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Música e neurociências - inter-relação entre música, emoção, cognição e aprendizagem

2015
laíziss@gmail.com


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Música e neurociências - inter-relação entre música, emoção, cognição e aprendizagem

Este estudo configura-se como uma investigação da inter-relação entre música e as neurociências, estudando as correlações entre música e emoção; música, cognição e aprendizagem. O objetivo geral é analisar através de uma revisão bibliográfica sistemática de que forma essas ciências se correlacionam entre elas. Música gera emoção e ativa várias estruturas cerebrais, dentre elas pode ser citada o sistema límbico, que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais, há também neste processo a liberação do neurotransmissor dopamina responsável pela sensação de prazer. Nos processos cognitivos e de aprendizagem, a música vai além do estudo do fazer música, pois esta pode contribuir para a introjeção de regras e sociabilidade. Os exames de neuroimagem têm agregado muitos conhecimentos quando se trata da correlação entre música e neurociências.

Palavras-chave: Música, neurociências, emoção, cognição e aprendizagem.

 

INTRODUÇÃO

 

Sabe-se que a música é a expressão da alma humana, usada em momentos de alegria, em festas e comemorações, em momentos de tristeza, em cultos religiosos e até em tratamentos de algumas patologias. Com a evolução das neurociências, hoje já é possível mapear como a música age no sistema nervoso e as reações físicas e psicológicas produzidas neste processo.

Quando se fala de contribuições da psicologia e neurociência para a compreensão dos processos musicais, temos áreas de conhecimento muito amplas com identidade própria uma fusão é possível, porém, cuidados devem ser tomados para que nenhuma dessas áreas seja subjugada.

A maior parte das produções científicas foca seus estudos da relação da música hora com as emoções, hora com a cognição, porém, esses processos são indissociáveis. Para elucidar melhor a inter-relação entre essas ciências foi realizada uma pesquisa de revisão bibliográfica sistemática, onde foram estudados os temas música e emoções e música cognição e aprendizagem.

O objetivo da pesquisa é entender a influência da música no funcionamento neural e as contribuições das neurociências para as atividades musicais.

 

METODOLOGIA

 

Foi realizada uma revisão bibliográfica sistemática, a busca por artigos e periódicos ocorreu de setembro a novembro de 2014, os bancos de dados utilizados foram Scielo, Lilacs e bases de dados Unicamp SBU, as palavras-chaves utilizadas foram: música, mente, cognição, neurociências, neuropsicologia e aprendizagem. Os artigos selecionados foram os que correlacionavam as neurociências e a música todos em língua portuguesa.

 

RESULTADOS

 

Música, expressão fundamental da cultura humana, arte de combinar sons agradáveis ao ouvido humano, é uma experiência emocional socialmente compartilhada. É inegável que a música causa reações no corpo humano tanto emocional, como biológicas. “A neurociência tem sido apontada como um campo que tem tornado possível à investigação do efeito que a música produz no cérebro” (ARAUJO; SEQUEIRA, 2013). As tecnologias de neuroimagem trouxeram avanços no entendimento do funcionamento neural e tem sido uma ferramenta para se estudar reações cerebrais ocasionadas pela música, pois é possível avaliar quais regiões estão ativadas quando se ouve ou executa-se uma atividade musical.

 

Música e emoção

Segundo Duarte, [s.d] emoção é conceituada de diferentes formas por várias linhas teóricas. A etimologia da palavra deriva-se do latim exmotio que significa uma ação, movimento de saída, de pôr para fora aquilo que ocorre internamente, ou seja, o indivíduo é movido para a ação, psicologia e filosofia definem emoção como formas de comportamentos específicos que manifestam um modo de ser fundamental do homem.

Emoção é uma função mental superior, o cérebro regula esta atividade, é comportamental e apresenta um substrato neuroanatômico, podemos  citar o sistema límbico como parte deste substrato, composto pelo telecéfalo, diencéfalo e mesencéfalo, situados nos lobos temporais e frontais e com ligação com o tálamo, o hipotálamo e outras áreas do Sistema Nervoso Central. Outra estrutura envolvida no substrato neuroanatômico é o núcleo accumbens, onde ao ouvir uma música, há a liberação do neurotransmissor dopamina neste núcleo, neurotransmissor que é responsável pela sensação de prazer e ativador do sistema de recompensas no cérebro. (ARAUJO; SEQUEIRA, 2013.)

