INTRODUÇÃO

O presente artigo mostrará algumas das principais teorias de aquisição de Língua Estrangeira (LE). Desta forma mostraremos como fatores como afetividade e o meio, encontrados nessas teorias podem influenciar no processo de aquisição de uma língua estrangeira. Observaremos também que cada teoria observa pontos diferentes do processo de aquisição de L2, uns tendem ao cognitivismo outras ao social, e outras aos aspectos lingüísticos.

           

AS TEORIAS DA AQUISIÇÃO DE LE

 

1.1. Psicolingüística Vygotskiana

Para  Vygotsky o pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala. Uma vez admitido o caráter histórico do pensamento verbal, devemos considerá-lo sujeito a todas as premissas do materialismo histórico, que são válidas para qualquer fenômeno histórico na sociedade humana (Vygotsky, 1993 p.44).

 Todos nós estamos sujeitos a interferências históricas, entende-se que, o processo de aquisição da ortografia, a alfabetização,o uso autônomo da linguagem escrita, bem como a aquisição de uma língua estrangeira são resultantes não apenas do processo de ensino-aprendizagem propriamente dito, mas das relações subjacentes a isto.

 Segundo Vygotsky os nossos pensamentos são fruto da motivação, ao sentirmos necessidades específicas, desejos, interesses ou emoções, somos motivados a produzir pensamentos. Essa idéia de afeto também é citada no Modelo Monitor o qual veremos a seguir. Trazendo isto para a aquisição de uma língua estrangeira logo chegamos à conclusão de que é necessária uma motivação intrínseca para que sujeito sinta maior afinidade e interesse pela mesma.  

A linguagem é construtora do pensamento, porém nem toda forma de aprendizado é sinônimo de desenvolvimento, antes, o pensamento o é. O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (Vygotsky, 1991 p. 101).

Segundo Vygotsky, a motivação é um dos fatores principais não só para o sucesso da aprendizagem, como também na aquisição de uma língua estrangeira. Vale salientar que Vygotsky não voltou seus estudos para a aprendizagem da segunda língua o que não significa que suas teorias não possam ser perfeitamente encaixadas aqui. Segundo Maria Alice Venturi, os  estudos de Vygotsky não se limitaram a descrição dos produtos mas sim a compreensão do processo de aprendizado da língua.

 

1.2. Modelo  do Monitor

Existem sentimentos os quais muitas vezes determinam o bom desempenho ou não de um sujeito em determinadas atividades. Aqui identificaremos que fatores emocionais podem contribuir para o bom desempenho no processo de aprendizagem de uma segunda língua.                                                                     

Dentre as investigações realizadas no campo da aquisição de L2 e LE que consideram o aluno, as suas diferenças individuais e a importância do domínio afetivo, o modelo de Stephen Krashen ocupa um lugar de destaque.  

Krashen (1987) formulou sua teoria de aquisição da LE composta por cinco hipóteses: a distinção entre aquisição e aprendizagem, a ordem natural, o monitor, o insumo e o filtro afetivo, sendo as duas últimas hipóteses consideradas por ele como responsáveis para que a aquisição ocorra.                

A teoria do monitor define a relação entre aquisição e aprendizagem, diz Citolin. Nossa capacidade natural de assimilar línguas é decorrente de esforços espontâneos, somos disciplinados através das regras gramaticais e suas exceções. A gramática e suas regras nos servem de monitores refletindo sobre nós diferentes características de personalidade. Baseando-se nos estudos de Krashen, Citolin afirma que pessoas tendenciosas à introversão, à falta de autoconfiança, ou ao perfeccionismo, poderão desenvolver um bloqueio que compromete a espontaneidade devido à consciência da alta probabilidade de cometerem erros. Já as pessoas que tendem a extroversão, pouco se beneficiarão da aprendizagem, uma vez que a função de monitoramento é quase inoperante, pois está submetida a uma personalidade que se manifesta sem maior cautela. Segundo ele,

“ o aluno só adquirirá o que estiver no ponto certo de seu desenvolvimento maturacional, não importando a freqüência com que ele é exposto, e nem o grau de dificuldade envolvido. Assim, as estruturas que esteja além de seu desenvolvimento serão apenas memorizadas, sem contudo, serem integradas, o que significa uma não capacidade desse aluno de usá-las efetivamente.” (Krashen, 1987).

 Para Krashen, o filtro afetivo é o primeiro obstáculo com que o insumo se depara antes de ser processado e internalizado.

