1) INTRODUÇÃO: QUALIDADE DE VIDA HOJE

Neste estudo vamos abrir um espaço para a visão crítica da qualidade de vida e do sistema de saúde questionando as nossas respostas aos estímulos estressantes dentro de um contexto social.

Antigamente, o homem satisfazia apenas com a sobrevivência. Atualmente, o homem passou a aspirar algum conforto pessoal, além naturalmente, da preocupação com a própria sobrevivência, da família e da comunidade, diante de um mundo que poderia oferecer muita comodidade com o consumo de produtos de toda natureza. Subentendia que tudo isto iria satisfazer o bem querer de si e o afeto dos que lhes eram caros.

Nos dias de hoje o excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente, no qual a vida se tornou física e mentalmente comprometida; ar poluído, ruídos estressantes, congestionamento de trânsito, e outros fatores, físico e psicológico estressantes, passaram a fazer parte da vida cotidiana da maioria das pessoas. Nossa obsessão pelo crescimento econômico e emergência pessoal, subjugado por um sistema de valores de uma sociedade altamente competitiva, no qual o objetivo maior passou a ser a busca desarrazoada por dinheiro, prestígio e poder. No Brasil, nesta onda de globalização, há um grande descompromisso político com a qualidade de vida, a situação torna-se grave, uma vez que modelos de produção e gerenciamento importados ocorreram sem considerar o nosso contexto.

Os problemas sociais de nosso tempo são decorrentes de uma visão reducionista e mecanicista da vida, que geraram tecnologia, instituições e estilos de vida patológicos. Neste contexto as doenças surgem cada vez mais freqüentes e esquecemos que estas estão intimamente ligadas com atitudes estressantes, alimentações excessivas e desequilibradas, abusos de drogas, vida sedentária e poluição ambiental, e uma cobrança absurda de produtividade, aliada à aspiração pessoal descontrolada. Acredita-se que 48% dos americanos sofrem ou sofreram de uma doença mental grave. Só uma mudança em todos esses aspectos determinará uma melhora na saúde.

Muitos desses riscos são ainda agravados pelo nosso sistema de assistência a saúde que adota o mesmo paradigma que está perpetuando a saúde precária. Reduzem-se, assim, os cuidados à saúde à medicina hospitalar e farmacêutica, tratando a prevenção e a saúde como processos distintos. Além disso considera-se o corpo humano como uma máquina que pode ser reduzida em termos de suas peças. Há no modelo biomédico de hoje uma divisão entre corpo e mente, onde atém-se apenas ao corpo físico negligenciando os aspectos psicológicos, sociais e ambientais na geração de doenças e sua interação. Deveria lidar com o paciente como um todo, pois enquanto isso não ocorrer não se adiantará gastar cada vez mais com a saúde, pois isso não gerará melhoras significativas na população (Capra,1993; Damásio, 1998).

A saúde tem dimensões todas decorrentes de complexas interações, sendo que a origem da doença tem vários fatores. Além disso seus efeitos diferem de pessoa para pessoa, pois dependem de reações emocionais do indivíduo a situações estressantes e próprias dos ambientes social e biológico.

Nos dias de hoje, embora exista um descontentamento geral a maioria das pessoas ainda não percebe quão profundamente a vida é influenciada por complexos fatores. Prefere-se falar em hipertensão, estresse, doenças cardíacas etc, como algo fisiológico isolado ao invés de conceber uma visão holística da saúde e promover uma transformação social e cultural. Por outro lado, esse movimento holístico da saúde está cada vez mais ativo e procura-se entender e conceber as doenças como um fenômeno multidimensional que envolve três níveis interdependentes:

individual: o indivíduo deveria estar em sincronia consigo mesmo e ter um senso de autodomínio para fazer escolhas menos estressantes e relaxantes. Para isto, o funcionamento do sistema nervoso autônomo parassimpático (SNAP), que é restaurador, deveria predominar e muito sobre o simpático (SNAS), desgastante. Aí está um ponto chave do equilíbrio para alcançar o controle emocional para o nosso bem-estar, tranqüilidade na vida, enfim ficar de bem consigo mesmo. Além disto seria necessário períodos de tranqüilidade, no dia para fazer introspecção e dormir profundamente, que permitem fazer um contato da consciência individual com o seu Ego, obtendo uma melhor percepção interior do seu ser.

social: a sociedade deveria formular e adotar novos modelos políticos, produzindo um novo sistema de valores na cultura social, em que se buscasse com prioridade a qualidade de vida e o de atingir a qualquer preço os indicadores econômicos.

ecológico: as novas políticas a serem adotadas deveriam visar a manutenção de um ambiente sadio e auto-sustentável, diminuindo os fatores agressivos do dia-a-dia e aumentando a chance de uma integração natural do homem com seu meio.

Enfim para se evitar os distúrbios psicossomáticos deveremos entender a pessoa como um todo, envolvendo corpo, mente, ambiente físico e social. Com esses objetivos pretendemos esclarecer a causa das doenças psicossomáticas e propor alguns modelos de como sanar as doenças e promover a saúde.