Auto-medicação
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Licenciada em Psicologia Clínica pela Universidade Fernando Pessoa (Porto, Portugal)
Trabalho de caracter curricular realizado na disciplina de Psicofarmacologia da Licenciatura em Psicologia Clínica pela Universidade Fernando Pessoa
INTRODUÇÃO
Escolhemos para tema deste trabalho “A Automedicação”, como repto ao desafio
de, no âmbito da disciplina de Psicofarmacologia, desenvolver um estudo que
fosse pertinente e, se legítimo, até polémico.
A Psicofarmacologia, enquanto disciplina, apresenta uma variedade de temas que
poderiam ser abordados. No entanto, este tema relaciona-se com o nosso curso de
Psicologia, na medida em que a automedicação passa também pelo comportamento de
todas as partes envolvidas.
Esta questão que aparentemente tem sido encarada com indiferença ou
consentimento, chega a níveis preocupantes de risco da saúde pública que urge
confrontar e não adiar.
Apesar de muitos discursos e iniciativas neste âmbito ao longo das últimas
décadas, na realidade mantemos níveis elevados de automedicação. Se pensarmos na
quantidade medicamentos, e mais, do nosso interesse nos psicofármacos que são
consumidos, podemos constatar que na sociedade actual o medicamento assumiu uma
presença clara e constante nas nossas vidas, nunca antes imaginada.
Numa perspectiva futura, a farmacologia vai ao encontro de desenvolvimentos cada
vez maiores que nos trarão com certeza novas questões.
A automedicação é um fenómeno frequente nos auto-cuidados em saúde desde há
muito utilizado e, cuja ocorrência e distribuição, estão naturalmente
relacionados com a organização do sistema de saúde de cada país.
A automedicação, por possuir uma dimensão ética associada ao direito e ao dever
do individuo, esclarecida e responsavelmente, intervir no processo de
saúde/doença, deve ser estruturalmente gerida pelo sistema de saúde sob pena de
concorrer para o comprometimento do seu funcionamento seguro, eficaz, racional e
económico. De facto, a procura de cuidados médicos gerais no ambulatório
baseia-se nos conhecimentos individuais sobre o processo saúde/doença, na
auto-percepção de saúde e na factualização dos problemas de saúde no contexto
cultural, social, familiar e económico do doente, daí sobressaindo motivos para
a procura e para a não procura da consulta médica. Contudo, a avaliação
cientificamente conduzida do impacto e das consequências globais da
automedicação nos sistemas de saúde e na sociedade, está ainda por fazer, sendo
a larga maioria da informação disponível proveniente de estudos de mercado.
Assim, a avaliação global da relação benefício/risco da automedicação, revela
aspectos essenciais para a segurança, a eficácia e a eficiência do sistema de
saúde, bem como para os critérios de classificação do estatuto legal dos
medicamentos quanto à sua cedência ao público. Trata-se, porém, de um trabalho
metodologicamente complexo e moroso e cuja abordagem tem de contemplar
aproximações sucessivas às variáveis controlavelmente envolvidas.
Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: primeiro enquadramos a
questão do tema do nosso trabalho - a automedicação, na própria história e
desenvolvimento da medicina e da farmacologia. De seguida apresentamos cinco
grandes pilares que consideramos mais relevantes e pertinentes para o nosso
trabalho e que, no nosso entender, induzem à automedicação. Estes cinco pilares
aparecem de acordo com a formulação do problema, ou seja, de acordo com as
diferentes motivações e perspectivas, ou níveis se quisermos, em que se
manifesta a automedicação: o consumidor, o prescritor, o vendedor, o fabricante
e a publicidade.
Seguidamente aparecem referenciados os riscos da automedicação enquanto “solução
imediata”. Faremos também uma breve referência à venda livre de medicamentos.
Por último, uma referência aos riscos eminentes a que todo o sistema de saúde
(que também passa por todos nós) está sujeito; incluem-se aqui alguns aspectos
que consideramos positivos na automedicação, mas apenas quando esta ocorre de
uma forma responsável e conscienciosa, abdicando sempre de “interesses
pessoais”, visando apenas a saúde individual enquanto cidadãos que somos, assim
como promover a saúde pública e a própria “saúde” do Sistema Nacional de Saúde.
Finalizamos com um ponto que nos parece essencial em todo este processo e que,
muitas vezes, é relegado para segundo plano – a legislação nacional e europeia.
Aqui faremos referência ao novo enquadramento jurídico, às comissões
especializadas para a automedicação, à legislação para medicamentos não sujeitos
a receita médica, à legislação sobre a publicidade do medicamento, ao Código
Deontológico e à legislação europeia.
Na conclusão deste trabalho far-se-á uma análise geral do problema da
automedicação e tudo o que ela envolve.