O presente trabalho visa investigar os efeitos do início da medicação com metilfenidato sobre as relações familiares de crianças hiperactivas até então não-medicadas. Para esse efeito foi usada a metodologia de estudo de caso, incidindo sobre a família nuclear de quatro crianças entre os 6 e os 12 anos de idade. A análise feita revelou que esta terapêutica farmacológica não é o único agente a ter efeito sobre a hiperactividade da criança, a sua evolução e a respectiva percepção e vivência feita pelos pais, pelo que se depreende que os factores relacionais desempenham um papel de peso na evolução de uma criança hiperactiva medicada e da sua dinâmica familiar. Independentemente da diminuição ou não do índice de hipercinésia e do grau de satisfação parental com o metilfenidato, verifica-se que em todos os casos se manteve uma matriz relacional de proximidade por vezes simbiótica com a mãe e evitamento e frieza por parte do pai. Os irmãos da criança hiperactiva tendem a assumir um papel de apoio no seio da família mesmo quando são ainda crianças ou atravessam a adolescência, sentindo não haver resistência psicológica na rede familiar para comportar a disrupção que o seu próprio processo de crescimento poderia provocar. Apesar de se registarem algumas melhorias – principalmente a nível escolar –, depois de três meses de medicação as crianças hiperactivas mantêm as características psico-afectivas ligadas à perturbação. Estas ligam-se essencialmente ao âmbito das dificuldades relacionais e da desorganização afectiva, o que sugere a importância do acompanhamento psicoterapêutico nestes casos. Em investigações futuras interessará explorar o efeito de outras perturbações concomitantes no modo de reorganização familiar, assim como a execução de um estudo longitudinal e a expansão da dimensão da amostra.