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Quando os comentários de quem gosta de nós nos magoam…

2018
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2018-05-14

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Quando os comentários de quem gosta de nós nos magoam…

Quase de certeza que a maioria das pessoas já passou por esta situação, ou conheceu alguém que tenha passado. - “Então mas não achas que te estás a envolver demasiado cedo com alguém? Devias fazer mais tempo o luto da relação!” - “Mas não estás a amamentar com leite materno? Não sabes dos benefícios? Tens mesmo que tentar, não podes desistir!” - “Mas vais ver que as coisas passam... ele pode andar assim um pouco violento e agressivo, mas vocês já estão casados há tanto tempo, ele deve andar aborrecido com o trabalho, vais ver que isso passa e não te vai bater mais” - “Mas ela mentiu-te? Eu jamais perdoaria! Nem queria perceber as razões...” - “Dizias tanto que o amavas e dois dias depois já estás na farra!” - “Não podes passar o fim-de-semana inteiro fechado em casa, tens que sair e conhecer pessoas”

Muitas vezes os comentários e as opiniões que as pessoas que estão ao nosso redor nos dão, podem não ajudar, por vezes até podem fazer exactamente o contrário: confundem-nos, colocam-nos em baixo, pressionam e/ou culpabilizam-nos. Com certeza que a ajuda bem-intencionada, e bem direccionada é um apoio; mas quando é mal direcionada pode-se transformar em algo muito frio, duro e destruidor da autoestima. Alguns comentários são profundamente injustos. As pessoas esquecem que não têm o direito de julgar como nos sentimos.

As pessoas podem fazer comentários com o intuito de mostrar que se preocupam, e que por isso dizem o que acham que nos “poupará” de algum sofrimento, mas não nos podemos esquecer que o nosso mundo emocional é muito sensível às nossas condições específicas. Assim, nem nós nem os outros têm o direito de julgar a forma como as pessoas se sentem.

E que tal pensarmos que as emoções não nos tornam melhores nem piores, e que a forma como agimos, muitas vezes, pode não estar tão coerente assim com a forma como nos sentimos? Como é aceitarmos que cada momento nos pode despertar uma determinada emoção e que podemos fazer algo diferente do que a maioria das pessoas esperaria? Como é valorizarmos a pessoa que partilha a sua opinião e comentário, ao mesmo tempo que valorizo a minha decisão?

Como é aceitarmos que as pessoas que gostam de nós gostariam de nos orientar à sua forma? E como é manifestarmos esse agradecimento ao mesmo que tempo que explicamos que temos uma outra maneira de ver a situação? E que na verdade essa situação é nossa, faz parte das nossas experiências, e mesmo que seja para falhar... Talvez seja porque necessitamos de cometer esse erro para podermos aprender?

 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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