Foram as transformações no conceito de saúde, ocorridas entre as décadas de 70 e 90, quando esta passou a ser compreendida como um fenômeno biopsicossocial, que se constitui então um marco na criação de um espaço para a atuação do psicólogo nos Serviços de Saúde, incluindo os hospitais. E é esse modelo biopsicossocial que sustenta a prática do psicólogo ao proporcionar escuta do paciente em suas dimensões física, psíquica e social, no ambiente hospitalar, com foco no sujeito e não em sua patologia. Embora nos dias atuais, os hospitais sejam vistos como empresas, as técnicas e práticas da psicologia organizacional não se aplicam a esse ambiente em virtude do mesmo lidar com “produtos” diferenciados: a Vida e a Morte; o que torna a atuação do psicólogo nessas instituições, uma tarefa complexa. Evidente que reproduzir práticas clínicas de consultório em leitos de enfermaria ou no próprio setor de quimioterapia, é inviável por não trazer respostas às necessidades do paciente muitas vezes em processo de terminalidade, e nem mesmo aos seus acompanhantes, sejam estes familiares ou não; ressaltando ainda a carência de ambiente propício para atendimento que contemple, por exemplo, o sigilo, enquanto uma necessidade do atendido e uma prática ética. O objetivo deste trabalho é vislumbrar o modelo de clínica ampliada no ambiente hospitalar, sob o olhar teórico da psicanálise quanto ao sujeito, fazendo uso da observação, escuta, acolhimento e da psicoterapia breve como técnicas interventivas possíveis, neste ambiente dotado de rotatividade, onde os processos são, na maciça maioria, breves e alternados, numa tentativa de promoção de saúde. Abordando, ainda que de forma sucinta, em razão da dinâmica hospitalar, a questão do luto na perspectiva psicanalítica, com uma breve explanação de suas principais fases, com o objetivo de salientar a importância da elaboração do mesmo. Também a relevância do conceito de cuidados paliativos que preconiza um atendimento multi e interdisciplinar, a fim de fornecer alívio para dor e sintomas estressantes diversos; reafirmar que vida e morte são processos naturais; integrar aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente; não apressar ou adiar a morte; oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente, oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte; usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. E neste rol de cuidados paliativos, surge o conceito de dor total, como uma experiência sensorial e emocional desagradável, descrita em termos de lesões reais ou potenciais. É sempre subjetiva e relacionada com experiências traumáticas do sujeito – o que ressalta a relevância do Psicólogo na intervenção quanto a dor, visto que toda dor tem componentes psicológicos e estes são importantes em todos os tipos (aguda, crônica e recorrente) e todos os estágios da dor. Logo, o Psicólogo tem papel preponderante na prevenção de dores desnecessárias e disfunções associadas, no amplo espectro da prevenção primária ao cuidado terminal, num ambiente hospitalar.