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A relação fraterna...da rivalidade à cooperação entre irmãos

2018
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2018-06-10

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A relação fraterna...da rivalidade à cooperação entre irmãos

Durante várias décadas, o foco da investigação incidiu nas dinâmicas relacionais entre pais e filhos e, só mais recentemente, é que a relação fraterna tem sido estudada e avaliada. Atualmente, é inegável que a relação entre irmãos tem de facto uma influência considerável no nosso desenvolvimento social e emocional enquanto adultos.

No entanto, a qualidade do vínculo entre os irmãos, depende dos pais e da forma como fomentam a proximidade relacional entre os irmãos desde o início, incentivando o envolvimento, o respeito mútuo, a cooperação e a gestão dos problemas.

Cabe aos pais mostrar aos filhos que cada um tem o seu lugar na família, de modo a ajudá-los a superar as situações de competição, ciúme e rivalidade, sendo por isso de evitar a comparação entre irmãos.

A vida na fratria vai possibilitar a cada criança experimentar a socialização antes de vivenciá-la na realidade externa (creche, escola) sendo por isso fundamental a existência de regras e limites por parte das figuras parentais. Os irmãos acabam por se constituírem como agentes socializadores por excelência, com os quais se aprende a dividir, fazer concessões, perseverar, negociar, enfim a viver em sociedade.

As crianças que crescem como filhas únicas podem não ser necessariamente menos competentes socialmente do que as que crescem com os irmãos, mas têm uma probabilidade maior de desenvolver as habilidades sociais através de amigos. Neste caso, os pais podem encorajar os seus filhos a desenvolver relações próximas com os primos e/ou com os filhos dos amigos, o que acaba por lhes permitir desenvolver competências sociais que provavelmente não adquiririam se estivessem limitadas à interacção com os pais e outros adultos.

Apesar das pequenas guerrinhas e às vezes dos gritos, a relação entre irmãos e a cumplicidade entre eles fazem com que as crianças nunca se sintam sozinhas e sobretudo, aprendam a partilhar desde brinquedos a sentimentos.

De modo a promover a solidariedade e a amizade entre os irmãos, diminuindo a rivalidade fraterna, os pais poderão adotar algumas das seguintes estratégias:

  • Evitar comparações entre irmãos, nomeadamente qualquer manifestação de favoritismo: cada filho deve ser estimulado a melhorar em relação aos seu próprio desempenho, não em relação ao do irmão;

  • Garantir que os filhos saibam que são igualmente amados, pelas suas diferenças e qualidades únicas, para que eles próprios se sintam bem com as suas características e também aceitem as diferenças dos demais;

  • Criar um “dia do filho único” e fazer programas em separado, proporcionando momentos de partilha com cada filho individualmente;

  • Promover espaços de convívio e atividades conjuntas que irão reforçar a relação entre irmãos mas também respeitar o espaço individual de cada um, nomeadamente os interesses, os amigos, as atividades e a vida particular de cada um;

  • Evitar a tomada de partido nas divergências entre os irmãos, ouvindo sem julgar;

  • Incentivar os filhos a procurarem estratégias de resolução de conflitos. Os pais devem posicionar-se como mediadores, promovendo a partilha de pontos de vista e emoções:

  • Se uma rivalidade se tornar excessiva intervir rapidamente e de forma firme, definindo os limites e clarificando que em nenhuma circunstância é admissível magoar o outro;

  • Privilegiar os momentos em que há interações positivas e adequadas, elogiando a capacidade das crianças partilharem brincadeiras e trabalharem em equipa.

Joana Valério

Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.

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