O hipocampo é uma das áreas responsáveis pela memória e é ativada sempre que se acompanha uma canção familiarizada, o acompanhamento de um ritmo envolve circuitos de regulação temporal do cerebelo, a orquestração ativa o cerebelo e o tronco cerebral, a leitura de partituras ativa o córtex visual situado no lobo occipital, ouvir e cantar e relembrar letras de músicas ativa as áreas de linguagem Broca e Wenicke, atividades musicais que exijam sistemas cognitivos mais avançados, como por exemplo, planejamento, ativará os lobos frontais. (LEVITIN, 2011 et al ARAUJO; SEQUEIRA, 2013.)

Para Muszkat (2012), o hemisfério cerebral direito é o responsável pelo conteúdo emocional da música, como também a discriminação dos contornos melódicos e dos timbres. O hemisfério esquerdo processaria os ritmos, métricas e tonalidades; juntamente com as áreas da linguagem, o hemisfério esquerdo também seria responsável por analisar parâmetros rítmicos e alturas. Há comunicação entre os dois hemisférios, que é através do corpo caloso e é possível perceber que a música afeta o cérebro como um todo. A música afeta o funcionamento do cérebro e são comprovadas alterações fisiológicas, tais como alterações no ritmo cardíaco, respiratório e elétricos cerebrais.

A música tanto afeta o cérebro como é afetada por ele, já que composições e interpretações musicais são frutos de planejamento, criatividade, sentimentos e inteligências, funções desempenhadas pelos lobos cerebrais, principalmente lobos frontais e pré-frontais.

 

Música, cognição e aprendizagem.

Segundo Antunha (2010), o início da experiência musical infantil é através da captação sensório – motora das vibrações atmosféricas que o cercam, as cantigas de ninar, as tonalidades dos sons que vão marcar sua vida adulta.

A sensação musical começa na criança com uma emoção de prazer puramente auditiva, a qual evolui integrando-se aos outros analisadores: táctil-cinestésico, visual e motor, compondo assim esquemas amplificadores que envolvem regiões integrativas do cérebro, desde a cóclea até as áreas pré-frontais, aí incluída a participação subcortical do hipocampo-memória, bem como os centros límbicos de recompensa: amígdala, septo e nucleus accumbens, facilitadores da produção de neurotransmissores como a dopamina, serotonina, noripinefrina e endorfina... (ANTUNHA, 2010 p. 238)

À medida que funções cognitivas vão se desenvolvendo no individuo, melhora-se a percepção musical, pois as percepções não é somente sensório-motora, mas passa a envolver outras sensações táctil-cinestésica, visual e motora.

Ilari (2003) traz o conceito de inteligência musical e diz que esta “pode ser definida como a capacidade de percepção, identificação, classificação de sons diferentes” (Antunes, 2002 et al Ilari, 2003). A inteligência musical incluiria também execução, canto, movimento composição, ou seja, o fazer música. A partir dos 3 anos de idade a criança já deve ser estimulada através de canto dança e jogos musicais, pois as áreas do cérebro que dominam a coordenação motora já permitem execução musical (Antunes, 2002 et al Ilari, 2003).

A educação musical em idade escolar exerce também a função de ensinar conceitos, ideias, sociabilidade, dentre as técnicas utilizadas para o ensino aprendizagem estão os jogos musicais, que utilizados de forma lúdica, além de fonte de motivação e neurodesenvolvimento, podem ativar sistemas de controle da memória, da linguagem, de atenção e do pensamento superior (Ilari, 2003).

O fazer musical compreendido como processo de aprendizagem da execução instrumental, composição e improvisação musical, a notação musical e a construção de instrumentos traz vários aspectos cognitivos e emocionais que emergem da performance musical.

Galvão (2006) traz algumas dimensões cognitivas relacionadas à atividade musical, segundo ele, para se tornar um músico é necessário muito estudo individual deliberativo, esse fator é extremamente importante para o desenvolvimento da expertise musical, pois esta é alcançada somente com muitos anos de estudo deliberativo, a prática tem se mostrado eficiente, porém exageros podem causar tanto fadiga como problemas de ordem motivacional.

Para que haja aprendizagem deve haver autorregulação do sujeito, que utiliza mecanismos para controlar seu próprio processo de aprendizagem através de organização, sequência, transformação e busca de informações, ensaios e estratégias mnemônicas. Esse mecanismo pode ser exemplificado com o processo de memorização musical, que incluem “análise da estrutura do texto musical: estrutura harmônica, estilo, organização fraseológica, entre outros” (GALVÃO, 2006 p.171).

