma forma das crianças comunicarem à sua figura de vinculação primária que o seu sistema comportamental de vinculação foi activado e que as necessidades de vinculação não estão a ser satisfeitas. Isto ocorre geralmente como resposta a uma separação onde a criança percebe que a figura de vinculação está indisponível. Bowlby designou isto de "raiva funcional" isto é, comunica à figura de vinculação desprazer em estar separada e se obtiver uma resposta apropriada da figura de vinculação isso irá facilitar uma relação segura.

Neste sentido, a violência desenvolvida pelo adulto poderá ser um mecanismo de coping disfuncional para lidar com a não-responsividade ou rejeição percebidas da parte do parceiro íntimo. Trata-se de uma consequência da eventual história consistente de experiências de vinculação inseguras, a qual pode distorcer esta "raiva funcional" no sentido da violência e abuso no adulto (Kesner et al., 1997).

A teoria da vinculação defende que o sentido do self se desenvolve de forma concorrente com o modelo interno das relações de vinculação. Consequentemente, os indivíduos que recebem uma prestação de cuidados inapropriada e insensível durante a infância poderão desenvolver o sentido de que não merecem amor e afecto (Bretherton, 1987, 1992; cit. in Kesner et al., 1997). Neste sentido, Collins e Read (1990) detectaram baixos níveis de auto-estima em adultos com estilos de vinculação inseguros. Logo, o nível de auto-estima poderá ser um indicador da segurança de vinculação e outra variável importante na compreensão da violência e abuso interpessoais.

No presente trabalho tenta-se especular acerca das possíveis relações entre a realidade do abuso e violência em relações diádicas e os estilos de vinculação. Neste sentido, os trabalhos de Kesner et al.(1997) preocupam-se em compreender a realidade da violência e agressão masculina aplicando a teoria da vinculação. Apesar destes autores não se dedicarem ao grande tema do presente trabalho, o “abuso sexual”, nem compreenderem aquela realidade para ambos os sexos, podem-se retirar numerosos pressupostos teóricos e observações acerca da agressão em relações íntimas, concerteza úteis para desenvolver uma compreensão mais aprofundada e abrangente da disfuncionalidade séria e moderada em díades “românticas” (para utilizar a designação de Hazan e Shaver, 1987).

Por outro lado, Simpson et al. (1996) apresenta uma exaustiva reflexão acerca das estratégias de comunicação no casal em situações de atrito ou conflito e dos working models subjacentes aos três grandes estilos de vinculação. Esta caracterização parece fornecer pistas importantes para a compreensão da funcionalidade da relação, bem como para a possível evolução de quadros de abuso, destacando-se aqui o estilo evitante.

Os indivíduos que têm percepções positivas do self e dos outros (i.e., indivíduos altamente seguros) tendem a envolver-se em comunicações directas e abertas nas quais a perspectiva do parceiro (...) é reconhecida e o discurso mantém-se construtivo e coerente.

Por outro lado, e dada a sua história de experienciação de rejeições repetidas da parte das figuras de vinculação, as pessoas altamente evitantes possuem working models negativos dos outros que oferecem pouca esperança no sentido de alcançar uma proximidade psicológica e intimidade com as figuras de vinculação. Consequentemente, desenvolvem defesas para suprimir a activação do sistema de vinculação (Simpson & Rholes, 1994; cit. in Simpson et al., 1996). Uma forma eficaz de minimizar o envolvimento psicológico e emocional em situações que poderiam activar o sistema de vinculação é a demonstração de menos calor e apoio ao seu parceiro (Simpson et al., 1996).

No que diz respeito ao conteúdo, indivíduos altamente evitantes têm uma perspectiva negativa e frequentemente cínica dos outros, e sentem-se desconfortáveis com a proximidade emocional e intimidade psicológica. Em termos de processo, os indivíduos altamente evitantes acreditam que as figuras de vinculação não podem ser tomadas em conta para aliviar a tensão quando esta surge. Consequentemente, os indivíduos evitantes tornam-se extremamente auto-dependentes (Bowby, 1973; cit. in Simpson et al., 1996), e os seus working models redireccionam ou suprimem os pensamentos, sentimentos e comportamentos vinculativos em situações onde o sistema de vinculação poderia ser activado (Crittenden & Ainsworth, 1989; cit. in Simpson et al., 1996).

