No presente artigo, falaremos de forma sucinta de como ocorrem os distúrbios da linguagem oral os quais se manifestam na interação social; das vertentes receptiva e expressiva e seu objeto de estudo. Nos limitaremos aqui aos distúrbios em virtude da profundidade e particularidade de cada um. 

Vale ressaltar, que os estudos acerca dos vários distúrbios concernentes a linguagem ainda são recentes, há muito que descobrir para se chegar a respostas mais concretas. As características podem ser muitas vezes quase imperceptíveis, pode haver dificuldades na identificação em conseqüência da singularidade dessa condição, pois portadores de distúrbios da linguagem apresentam dificuldades de comunicação assemelhando-se por vezes a doentes psíquicos.

As crianças com distúrbios de linguagem apresentam em seu desenvolvimento déficits em suas habilidades lingüísticas, necessitam de estímulo especial. Desta forma, as etapas posteriores poderão seguir sem que haja prejuízos para o seu desenvolvimento global, tanto a nível cognitivo como afetivo. O aspecto sócio-ambiental, representado pela família e escola, é de vital importância para a aprendizagem. É na família que a criança adquire suas primeiras conquistas intelectuais e afetivas, determinantes na estruturação de seu modelo de aprendizagem, o qual irá utilizar para a conquista do conhecimento.

 

AS VERTENTES RECEPTIVA E EXPRESSIVA

Quanto a vertente receptiva não há tanto a se falar. Trata-se da alteração que interfere na compreensão da linguagem, sendo que esta perda ocorre sem que haja perda auditiva. Essa perda da compreensão lingüística é chamada de agnosia verbal. A agnosia verbal pode gerar perdas nas capacidades de percepção.  Para ilustrarmos esta idéia definiremos linguagem, “ linguagem é um sistema finito de princípios e regras que permitem que um falante codifique significado em sons e que o ouvinte decodifique sons em significado”  (DIANA KAUFMAN, 1996). Logo, se essa capacidade de codificação decodificação forem ausentes num dado ser certamente o mesmo encontrará dificuldades de comunicação.  

No que diz respeito a vertente expressiva trataremos dos distúrbios que podem ocorrer nos níveis: da articulação, fonológico, morfossintático, lexical, e semântico pragmático.

 

Distúrbios da articulação ou dislalias

Para produzirmos os sons é necessário termos controle sobre a musculatura facial, para crianças pequenas coordená-las é uma tarefa mais difícil, pois de acordo com as explicações de Cristiane Préneron, caso haja uma pequena alteração na articulação da língua certamente produziremos um som “errado”. De acordo com o grau desta patologia pode-se chegar à impossibilidade da produção de sons por meio da articulação, neste caso trata-se de uma patologia da prexis articulatória.

“A dislalia (do grego dys + lalia) é um distúrbio da fala, caracterizado pela dificuldade em articular as palavras.” (wikipedia.org).

Ao emitir os sons o portador da dislalia pode omitir fonemas ou mesmo sílabas. Com isso podemos identificar alguns sintomas da dislalia como: omissão (o falante omite como já disse acima fonemas e/ ou sílabas), substituição e deformação dos fonemas. Por exemplo, quando a criança diz “omei”= “tomei” (omissão),“adolo” =  “adoro” (substituição),  ou “Atelântico”= “Atlântico”(acressimo).

O dislálico pode desenvolver uma linguagem normal ou com leves retardos. Nesses casos não se observa problema de ordem articulatória semelhante ao supra citado. Os dislálicos normalmente possuem habilidade s para imitar os sons, e não encontram dificuldade em pronunciar vogais e ditongos.

Essa dificuldade de articulação se dá devido a irregularidades de ordem orgânica ou funcionais. As perturbações orgânicas são oriundas da má formação ou alteração de inervações da língua, abóbada, palatina e os de mais órgãos fonadores. As perturbações de ordem funcionais podem ser oriundas de imitação ou alterações emocionais, ou fatores hereditários.

 

Os distúrbios fonológicos

O distúrbio fonológico apresenta grande ocorrência na população infantil. Por isso é importante a identificação destes problemas durante a infância, uma vez que os sujeitos com distúrbio fonológico tem freqüentemente alteração na sensibilidade fonológica, resultando em dificuldade da aprendizagem da leitura e escrita posteriormente. (GIERUT, 1998).

Alterações da fala caracterizadas pela produção inadequada de sons, e uso inadequado de regras fonológicas da língua afetam o significado da mensagem, e é desta forma que se dá o distúrbio fonológico.

“A desordens do sistema fonológico são bem maiores do que as simples falhas de articulação que podem ser ouvidas nos discursos de crianças muito pequenas... os distúrbios aumentarão com a extensão da palavra.” (PRÉNERON, Christiane, 2006).

Quanto ao diagnóstico, deve-se identificar o inventário fonético da criança, e também analisar as estruturas e palavras, indicando as regras fonológicas usadas pela criança e os contrastes mantidos em sua fala. 

 

Distúrbios da Prosódia

Prosódia é um termo que se refere a pronuncia regular das palavras segundo a acentuação tônica. Desta forma entende-se que os distúrbios da prosódia estão relacionados à deficiência da pronuncia regular ou fluência verbal.

O gaguejamento é uma patologia da prosódia. Pose estar simplesmente ligado ao momento em que a criança está sendo inserida no meio escolar, relacionando-se nesse caso, questões afetivas da criança, ou pode está ligado a lesões cerebrais e traumatismos de ordem psicológica ou psicossomática.

