A linguagem permite ao homem ligar o presente ao passado e antecipar o futuro. É através dela que o homem pensa, lembra, elabora conceitos, organiza suas experiências, trabalha no nível de abstração, prevê, julga, planeja, idealiza.

Desde seu nascimento, a criança passa a viver e a ter contato com a mãe, em seguida interagindo com outras pessoas, assim, aos poucos, ela constrói e desenvolve seu mundo, e, nesse caso, o seu mundo lingüístico. É nesse processo, desde seu nascimento até o momento que adquire a linguagem, que estão os estudos sobre a aquisição da linguagem.

A princípio, o interesse sobre esse assunto pode ser encontrado no século XIX quando os estudiosos, nesse caso, os pais, registravam as falas de seus filhos em livros, elaborando diários.

Nesta época, prevalecia a fase da Lingüística Histórica ou da Gramática Comparada , que estudava as línguas vivas e as comparações entre elas. A partir dos trabalhos de F. de Saussure a Lingüística foi reconhecida como estudo científico e a partir  da segunda metade do século XX ela passa a ser descritiva e explicativa segundo a Gramática Gerativa Transformal proposta por Chomsky.

Dentro dessa nova perspectiva surgiu à sociolingüística e a psicolingüística e é no campo dos estudos lingüísticos que podemos adentrar ao estudo da aquisição da linguagem fazendo menção dos processos psicológicos implicados à aquisição.

Na oralidade, a psicolingüísticos é um campo muito amplo, uma área de pesquisas variadas, cabendo o investigador optar por uma área específica, neste caso, dentro dos estudos psicolingüísticos, optamos sobre o estudo da aquisição da linguagem.

Os principais questionamentos que se fazem acerca de como as crianças adquirem a linguagem são as seguintes: Como as crianças aprendem tão rápida a língua materna? Será que ela já nasce com uma pré-disposição ou ela é adquirida? Existe um período crítico para uma aquisição? Existe uma diferença entre o processo de aquisição da linguagem de uma criança normal e uma criança com algum tipo de desvio? A fonologia das primeiras palavras é adquirida antes da morfologia e sintaxe ou vive-versa?

Para melhor explicar estas questões, várias teorias foram lançadas. Vejamos então a seguir uma breve visão das correntes teóricas sobre a aquisição da linguagem infantil.

 

1 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO SEGUNDO A PROPOSTA EMPIRISTA

O pensamento empirista foi à base para as duas primeiras teorias em aquisição. A        mente não era considerada fundamental para justificar o processo de aquisição, importava somente que o conhecimento humano era produzido a partir de suas experiências com o mundo através de estímulos e respostas. Nessa perspectiva, nasce a teoria  Behaviorista pressupondo que a criança desenvolve seu mundo ou conhecimento lingüístico através de estímulo-resposta ( E – R ) imitação e reforço. B. F. Skinner fundamenta sua teoria com base nos reforços que a criança sofre que podem ser esforços positivos ou negativos. De acordo com esses reforços a criança manteria ou eliminaria algum tipo de comportamento referente à linguagem e isso a ajudaria a construir, a desenvolver e aprender uma determinada língua.

O Behaviorismo, porém, não levou em conta a criatividade que a criança possui, por exemplo, quando ela profere certas construções que não foram ensinadas previamente a ela. A criatividade, portanto, seria alvo de vários estudos posteriores.

Outra teoria com base na proposta empirista é o conexionismo ou associacionismo. Essa teoria admite que o cérebro e suas reses neurais são responsáveis pelo aprendizado imediato no mesmo instante que ocorre a experiência. Essa teoria baseia-se na interação entre o organismo e o ambiente, porém, não explica com coerência a rapidez com que a criança aprende uma língua.

  

2 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO SEGUNDO A PROPOSTA  RACIONALISTA

Diferentemente dos empiristas, os racionalistas atribuem à mente a responsabilidade pela aquisição da linguagem. Pressupõem que todo ser humano nasce com uma capacidade inata que subjaz o processo de aquisição.

Segundo os inatistas, ao observarem uma criança de aproximadamente 3-4 anos vivendo em um meio em que todos falam uma determinada língua viram que as mesmas eram capazes de produzirem sons dessa mesma língua com rapidez e precisão levando esses estudiosos a concluírem que a partir dessa idade a criança já está com sua “gramática” quase completa. É que, ao contrário dos behavioristas, esta aquisição não se dá por repetição e sim por outro meio a pré-disposição em adquirir uma língua é transmitido geneticamente, a criança já nasceria com uma certa competência em adquiri-la. No entanto, esse conhecimento considerado inato só é ativado através do contato com outras pessoas que falem a mesma língua a qual a criança está exposta. Através desse contato intenso, as sentenças recebidas pela criança são trabalhadas gerando a gramática de sua língua, tudo isso por meio de um  dispositivo de aquisição da linguagem: o DAL. É a partir desses pressupostos que Noam Chomsky propõe a Gramática Universal baseada na intuição do falante.

A teoria inatista entretanto, deixa de lado o papel do conhecimento na aprendizagem da língua da criança cabendo as outras teorias nesse estudo, como as teorias cognitivistas e interacionalistas. Essas teorias convergem e divergem entre si, ambas construtivistas, as duas partem do mesmo pressuposto de que as crianças constroem a linguagem, porém, diferem de como elas contraem essa linguagem. Enquanto que o cognitivismo, representado por Piaget propõe que a criança constrói seu conhecimento através da experiência com o mundo físico e que nesse conhecimento se desenvolve por estágio admitindo o egocentrismo da criança, o interacionalismo de Vygostsky se baseia nas trocas comunicativas entre a criança e o adulto, o desenvolvimento da linguagem e o pensamento tem origem social através dessa interação.

Piaget e Vysgotsky estavam mais interessados em explicar a relação linguagem e pensamento do que a aquisição da linguagem. Como vimos, suas teorias surgiram para explicar as questões referentes ao processo do conhecimento adquirido na aprendizagem da língua, que Chomsky havia minimizado em seus estudos.

O estudo sobre aquisição tanto contribuiu para as pesquisas lingüísticas quanto para o estudo da cognição humana. Para se estudar a aquisição da linguagem é preciso adentrar em suas teorias, pois foram a partir delas que se  iniciaram estudos sobre o assunto, cada uma tenta melhorar explicar expondo suas idéias  pressupostos como as crianças adquirem a linguagem e é nelas, portanto, que podemos nos fundamentar se quisermos seguir em diante no mundo lingüístico infantil e descobrir que muito se tem para estudar sobre o assunto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEL RÉ, Alessandra. A aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto, 2006.

DEL RÉ, Alessandra.  A pesquisa em aquisição da linguagem: teoria e prática. In DEL RÉ, Alessandra – A aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto pp. 13 – 25.