Educação musical tem potencial para auxiliar no desenvolvimento cognitivo das crianças, porém, os educadores têm de se atentar a vários aspectos ao preparar uma aula, pois o desenvolvimento individual, para a construção do conhecimento e a inteligência musical devem ser dada a devida atenção. (ILARI, 2003).

A música em geral usa de rimas, ritmos, uma linguagem simples e poética, ela pode ser associada a textos escolares o que facilita a aprendizagem, pode e deve ser usado por docentes como um recurso pedagógico.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A música, a psicologia e as neurociências, são distintas áreas de conhecimento, porém, que tem muitas contribuições umas às outras, a fusão destas ciências é possível, mas nenhuma delas pode perder sua identidade.

As práticas humanas hoje são passíveis de análise através dos exames de neuroimagem, pois é possível analisar que áreas estão ativas quando vivenciamos determinada situação, quando criamos uma música, ou quando a ouvimos, porém, o ser humano é complexo e tem de ser analisado como um todo, se este for fragmentado teremos uma visão reducionista que não agrega muitos conhecimentos.

É notável que emoção e música são indissociáveis, porém, é impossível dizer se música gera emoção ou emoção gera música, sabe-se que a música causa reações cerebrais, tanto quando ouvida, tanto quando composta e que para se alcançar a expertise musical muitas estruturas cognitivas são utilizadas.

A educação musical é de suma importância e pode ser um mecanismo utilizado nas práticas educacionais que vão além do ensinar o fazer musical, pois pode trazer aprendizado de regras, limites, cálculos e outras matérias do cotidiano, música é também socialização.

Produções científicas sobre música e neurociências são em maior parte revisões literárias, pouco se conhece sobre a prática musical e suas influências cerebrais, mais estudos devem ser realizados, pois muitas dificuldades são encontradas e os exames mais elaborados não são de fácil acesso.

Neurociências e música são áreas muito amplas que cabem muito estudo, ainda mais quando se tenta encontrar uma correlação entre elas.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

ANTUNHA, ELSA. LIMA. GONÇALVES. Música e mente. Bol. Acad. de Psicologia, São Paulo, Brasil – v.78, n 01/10, p 237-240, 2010 disponivel em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1415711X2010000100016&script=sci_arttext > acesso em  03 de Novembro de 2014

 

ARAÚJO, CELINNAYRA. SILVA; SEQUEIRA, BIANCA. JORGE. A relação da música com a neurociência e o seu efeito no cérebro sobre as emoções. Caderno de Ciências Biológicas e da Saúde. Boa Vista, n.1, 2014 Disponivel em < http://200.230.184.11/ojs/index.php/CCBS/article/view/28> Acesso em: 10 de outubro de 2014

 

ARAÚJO, ROSANE.CARDOSO. Pesquisas em cognição e música no Brasil: algumas possibilidades discursivas. Revista do programa de Pós-Graduação em Música da Universidade de Brasília. Ano IV, v1, dezembro de 2010

 

DUARTE, JORDANA. VIEIRA. Música e emoção: Sensibilidade e sentidos.  Academia.edu, [s.d] disponível em < http://www.academia.edu/2049560/M%C3%BAsica_e_emo%C3%A7%C3%A3o_sensibilidades_e_sentidos> acesso em 30 de Outubro de 2014

 

GALVÃO, A. Cognição, emoção e expertise musical. Psicologia teoria e pesquisa, Vol 22 n. 2, p 169-174, 2006

 

ILARI, BEATRIZ. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, n.9, p. 7 -16, 2003.

 

MUSZKAT, MAURO. Música, Neurociência e Desenvolvimento humano, In: JORDÃO, GISELE; ALLUCI, RENATA; MOLINA, SERGIO; TERAHATA, ADRIANA. MIRITELLO. Ministerio da cultura e vale: A música na Escola. São Paulo, 2012. Disponivel em < MUSZKAT, MAURO. Música, Neurociência e Desenvolvimento humano,> acesso em 29 de Outubro de 2014

 

NETO, C.C; SANTOS, J.R; PELISSON, M.A; FERNANDES, J.N. Cognição musical –Um estudo comparativo. Cadernos do colóquio. v.10, n.2, 2009 Disponivel em < http://www.seer.unirio.br/index.php/coloquio/article/view/559> Acesso em 15 de Outubro de 2014

 

VARGAS, MARYLÉA. ELIZABETH. RAMOS. Influências da música no comportamento humano: explicações da neurociência e psicologia. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo, v.1, p. 944-956, 2012.

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