Os gaguejos podem ser discretos ou não, manifestando-se normalmente em momentos de tensão que acabam por bloquear a fala no sujeito, trazendo constrangimentos ao mesmo.

 

Os distúrbios morfossintáticos

No aspecto morfossintático há referência ao desenvolvimento da morfologia flexional, assim como as regras de ordenação das palavras. O termo morfologia engloba todos os aspectos da formação das palavras, mas no contexto do desenvolvimento da linguagem este termo é utilizado como abreviatura de morfologia flexional.

“Chama-se Sintaxe a parte da Gramática que descreve as regras pelas quais se combinam as unidades significativas  em frases.” (DUBOIS,1973)

Crianças que possuem distúrbios morfossintáticos tem dificuldades no processo de aquisição da linguagem, pois seu aprendizado é retardado, pois não conseguem aprender enunciados mais complexos com a mesma rapidez das crianças normais.

Este distúrbio está relacionado a capacidade de juntar as palavras e formar frases com s         ignificados lógicos. Desta forma acabará por não atingir o nível de compreensão e combinação na idade correta.

 

As disnomias da lembrança das palavras

Disnomia é a dificuldade na nomeação do objeto. Crianças com dislexia possuem essa característica, claro, agrupada a outras mais perceptíveis. Para detectar as disnomias é necessário um teste de evocação. Pois as particularidades desse distúrbio são muito sutis, podendo estar relacionadas a características fonológicas do léxico.

 

Os distúrbios semântico pragmáticos

Trata-se da função da linguagem em sua dimensão comunicacional. (PRÉNERON, Christiane, 2006). Entendemos então que a síndrome sintática pragmática acontece no nível das inter-relações, em nível de socialização, pois os sujeitos afetados não compreendem a linguagem e sua função. Desta forma não interagem com o mundo a sua volta retraindo-se.

Segundo Préneron essas crianças fazem perguntas freqüentemente, porém não se interessam pela resposta ou não prestam atenção. Não conseguem perceber uma ironia, brincadeira ou metáfora. As características das deficiências pragmáticas são observadas no autismo infantil, que tem como sintoma essencial um severo déficit cognitivo, a mais importante desvantagem dessas crianças em relação às outras. Mesmo as profundas alterações no inter-relacionamento social, típicas do autismo, seriam secundárias ao déficit cognitivo básico. A prevalência sintomatológica começa a ser dada aos déficits cognitivos, em relação ao social. E existe a hipótese do autismo constituir-se num específico prejuízo do mecanismo cognitivo de representação da realidade

 

DISFASIAS

As disfasias são caracterizadas por dificuldade no falar, dificuldades de coordenação e capacidade para ordenar as palavras, por conseqüência de uma lesão no centro nervoso. As disfasias geram distúrbios graves que afetam a aquisição da linguagem em tempo normal e desvios duradouros que podem persistir ao longo da vida.

Conforme a definição do Dicionário de Lingüística, “Na criança, a disfasia é uma perturbação da realização da língua, cuja compreensão foi pouco atingida, e que se deve a um retardamento na aquisição e no desenvolvimento das diversas operações que garantem o funcionamento da língua”.(DUBOIS, 1991). 

Segundo Paulo Cesar Trevisol-Bittencourt, a função da linguagem encontra-se no hemisfério cerebral dominante, que fica do lado esquerdo do cérebro, em cerca de 90% dos seres humanos. Cada palavra que falamos é elaborada no hemisfério cerebral dominante. E no mesmo hemisfério encontra-se a área responsável pela compreensão e interpretação simbólica da língua. Com isso, concluímos que lesões nessas áreas ocasionarão as disfasias.

Alguns sintomas podem estar associados a portadores de disfasias como: Agrafia, incapacidade de escrever; Acalculia, incapacidade de fazer cálculos; Alexia, impossibilidade de leitura; e Desorientação direita-esquerda, os portadores são incapazes de discernir os lados do corpo.

Hoje existem tratamentos eficazes que são feitos com o acompanhamento de fonoaudiólogos e outros profissionais.

 

CONCLUSÃO

Os distúrbios da língua oral podem ser muito prejudiciais ao desenvolvimento da criança e sua interação no meio social. È de suma importância detectá-las na infância de forma que possam ser diagnosticadas e tratadas a tempo.

Muitos casos, por exemplo, como os que as crianças apresentam lesões cerebrais serão mais dificilmente tratados, mas uma intervenção em tempo oportuno ajudará a integrar o sujeito a sociedade de forma participativa.

Há muita expectativa com relação aos resultados, visto que os estudos nesta área estão avançando.   

 

BIBLIOGRAFIA

PRÉNERON, Chistiane. Distúrbios da linguagem oral e da comunicação na criança. pp. 63-83, São Paulo, 2006.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dislalia.

HAUFMAN, Diana. A natureza e sua Aquisição. In GERBER, Adele. Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem: sua natureza e tratamento. Tradução de Sandra costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. pp.51-71.

Pró-Fono R. Atual. Cient. vol.17 no.2  Barueri May/Aug. 2005.

DUBOIS, Jean, Dictionnaire de Linguistique. Paris, Ed. Librarie Larousse (1973), trad. port. Dicionário de Lingüística. São Paulo, Ed. Cultrix (1991).