Os indivíduos altamente ambivalentes estão preocupados com e hipervigilantes sobre a disponibilidade psicológica das suas figuras de vinculação (Collins & Read, 1990; Hazan & Shaver, 1987); (Main et al., 1985; cit. in Simpson et al., 1996). Assim, os sistemas de vinculação dos indivíduos mais ambivalentes tendem a activar-se mais fácil e fortemente (Simpson & Rholes, 1994; cit. in Simpson et al., 1996), particularmente quando são confrontados os problemas ligados à relação. Quando os indivíduos altamente ambivalentes têm que lidar com situações que poderão ameaçar ou questionar a disponibilidade dos seus parceiros românticos, os seus working models são activados (Bretherton, 1985; cit. in Simpson et al., 1996). Este modelos, que contêm uma extensa rede de pensamentos, sentimentos, memórias e crenças acerca da disponibilidade imprevisível das anteriores figuras de vinculação (Hazan & Shaver, 1987; Main et al., 1985; cit. in Simpson et al., 1996) tendem a gerar alta ansiedade acoplada a hostilidade.

No que diz respeito ao conteúdo os indivíduos altamente ambivalentes têm internal working models que consistem em auto-perspectivas negativas em conjunto com perspectivas incertas e apreensivas dos outros significativos (Bartholomew e Horowitz, 1991; Collins e Read, 1990; Hazan e Shaver, 1987). As suas auto-perspectivas negativas contêm temas relacionados com o ser-se incapaz de obter apoio de e alcançar intimidade profunda com figuras de vinculação. Em termos de processo os indivíduos altamente ambivalentes são ansiosos acerca de e preocupados com (...) a disponibilidade das suas figuras de vinculação. Como resultado, o seu impulso para procurar proximidade psicológica e emocional é despoletado de forma forte e facilmente (Simpson e Rholes, 1994; cit. in Simpson et al., 1996), ao mesmo tempo que está maculado com ansiedade acerca do apoio do seu parceiro, preocupações acerca de não ser amado e medos de abandono (Ainsworth et al., 1978; cit. in Simpson et al., 1996).

Com base na investigação de Simpson et al. (1996), além das diferenças entre estilos de vinculação, também parecem existir diferenças ao nível do sexo. Foi observado que, embora os homens mais evitantes tenham evidenciado menos calor e apoio em situação de conflito, o mesmo não aconteceu no caso das mulheres altamente evitantes.

Não existem muitas diferenças de sexo nas investigações anteriores acerca da vinculação adulta (Hazan & Shaver, 1994; cit. in Simpson et al., 1996), assim como a teoria da vinculação não prediz que o evitamento deva estar relacionado diferencialmente com o apoio e calor nos homens e nas mulheres. No entanto, e tentando compreender este fenómeno, há que enfatizar o encorajamento que os papéis sexuais femininos tradicionais, alternativamente aos masculinos, executam relativamente à expressão de mais calor e apoio, melhores competências de escuta (Miller, Berg, & Archer, 1983; cit. in Simpson et al., 1996), e maior sensibilidade interpessoal em relacionamentos. Ainda, as mulheres também assumem uma maior responsabilidade pela manutenção e reparação de relações prolongadas (Surra & Longstreth, 1990; cit. in Simpson et al., 1996).

Assim, as orientações do papel sexual poderão anular o estilo de interacção protótipo frequentemente associado a altos níveis de evitamento, particularmente entre mulheres evitantes que se deparam com situações que poderão introduzir tensão na sua relação. Adicionalmente, o evitamento conseguiu prever interacções de qualidade inferior nos homens mas não nas mulheres (Simpson et al., 1996).

Uma quantidade considerável deste material vem de encontro ao que foi já apresentado neste trabalho relativamente às (aparentemente) reais diferenças de género no desenvolvimento de comportamentos de abuso e, mais concretamente, na forma como homens e mulheres se comportam.

