Sempre e em todos os períodos históricos, muito se fala da importância do homem e na importância do homem. E, sempre, na história das sociedades, é tido como certo, associar esta importância ao seu poder econômico estereotipado em seu poder de consumir.

Se analisarmos a história da humanidade, veremos que todas as grandes transformações históricas ocorreram em função da economia e da posição do homem em defender o seu poder de consumo. Em outras palavras, da condição do homem ter e de poder fazer o uso do que tem.

Assim, as eras históricas tiveram início e foram suplantadas por outras eras históricas, de acordo com as mudanças econômicas e com o comportamento consumista do homem; as modas e os costumes se instalaram e foram suplantados seguindo também essa mesma regra e, até mesmo, a vida espiritual e a expressão de fé do homem, passou (e passa) por transformações incessantes em função da economia e do consumismo.

A ditadura do consumismo que assistimos atualmente e, o mais importante, à qual somos subordinados e damos sustentação, nada mais é que o desenrolar de um processo histórico que sempre evidenciou que o homem vale o que tem. A diferença é que atualmente, atrelado ao valor de consumir, está, também, o valor dado à rapidez em consumir. Ou seja, não basta, na atual sociedade de consumo, o consumo, apenas. É necessário o consumo do consumo do consumo...Em tempo recorde. Ninguém pode ter o primeiro carro do ano da cidade, por exemplo. Esse privilégio tem que ser meu e vale tanto quanto o prazer de ter o próprio carro. Observe o valor do consumo subjugado ao valor do tempo para o consumo. O quanto antes, melhor.

É essa posição imperante que acaba conferindo ao homem a necessidade, patológica, de comprar um casaco novo, mesmo já tendo cinco casacos; de substituir o tal carro novo por outro “do ano”, antes mesmo do ano corrente acabar e mesmo sabendo que há pouca diferença (quando há), de um para o outro e, por fim, de somente se achar homem e feliz quando pode satisfazer a esse estilo de vida, ou seja, o de poder consumir, indiscriminadamente, a tudo e a todos e, até mesmo, à sua própria posição de ser homem e a sua capacidade de felicidade.

O mais cruel em tudo isso, é que o homem não percebe o quanto passa a acreditar que esse estilo de vida é, verdadeiramente, o estilo de vida da vida. Em suma, o único estilo de vida possível e aceitável para refletir sucesso e satisfação e, uma vez isto sendo verdadeiro, passa, também, a não perceber o outro lado dessa mesma crença, ou seja, a de não aceitar, ao menos, supor que além dos limites da sua “visão” da verdade, pode haver a alternativa de outras verdades.

Veja que, para o nosso triste tormento, se estamos falando do homem, estamos falando de nós. E, na verdade, a verdade da verdade é que relegamos aos que, supomos fracassados, os discursos de paz, harmonia, solidariedade e o famoso ser mais valorizado que o ter. Para nós e para os que gostamos, o que vale mesmo é o sucesso e a satisfação material exacerbada.

Observe o que acontece atualmente com a educação que queremos e que, portanto, temos para os nossos filhos e que exigimos dos professores e das escolas. É a chamada educação de resultados econômicos. Não importa ao pai se o filho aprende, importa se ele vai passar no vestibular em um curso que lhe traga rendimentos futuros. De preferência grandes rendimentos. Não importa ao pai se o seu filho está sendo educado para uma vida digna e de caráter, importa se o investimento que ele está fazendo na carreira do filho retornará multiplicado (Note, inclusive, a linguagem econômica reinando na educação: investimento, rendimentos, carreira etc.). Não importa ao pai, nem mesmo a felicidade do filho em realizar-se profissionalmente, mas importa que o filho ganhe dinheiro para que possa, então, comprar a felicidade.

Na educação de consumo, a importância da aprendizagem está voltada para a formação do patrimônio. O que, absolutamente, não é errado e nem pecado. Já que vivemos em uma sociedade capitalista, nada mais justo que a educação nos prepare para ser bons capitalistas, principalmente a educação pública e que dizem que é gratuita, mas que é paga por todos. O que me preocupa é que, na ânsia de formarmos formadores de patrimônios, esqueçamos de formar formadores de gente.

Se, é verdade que uma boa educação deve primar pela boa formação das pessoas para que essas sejam boas formadoras de uma sociedade rica em patrimônio, é mais verdadeiro ainda que essa mesma educação forme pessoas capazes de construir uma sociedade rica e abundante em ética e humanidade.

A educação não pode se omitir ao seu compromisso de formar e não apenas informar, de ensinar o valor da educação não se esquecendo de ensinar os valores que fundamentam a vida e, principalmente, de ser o diferencial que pode fazer uma sociedade melhor ou pior por poder fazer pessoas melhores ou piores.