A linguagem faz de nós humanos, a escrita faz de nós civilizados. Mas será que o alfabeto Grego nos tornou modernos? Neste trabalho defende-se que o alfabeto Grego é único, tanto em termos de processos psicológicos subjacentes à forma como é lido, como no seu impacto na cultura do mundo antigo. Outros sistemas de escrita antigos eram lidos lexicalmente em vez de fonologicamente (um facto conhecido a partir da investigação dos seus equivalentes modernos). A leitura fonológica parasita as competências de discurso do leitor permitindo-lhe, uma vez adquiridas as “letras”, ler com um vocabulário tão grande quanto o seu vocabulário oral. O vocabulário de leitura lexical é adquirido apenas de forma lenta e parcial. Isto sugere que a leitura seria diferente na Grécia, o que de facto aconteceu – noutros lugares a leitura era uma actividade de elevado “status”; na Grécia tratava-se de uma tarefa delegada a escravos. Uma vez que todos – caso o desejassem – sabiam ler, o poder não estava associado às elites letradas – como acontecia em outros lugares. Este cenário permitiu a ascensão de uma cultura na qual a autoridade da tradição era livremente criticada. O resultado consistiu em inovações culturais como a democracia e a matemática axiomática.