O interesse pelo estudo da linguagem por parte do ser humano existe há muito tempo, o que pode ser verificado na literatura, em poesias, nas religiões ou em letras de músicas que tratam do assunto. Desde a hermenêutica (ex. interpretação da bíblia), procedimentos grafológicos, até análises de sonhos por Freud, a análise de conteúdo estava presente na psicologia como uma técnica de absorção genuína dos discursos, utilizando-se de diferentes enfoques para análise e comparação de textos. Atualmente, a análise de conteúdo tem sido muito utilizada na análise de comunicações nas ciências humanas e sociais, especialmente por Bardin (1979). O Brasil, como explicitado acima, sempre foi citado como exemplo de democracia racial: construiu uma imagem de que todas as raças e etnias viviam harmoniosamente, mas pesquisas constatam que a realidade é que os brasileiros que não possuem a cor da pele clara se sentem carregando um fardo do qual tentam se livrar. Ao longo do tempo, foi se tornando um país mais complexo a partir da sua etnografia, com a cor da pele sendo cada vez mais importante na definição e identificação de grupos racializados. Assim, o termo ‘preconceito de cor’ descreve bem a realidade das relações racializadas no Brasil do que o termo ‘preconceito racial’, já que a mobilidade racial é uma possibilidade, através da mestiçagem. O presente estudo foi elaborado com o objetivo de proporcionar uma melhor compreensão acerca do que constitui a técnica da Análise de Conteúdo (AC) e demonstrar a utilidade instrumental da AC na perspectiva psicossociológica do Preconceito contra os negros no Brasil. Para tanto, de maneira ilustrativa, foram feitas duas entrevistas semi-estruturadas com estudantes universitários brasileiros, a fim de conhecer suas opiniões no que diz respeito à duas problemáticas atuais da nossa realidade: as piores condições de vida do negro no Brasil em comparação aos brasileiros em geral e a implementação de medidas compensatórias para os negros, a partir da organização em movimentos de luta. A partir da técnica da Análise de Conteúdo de Bardin (1979) com a participação de quatro juízes, foram obtidas duas classes temáticas, uma para cada questão proposta, onde a primeira se chamava ‘Preconceito Racial’ e gerou a Categoria ‘Concepções do preconceito’ (f=38), formada por 4 subcategorias (Sócio-histórica; Racial; Ideológica; Sócio-econômica). A segunda questão evocou a classe temática ‘Movimentos de valorização do negro’, proponente da Categoria ‘Posicionamento frente aos movimentos’ (f=15), formada por 2 subcategorias (Movimento de luta; Sócio-cultural). Numa visão geral do que pode ser inferido a partir deste ínfima amostra, o preconceito racial é justificado pelas percepções de passado (negro-escravo), presente (culpabilização da sociedade em geral e do próprio negro) e futuro do negro no Brasil (posicionamento contra ou a favor dos movimentos de luta). Com este estudo, fica demonstrado que o racismo não é questão esgotada em nenhuma dimensão, seja psicológica, seja social, e muito menos no contexto brasileiro, além de trazer o quanto a técnica da Análise de Conteúdo é útil para a elucidação dos discursos superficiais e mecânicos reproduzidos atualmente sobre o negro brasileiro.