 

4. Poder, domínio e conflito nas relações

Uma questão importante bastante tratada na literatura que se dedica às relações em díades românticas é a distribuição e gestão do poder nas relações. O balanço do poder em díades tem particular interesse pois influencia as relações que nela se estabelecem, influencia o bem-estar dos seus elementos e a durabilidade dessas relações. Uma revisão da literatura sugere que o equilíbrio do poder pode ter consequências para os indivíduos em relações românticas. Primeiro, o bem-estar psicológico geral está associado com o poder (Horwitz, 1982; cit. in Felmlee, 1994). Segundo, vários estudos indicam que um equilíbrio de poder está associado a satisfação na relação. Ainda, investigação adicional sugere que os desequilíbrios de poder estão ligados a aumentos no conflito (ex.: Caldwell e Peplau, 1984; ibid.). Com base em tudo isto, poder-se considerar o desequilíbrio de poder como uma condição propícia ao desenvolvimento de situações de abuso sexual, ou mesmo esse desequilíbrio poderá ser, por si, e em função da(s) sua(s) manifestação(ões), uma forma de abuso sexual (ou, pelo menos, sentida como tal pelos sujeitos).

Uma teoria que tenta compreender e explicar o balanço/equilíbrio de poder nas relações é a Teoria do Recurso. Segundo esta teoria, o poder da pessoa é uma função do número de recursos que esta possui (Blau, 1964; cit. in Felmlee, 1994). Por recursos entende-se aquilo que um parceiro disponibiliza para ir de encontro às necessidades do outro. Teoricamente, qualquer dos parceiros pode ser mais poderoso, dependendo da distribuição relativa dos recursos valorizados. No entanto, a investigação parece privilegiar dimensões do poder associadas ao rendimento económico (superior), e mesmo à idade (superior). Neste sentido, os homens da sociedade americana detêm mais poder (National Opinion Research Center, 1985; cit. in Felmlee, 1994). Segundo Felmlee (1994), será de esperar que as relações universitárias e dos jovens sejam mais igualitárias, uma vez que, em média, homens e mulheres tendem a ser mais semelhantes em termos dos recursos básicos de rendimento, idade e educação do que no caso dos casais adultos. Não obstante, uma vez que os homens têm, em geral, mais poder13 nesta sociedade – sociedade Norte-Americana – (Lips, 1991; cit. in Felmlee, 1994), é provavelmente ingénuo esperar que a população universitária não seja afectada por este facto, e logo as assimetrias da poder poderão mesmo assim predominar neste grupo.

Tendo em conta algumas das limitações observadas nestes estudos, Felmlee (1994) operacionalizou o conceito global de poder nas relações estendendo-o a mais três aspectos: a tomada de decisão, o envolvimento emocional, e a equidade.14

A tomada de decisão e o envolvimento emocional ligaram-se, tanto teórica como empiricamente, ao poder nas relações íntimas em estudos anteriores, e muitos investigadores usam estas medidas especificamente como medidas de poder (Felmlee, 1994). Segundo o “princípio de menor interesse”, a pessoa que está menos interessada ou menos envolvida numa relação pessoal pode exercer mais poder (Caldwell e Peplau, 1984; cit. in Felmlee, 1994).

Por outro lado, a equidade pode ser vista como uma avaliação global do equilíbrio, justiça e igualdade da relação ou como uma medida do resultado dos (des)equilíbrios de poder na díade. A equidade é alcançada quando ambos os parceiros obtêm ganhos relativos equivalentes da parte da relação (Hatfield & Traupmann, 1981; cit. in Felmlee, 1994). A iniquidade, por outro lado, ocorre quando o parceiro beneficia mais com a relação do que outro.

No estudo efectuado por Felmlee (1994) observou-se que os homens têm, no geral, maior tendência para serem percebidos como tendo mais poder do que as mulheres. Com base nos critérios de poder utilizados por este autor observa-se que ambos homens e mulheres tendem a afirmar que é o homem aquele que tem mais poder na relação, toma mais decisões, está emocionalmente menos envolvido e, no geral, beneficia mais com a relação.15

Além disso, as percepções do envolvimento emocional correlacionaram-se de forma negativa com as percepções de poder, tratando-se esta uma observação que apoia o “princípio do menor interesse”, no qual os indivíduos que investem menos emocionalmente parecem ter mais a dizer nas suas relações românticas. Adicionalmente, os homens tendem mais a ser vistos como aqueles com menos envolvimento emocional16. Considerados em conjunto, estes dados sugerem que uma forma dos homens ganharem e/ou manterem o poder numa relação íntima é manterem-se relativamente distantes ou desinvestidos.

