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Como confortar uma pessoa em luto?

2018
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2018-04-08

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Como confortar uma pessoa em luto?

Na nossa cultura, a morte é ainda um tema muitas vezes evitado e considerado tabu, pelo que é comum as pessoas referirem-se ao luto como uma situação que precisa de ser resolvida e deixada para trás de forma relativamente breve.

Neste contexto, as manifestações de desamparo e tristeza, como o choro sistemático e prolongado no tempo por parte da pessoa enlutada, são muitas vezes encaradas como sinais de perturbação emocional e não como reações normais que devem ser acolhidas e compreendidas.

Importa evitar comentários tais como “não chore”, “não sofra”, “ele não ia querer vê-lo assim”, “vai conseguir ultrapassar”, “vai ver que vai esquecer”.

Apesar de bem-intencionados, estes comentários, acabam por induzir na pessoa enlutada uma vivência de incompreensão no que respeita ao seu sofrimento emocional, acrescendo ainda a pressão para sair daquela situação o mais rapidamente possível, o que poderá conduzir à repressão dos verdadeiros sentimentos e ao adiamento da resolução do luto. Para ajudar a pessoa enlutada, importa proporcionar disponibilidade em tempo e espaço, para que ela possa falar e chorar.

Nestas situações, a simples presença da família e amigos é por si só reconfortante, bem como a capacidade de ouvir. Por vezes, não há nada mais reconfortante como a partilha do silêncio, através do qual a pessoa enlutada sente o acolhimento e a empatia genuína do outro.

O reconhecimento e a validação dos sentimentos que estão a ser vividos são também formas de poder prestar apoio empaticamente, podendo ser transmitida da seguinte forma “Isto é tão devastador que não tenho palavras, mas estou a teu lado para o que precisares.”

Durante o luto, é natural que as pessoas se sintam frequentemente sozinhas e isoladas, pelo que importa revelar interesse e disponibilidade para estar presente, independentemente do que for preciso, mesmo que seja para resolver questões burocráticas ou aspetos práticos do dia-a-dia. Demonstrar esta sensibilidade e disponibilidade é bastante tranquilizador e securizante para a pessoa enlutada.

O luto é vivido de uma forma tanto mais saudável, quanto maior for a possibilidade para o enlutado falar da perda e dos sentimentos a ela associados e quanto maior for a disponibilidade da rede de suporte para o acolhimento desses sentimentos.

Uma angústia não negada e bem acolhida tende a gerar a possibilidade da pessoa se refazer mais facilmente da situação de perda e sair mais fortalecida deste processo para continuar a sua história.

Joana Valério

Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.

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