A escrita se constitui como fundamento na prática psicanalítica. O campo da fala e da escuta não é suficiente para o estabelecimento desta experiência. O trabalho aqui resumido tem suas bases nessas primeiras considerações teóricas a respeito da fala e da escrita na clínica psicanalítica. O objetivo é demonstrar que na fala endereçada ao analista existe sempre um mais além textual que escapa à compreensão do analisando. Na prática psicanalítica, onde o analisando se põe a falar a partir da oferta de escuta do analista, algo se escreve em um outro campo, algo que, no entanto, não pode ser lido. A ilegibilidade da escrita produzida em análise é o que localiza a sua função. Isto que se escreve, que irrompe sem intenção naquilo que o analisando buscava dizer, é o que propicia o progresso do tratamento analítico. O analista, ao assinalar um lapso em análise, estará também indicando que existe algo de Real do qual o analisando nada sabe, incitando-o desta forma a se voltar para a causa do desarranjo em sua fala. Como resultado da defasagem radical entre significante e significado, muitas leituras podem ser feitas no processo analítico. Não existe uma leitura única, correta, para aquilo que está registrado no sujeito. O sujeito, ao tentar decifrar as marcas de sua história pela via da linguagem, através das articulações significantes, descobrirá a cada nova tentativa de leitura que há também a letra, sendo esta a escrita ilegível de sua divisão. Portanto, assim como este trabalho pretende considerar, a escrita serve na prática psicanalítica para registrar o impossível na linguagem. O sujeito, antes aprisionado em sua impotência, na tentativa sempre fracassada de anular a marca de sua castração, passa pelo processo analítico descobrindo aliviado a impossibilidade inerente de tal resolução, e fazendo desta nova condição o horizonte de suas possibilidades.