Como já dizia um pensador: “Tudo aquilo em que cremos nos controla, se o que você crê é saudável, tal crença o ajudará; mas se o que você crê é destrutivo, tal crença o algemará”(CURY, 2005).

Desde a antiguidade o tema em que envolve a “loucura” tem sido alvo de grandes discussões, tanto no âmbito científico, como também para o senso comum. Até os dias atuais podemos observar como o preconceito toma conta da mente dos considerados “sãos” em relação aos considerados “insanos”.

O emprego de noção de “normalidade” certamente apresenta incontestáveis perigos nas mãos de quem detêm a autoridade médica, política, social, cultural, econômica, filosófica, moral, jurídica ou estética e, por que não, intelectual?

A história antiga ou contemporânea das comunidades, bem como das ideologias, grandes ou pequenas, serve-nos de cruéis exemplos disso, cada qual apenas conservando em sua memória representações muito seletivas, em função de suas opções pessoais.

Se a “normalidade” se refere a uma percentagem majoritária de comportamento ou ponto de vista, azar daqueles que ficam na minoria (BERGERET, 1998).

E ao que se refere à loucura, quem seria exatamente um “louco”?

No caminho da dúvida, Descartes encontra a loucura ao lado do sonho e de todas as formas de erro. Será que essa possibilidade de ser louco não faz com que ele corra o risco de ver-se despojado da posse de seu próprio corpo, assim como o mundo exterior pode refugiar-se no erro, ou a consciência adormecer no sonho?(FOUCAULT, 1978)

Historicamente, vemos que os considerados “loucos” eram excluídos da sociedade, onde além de serem confinados em instituições despreparadas para atendê-los, sofriam com tratamentos desumanos. Esses indivíduos exclusos da sociedade eram trancafiados em lugares isolados para não perturbarem a paz dos cidadãos considerados “normais”. Onde, a princípio essas casas de correção existiam no intuito de reeducar seus internos, mas, infelizmente, era tudo o que não acontecia.

Precisou se passar muitas décadas de sofrimento e tortura, tanto física como psíquica para seus internos; para se perceber que o isolamento do doente mental só contribuía para o agravamento do seu problema.

Do ponto de vista do modelo de assistência psiquiátrica, a reorganização dos serviços e das ações de saúde mental fez surgir dois novos dispositivos de atenção representados pelos Núcleos de Atenção Psicossocial(NAPS) e pelos Centros de Atenção Psicossocial(CAPS). O NAPS são serviços regionalizados de reabilitação psicossocial, que funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, respondendo à demanda de saúde mental das respectivas áreas de abrangência. Já o CAPS tem como característica ser um serviço de atenção diária, que se propõe como alternativa ao hospital psiquiátrico, e tem como objetivo principal promover a reabilitação psicossocial de seus usuários.

Atualmente o Movimento da Luta Antimanicomial chama a sociedade para discutir e reconstruir sua relação com o louco e com a loucura. Onde a participação do próprio doente mental e seus familiares passa a ser uma característica marcante do processo de reabilitação para o doente.

Segundo Dejours, psiquiatra, psicanalista francês dedicado ao estudo do trabalho e saúde mental do indivíduo, saúde mental para cada homem, mulher ou criança é ter meios de traçar um caminho pessoal e original, em direção ao bem estar físico, psíquico e social. Onde o bem estar físico significa que é preciso ter liberdade de regular as variações do organismo, é cuidar-se quando se está doente, comer quando se tem fome, repousar quando se está com sono, ou parar de trabalhar quando está gripado e depois voltar ao serviço. E bem estar psíquico é simplesmente a “liberdade deixada ao desejo de cada um na organização de sua vida”(ALMEIDA, 2007)

Com a intervenção de vários profissionais da saúde, e sua disposição para propiciar um tratamento no mínimo digno de um ser humano, o doente mental chamado “louco” tem sido visto com outros olhos perante a sociedade; onde para alguns, ainda é visto como um problema; mas para outros estes chamados “doentes mentais” são vistos como pessoas que por trás de cada dor, de cada sintoma, existe sonhos, aventuras, medos, alegrias, coragem, recuos; enfim, histórias complexas constituídas de lágrimas, perdas e decepções. Onde é indispensável que haja uma intervenção profissional específica, apresentada da maneira mais digna possível, de como este indivíduo poderá conviver melhor com seus conflitos internos. Tendo em vista a importância do apoio incondicional, onde a cidadania é indispensável, onde toda a sociedade é chamada para a construção de relacionamentos maduros entre o “doente mental” e o indivíduo considerado “normal”.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA, Marina da Silveira Rodrigues. Educação: um grande desafio para o psicólogo e a Psicologia. Disponível em : www.psicologia.com.pt; acesso em 05 de março de 2008.

BERGERET, Jean. A Personalidade Normal e Patológica. Porto Alegre: Artmed, 1998.

CURY, Augusto. O Futuro da Humanidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

FOUCAULT, Michel. História da Loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978.

---------------------- Texto n.º 1 - A História da Loucura e a Reforma Psiquiátrica.