A hipótese do filtro afetivo, portanto, incorpora a visão de Krashen de que um número de variáveis afetivas tem um papel facilitador na aquisição de uma segunda língua. Estas variáveis afetivas incluem: motivação, autoconfiança e ansiedade. Aprendizes motivados, confiantes e com baixa ansiedade tendem a ser bem sucedidos no processo de aquisição de uma segunda língua.

 

1.3. Teoria dos Universais Lingüísticos

Segundo essa teoria ao nascermos já possuímos de forma inata traços comuns referentes a todas as línguas; aqui os chamaremos de características universais da fala. Esses traços são adquiridos geneticamente como explica Chomsky em sua teoria inatista.

Todas as crianças, na visão de Chomsky, nasceriam biologicamente preparadas para adquirir a linguagem, dependendo apenas do ambiente físico para acionar a língua que será falada. “(...) para que o processo se inicie, não basta essa capacidade inata, é preciso que a criança esteja em um determinado meio (social, cultural, etc.)...” (Del Ré, pp.20,2006).

Voltando para o ensino e aquisição da L2, a teoria dos Universais Lingüísticos, determina dois pontos; o primeiro refere-se à aprendizagem do conteúdo gramatical de determinada língua, e o outro, às estruturas encontradas em todas as línguas, ou seja, as estruturas universais da língua.

Segundo Venturi, os aprendizes sempre apresentam maior dificuldades no processo de aprendizagem das regras gramaticais as quais serão de um modo geral novidade. Quanto as estruturas comuns da sua língua materna e a L2 não haverá muitos problemas devido as comparações e adequações possíveis que podem ser feitas. Desta forma a parte gramatical deverá ser trabalhada mais freqüentemente e de forma mais dinâmica.        

 

1.4. Teoria do Discurso

Dentro dessa ótica entende-se o domínio de uma segunda língua só acontecerá  através do envolvimento do aprendiz em uma ação recíproca com a língua. Ellis resume em três situações o processo de aquisição segundo a teoria do discurso.

Primeiramente o aprendiz de uma língua estrangeira aprenderá como se dá o desenvolvimento sintático daquela língua. Segundo Ellis, esse processo é natural a todo aprendiz de línguas.    

Os falantes nativos tenderão a ajustar sua fala de modo a estabelecer comunicação ou negociar os significados, com os falantes não nativos.

E por fim as estratégias que vão surgindo tanto por parte dos nativos como do aprendiz vão fazendo com que o segundo adquira primeiro domínio sob as sentenças que mais necessita em sua comunicação. Nesse momento a análise das palavras não importa tanto e sim se estão estabelecendo comunicação.    

 

1.5. Teoria Cognitiva, segundo Castro

O processo de desenvolvimento e aprendizagem da L2 é dado através de um processo mental assim como todas as demais habilidades como escrever, por exemplo. Para Castro as habilidades se tornarão automáticas ou rotineiras após processos analíticos.  Esses processos analíticos são o domínio dos conteúdos gramaticais bem como da escrita, fala, etc. Tendo pleno domínio das habilidades lingüísticas dentro da língua estudada os processos automáticos ocorrerão naturalmente. Castro observa uma outra perspectiva da teoria cognitiva, a qual trata entende  que a língua se reestrutura constantemente, devendo por tanto ser trabalhado também com o aprendiz esse aspecto da língua.  

 

CONCLUSÃO

Ao conhecermos cada uma destas teorias tornamo-nos cientes da importância de cada uma para o processo de aquisição de uma língua estrangeira. Enquanto uns preocupam-se em entender como se dá o processo de aquisição, outros buscam estabelecer a relação entre aquisição e aprendizagem, e outros entendem através do discurso e das negociações esse processo, enquanto outros firmam tratar-se de um processo mental. Desta forma concluímos que todas estes teorias são importante voltadas para as duas áreas específicas e complementam-se ao buscarem entender como se dá o processo de aquisição da língua estrangeira.

 

BIBLIOGRAFIA

CITTOLIN, Simone Francescon. A Teoria de Krashen e a Hipótese do Filtro Afetivo, sfcittolin@unipar.br.

www.wikipedia.org/psicolinguistica

VENTURI, Maria Alice. Aquisição de língua estrangeira numa perspectiva de estudos aplicados. Ed. Contexto, São Paulo (2006).

RÉ, Alessandra Del, A Pesquisa em Aquisição da Linguagem: teoria e prática. Ed. Contexto, São Paulo (2006).

DUBOIS, Jean, Dictionnaire de Linguistique. Paris, Ed. Librarie Larousse (1973), trad. port. Dicionário de Lingüística. São Paulo, Ed. Cultrix (1991).