A etnologia interacionista não é apenas uma simples técnica, no sentido restrito do termo, mas antes um verdadeiro processo metodológico a considerar no âmbito das epistemologias construtivistas. Sendo o trabalho de campo extremamente importante, diremos mesmo, imprescindível, há que se ter consciência de que a observação não é neutra. Uma vez que o objeto de estudo, pela sua própria natureza, se caracteriza pela sua complexidade, a relação que se estabelece entre a singularidade do observador e a singularidade do observado só pode ser entendida como uma relação que não e explicável (ex - plicavel), mas compreensível (com - preensível). O objeto da investigação é, assim, considerado um indicador de problemática, transformando-se a etnografia numa aventura intelectual de dimensão epistemológica. O outro, o objeto, é um sujeito que tem um sistema próprio de interpretação global do mundo, mas que, pela sua dimensão de estrangeirismo, difere dos referentes do próprio investigador. Pode-se comparar a atitude do etnógrafo com atitude de admiração de Sócrates perante o comportamento dos homens. Como diz R. E. Park, os métodos etnográficos de observação são muito mais eficazes num contexto materialmente próximo do que num contexto totalmente desconhecido, do outro lado do mundo. A descrição de situação é, deste modo, uma descrição implicada que pressupõe o olhar etnográfico. Deixa-se de "voire l'objet" para "regarder le sujet". No fundo, é um trabalho sobre o choque das interpretações o que caracteriza a etnografia interacionista. Não se nasce etnógrafo : torna-se etnógrafo.