Apesar de os homens sofrerem mais acidentes automobilísticos fatais, são as mulheres que mais frequentemente apresentam medo de dirigir. Mesmo cientes da praticidade do automóvel no seu dia-a-dia, e apesar de sentirem grande necessidade e vontade de dirigir, para muitas mulheres o ato desperta verdadeiro pavor ao se imaginarem ao volante de um veículo. Sendo assim, esta pesquisa teve por objetivo conhecer e analisar os fatores que influenciam mulheres que já obtiveram a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) a apresentar medo de dirigir, mesmo quando não passaram por nenhuma experiência traumática no trânsito. Para tanto, foi realizada uma entrevista semiestruturada com quatro mulheres com idades entre 23 e 59 anos e que não dirigem por afirmarem sentir medo. O método usado para a interpretação dos dados foi a análise de conteúdo de Bardin. Os resultados apontam que o medo de dirigir não se relaciona diretamente com o carro-objeto, mas com situações que vão para além dele e englobam um perfil psicológico específico e uma construção histórica de vida que envolve crenças centrais de desamparo e a consequente autopercepção de incapacidade, que as leva à acomodação. Há ainda uma visão distorcida do carro que é compreendido como algo excessivamente perigoso, ameaçador e suscetível a causar tragédias. Assim, constata-se que há significados psicossociais que perpassam o medo de dirigir, por isso a necessidade de ampliar a compreensão deste e de seu tratamento, que na maioria das vezes ainda encontra na Fobia Específica seu único diagnóstico.