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Ansiedade e tristeza em tempos de quarentena

2020
susanajqrodrigues@gmail.com
Psicóloga. Psicanalista em formação. Coordenadora do Núcleo de São Leopoldo da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul - Brasil
Publicado no Psicologia.pt a: 2020-04-21

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Ansiedade e tristeza em tempos de quarentena

Fica em casa! É a palavra de ordem do momento na tentativa de diminuir a transmissão do corona vírus, já que a COVID 19 ainda não tem cura e pode ser fatal para uma parte da população. Mas, quarentena não é férias! É isolamento e esse isolamento tem consequências importantes.

O ser humano é um ser sociável desde o nascimento, o convívio social nos constitui, é com o auxílio de outras pessoas que sobrevivemos. Então, por si só, um grande período de isolamento social, já é o suficiente para despertar sentimentos de ansiedade e de tristeza, entre outros. O contato físico é uma forma de manifestar e receber afeto entre pessoas. Os encontros, reuniões, festas e jantares aproximam as pessoas e também são momentos de descontração e alívio do estresse. Porém, nesse momento, temos todos que deixar de realizar muitas coisas que faziam parte do nosso dia-a-dia. A rotina agora é outra: sem reuniões, sem festas, sem aulas, sem sair para trabalhar. É uma vida totalmente atípica.

Somos seres habituados à rotina desde crianças, mesmo que seja uma rotina louca, corrida e exaustiva. Estar sem ela dá uma sensação de vazio, de perder o chão. Dependendo da pessoa e de outras condições, isso pode ser mais ou menos intenso. A ansiedade, sempre presente em momentos de tensão, pode aumentar consideravelmente nesse período, tanto despertada pela situação externa, quanto pela produção psíquica: sentimentos e pensamentos. São nesses momentos de crise que questões emocionais frágeis que cada pessoa tem dentro de si: traumas, sofrimentos, decepções, tendem a vir à tona com toda a força, podendo causar ou acentuar a condição de medo e a tristeza existente. Além disso, a tristeza também advém de todas as perdas do momento, de estar privado de muitas coisas. As preocupações são as mais diversas: com a saúde, com o trabalho, com as finanças...

Mas o que fazer para lidar com tudo isso e não sucumbir? Bem, primeiro aceitar que vivemos uma crise em todos os sentidos. E assim, reconhecer em si os sentimentos despertados por ela. São legítimos. Atordoamento inicial, desespero, ansiedade e tristeza são esperados em situações assim. Depois, é necessário conectar-se consigo mesmo para poder identificar e diferenciar, o quanto desses sentimentos está relacionado à situação atual e, portanto, a medos atuais que necessitam de atitudes e qual parcela está relacionada a medos antigos guardados dentro de cada um, para os quais o momento exige reflexão. Isso ajuda bastante a não tomar decisões por impulso.

Após isso, cada um vai ter que descobrir uma forma de lidar consigo mesmo nesse período de menor convívio social e talvez isso não seja simples, pois exige um processo de autoconhecimento que às vezes passa batido na correria do dia a dia. Não vai adiantar nada buscar e tentar aplicar várias receitas que estão sendo disponibilizadas por aí de: Como lidar com a ansiedade! Como lidar com o estresse em tempos de crise! Como salvar o seu negócio do corona vírus! , etc. A informação é importante e tem pessoas e instituições sérias produzindo ótimo material, mas cada um terá que descobrir a sua forma de lidar com os sentimentos despertados por tudo que estamos vivendo.

Após isso, será possível pensar e planejar formas de manejo da crise. Isso inclui a organização de uma nova rotina, mantendo o que é possível e fazendo as adaptações necessárias para isso. Nesse sentido temos muita coisa disponível na internet, como aplicativos para conversas, vídeo-chamada, reuniões, aulas disponíveis, atividades físicas e culturais. Em relação ao trabalho será necessário admitir e mensurar prejuízos para auxiliar no planejamento financeiro futuro. Por fim, crises também são momentos de criação e com certeza, serão necessárias muitas invenções nas formas de se relacionar, de produzir e de trabalhar.

Então:

  • Reconheça em você os sentimentos e pensamentos despertados pela situação atual.

  • Identifique seus pontos frágeis expostos pela situação atual, mas que já estavam presentes antes.

  • Encontre formas de lidar com o estresse e de manter o contato social.

  • Seja tolerante com você mesmo, tudo bem não se sentir bem nesse momento e não ter, de imediato, ideias geniais.

  • Faça o que é possível, muitas coisas terão que esperar.

  • Chore e reclame o quanto quiser, não está fácil para ninguém e não dá para fingir que está tudo bem.

  • Identifique seus pontos fortes, lembre-se de outras situações de crise e de como você saiu delas. Reconheça suas qualidades.

  • Não pense que qualquer dica ou orientação da internet vai servir para você ou para o seu negócio.

Concluindo, autoconhecimento é a chave para abrir as portas das possibilidades. Se tudo ficar trancado demais e você não encontrar saída ou for tomado por sentimentos de tristeza e ansiedade intensos demais, busque ajuda profissional. Profissionais de diversas áreas estão trabalhando remotamente, psicólogos também. Busque indicações.

 

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