Por outro lado, Felmlee (1994) formula uma apreciação bastante interessante desta situação ao referir que estes resultados também poderão reflectir uma apreciação de um sobre-envolvimento ao nível emocional da parte das mulheres (e um sub-envolvimento da parte dos homens), resultado provável de uma sociedade pautada pela “feminização” do amor, isto é, a associação do amor apenas ao comportamento expressivo, emocional e feminino (Cancian, 1987; cit. in Felmlee, 1994). Uma ênfase na natureza feminina do amor conduzirá a um exagero do grau segundo o qual as mulheres estão envolvidas emocionalmente e terem menos poder que os homens em relações íntimas, segundo Cancian. Não obstante, parece ser geral um desfazamento entre as noções femininas e masculinas daquilo que constitui uma relação equilibrada.

Uma segunda explicação plausível para a observação de os homens serem frequentemente percebidos como os parceiros com mais poder é o facto de se assumir, nesta realidade social, que os homens têm, em geral, mais poder que as mulheres (Lips, 1991; cit. in Felmlee, 1994). Em média, os homens assumem posições ocupacionais mais poderosas do que as mulheres, ganham mais dinheiro e tendem menos a estar em situações de pobreza (U.S. Department of Labour, 1990; ibid.).

Ser-se dominante parece manter-se um elemento do estereótipo masculino mas não do feminino (Ruble, 1983; ibid.). Tais diferenças nos estereótipos de género estão relacionadas com os papéis que homens e mulheres são esperados desempenhar nas relações íntimas, onde é esperado que os homens sejam os líderes e as mulheres os seguidores (Gerber, 1988; cit. in Felmlee, 1994). É, também, esperado que os homens estejam em posições de domínio ou controlo (Axelrod, 1993; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994), enquanto que as mulheres são encorajadas para sub-afirmarem as suas preferências sexuais (Malamuth & Check, 1980; ibid.).

Por outro lado, pode-se também referir que os homens são geralmente socializados para serem iniciadores sexuais, e as mulheres para serem definidoras e implementadoras de limites (Hatfield, 1983; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994). Estes dados servirão para apoiar o referido "estereótipo masculino de domínio", mas talvez sejam um ponto de partida interessante para se questionar e reinterpretar o conceito de domínio defendido por Ruble, já que os papéis de "definição" e "implementação de limites" constituirão também, em si, referenciais e posições de poder, ainda que não conceptualizadas segundo os mesmos moldes das posições de poder masculino. Isto faz mais sentido se nos basearmos particularmente nos três aspectos do poder nas relações apresentados por Felmlee (1994): o envolvimento emocional, a equidade, e especialmente a tomada de decisão não serão, concerteza, aspectos do poder masculino quando pensamos nos papéis sexuais defendidos por Hatfield.

De qualquer forma, os resultados de Felmlee (1994) apoiam a ideia de que as relações de poder entre homens e mulheres são uma função da estrutura social mais ampla e da cultura nas quais essas relações estão embrenhadas.

 

Notas

  1. Este poder foi operacionalizado (apenas) segundo as medidas ou dimensões referidas no parágrafo anterior.
  2. Estas medidas são, obviamente, discutíveis e criticáveis. A sua aplicabilidade e validade depende da forma como se conceptualiza o “poder”, do tipo de relação que se estabelece, do que se pretende estudar ou compreender na relação, e mesmo das circunstâncias macrosociais e macrorelacionais que se vivem no momento. Neste sentido, porque não considerarem-se outras medidas de poder não apresentadas na literatura tratada, nomeadamente: a atractividade percebida, os objectivos de cada um para a relação, o contexto social e histórico, os valores e papéis sexuais e sociais, o poder físico individual, entre outras?
  3. Estes dados também indicam que as mulheres tendem a relatar terem mais poder nas suas relações do que os homens relatam as suas parceiras terem. Esta interpretação sugere não só que os homens percebem-se a si próprios como tendo mais poder na relação do que as mulheres, mas também que os indivíduos de cada género poderão sobrestimar o seu próprio poder e/ou subestimar o poder dos seus parceiros.
  4. Neste trabalho serão também tratados os mecanismos que interferem no processo de se perceber ou avaliar o “menor ou maior envolvimento emocional” dos homens e das mulheres nas relações, mecanismos esses que estão intimamente associados à primazia da expressividade e a traços considerados preponderantemente “femininos”, o que acarreta consequências importantes na forma de se perceber o “maior” poder dos homens nas relações segundo o “princípio do menor interesse” de Felmlee (1994).