Introdução

No contexto da sociedade contemporânea, em que pessoas e estruturas se encontram em permanente transformação, temos consciência – e assumimo-la, que também os valores de referência sofrem uma profunda mudança que é necessário perceber e acompanhar.
Sabendo que a psicologia tem como objectivo promover e cuidar do bem-estar psicológico, temos, como profissionais de saúde que somos, responsabilidades perante os indivíduos, a família e a comunidade. E sendo a Psicologia essencialmente “relação de ajuda”, marcada pelo dinamismo e preocupação com os outros, devemos aceitar que ela é uma profissão que tem que se reger por normas ético-morais. Estas decorrem da convicção universalmente reconhecida de que a pessoa humana tem um valor incomensurável e de que a vida humana é inviolável. Por isso, há que reflectir sobre as questões éticas, como referência para o exercício da profissão de Psicologia, onde a dignidade Humana (mulher/feto) é um valor fundamental a promover.
A problemática do aborto jamais poderá alhear-se das questões ético-morais que a envolvem, dado que o aborto implica inevitavelmente a morte de “alguém”, em detrimento de “outro alguém” ou de determinada situação/circunstâncias. Trata-se portanto de uma questão que urge reflectir. E reflectir, é elevar o nosso pensamento a uma compreensão lúcida, coerente e fundamentada, para só depois, poder apoiar e ajudar. Daqui decorre a importância deste trabalho, enquanto momento de reflexão, que deve orientar a nossa acção.
Este trabalho tem como objectivo uma intensa reflexão sobre as várias questões éticas que envolvem a problemática do aborto, nomeadamente a sua coerência, sob o ponto de vista teórico, mas também a sua capacidade de aplicação, sob o ponto de vista prático. Nesta perspectiva, a análise dos dados, a exploração e reflexão críticas estabelecem-se como uma exigência de fundamentação, garante da sua objectividade, e com uma necessidade normativa, garante da sua eficácia.
Este trabalho encontra-se estruturado em três partes essenciais: a introdução, na qual apresentamos o tema em análise, o seu objectivo e sua importância; a reflexão crítica, na qual analisamos diversos textos e artigos científicos, salientando as várias questões éticas que lhe estão subjacentes, nomeadamente as suas implicações e relevância para a prática clínica; por último, a conclusão, onde apresentamos uma síntese de toda a reflexão.