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Zona de conforto - ficar ou experimentar sair?

2017
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-05-21

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Zona de conforto - ficar ou experimentar sair?

Criar e manter uma rotina é algo importante, mais para umas pessoas, menos para outras. Mas quebrá-la de vez em quando também é essencial.

A zona de conforto é um conjunto de actividades e de comportamentos que fazem parte de uma rotina, um padrão que minimiza o stress e os riscos possíveis. A explicação mais científica para essa expressão é que a zona de conforto é qualquer tipo de comportamento que consegue manter um nível baixo de ansiedade. Assim, a zona de conforto dá-nos uma sensação de segurança. Todos nós, ao estarmos na zona de conforto, beneficiamos de um bem-estar regular, baixa ansiedade e redução do stress. Estar na zona de conforto não é algo bom ou mau. É um estado natural onde a maioria das pessoas vivem. Neste sentido, a zona de conforto é importante. Contudo, se nos limitarmos a estar dentro da mesma, poderemos criar, num determinado momento das nossas vidas, uma sensação de vazio e insatisfação, seja na esfera profissional ou pessoal.

Os exemplos de lavar os dentes, tomar o pequeno-almoço na cozinha, preparar o jantar, lavar a loiça, ir pela mesma rua para o trabalho ou almoçar no mesmo restaurante provavelmente são tarefas que fazemos muitas vezes e, por isso, habituamo-nos às mesmas. Elas não nos fazem sentir ansiosos ou inquietos e, por isso, fazem parte da nossa zona de conforto.

Conseguirmos prever e sentir o controlo sobre as situações dá-nos segurança e um certo prazer, sendo que, de uma forma geral, o nosso cérebro é atraído pelo que nos dá prazer e evita o que possa causar dor. Associamos dor ao facto de sair ou estarmos no limiar da nossa zona de conforto. Quando estamos dentro dessa zona confortável, normalmente não há crescimento pessoal ou profissional e tendemos a resistir às mudanças e a novas perspectivas.

Existem pessoas que não gostam de falar em público, outras não apreciam falar com pessoas desconhecidas, ou ainda participar em actividades em que têm que se expor. Normalmente estes acontecimentos geram stress e desconforto. O limite da zona de conforto apresenta uma barreira psicológica que nos impede de encarar desafios e melhorar a nossa qualidade de vida. É como se tivéssemos uma voz a alimentar a nossa insegurança.

Eis alguns exemplos de pensamentos que podemos ter e que nos fazem acreditar que não queremos sair da zona de conforto:

  1. “Para quê é que eu vou fazer isso?” - Por vezes deixamos as nossas motivações de lado tentando encontrar uma razão lógica para fazermos as coisas. Mas na verdade, há sempre motivos para fazer algo, nem que seja apenas pelo desafio.

  2. “Não é o momento certo” – Nunca nos sentimos totalmente preparados, se estivermos à espera do momento certo, ele nunca chegará. O importante é avançarmos e com esses avanços vamo-nos sentindo mais preparados.

  3. “Não é para mim” – Por vezes criamos uma ideia que quem faz uma determinada actividade tem determinadas características e se não se tem, não faz sentido fazer. Por exemplo: “As pessoas que fazem yoga são todas magras.” Se pensarmos bem, isto não é bem verdade.

  4. “Eu não sei como se faz” – Esta é uma verdadeira razão para se avançar. Alguma melhor razão para se aprender algo que não se sabe?

 

Então, como sair da sua zona de conforto? 

Agora que já sabemos o que é a zona de conforto, e já conhecemos alguns exemplos de pensamentos que nos podem estar a impedir da sair da zona de conforto, podemos então avaliar a nossa vida. Sinto-me satisfeita/o? Posso melhorar em algo? Há alguma coisa que eu gostaria de fazer ou experimentar?

Não é preciso pensar muito para encontrar novas experiências. Coisas pequenas, como almoçar num restaurante diferente, mudar temporariamente a sua alimentação, ir a pé por uma rua paralela à que costuma utilizar, ver um filme que normalmente não iria ver são alguns exemplos que ajudarão a quebrar a rotina e são um bom início.

Importa referir que conseguirmos sair da nossa zona de conforto não significa que não voltaremos mais à mesma. É essencial termos um “porto seguro” onde possamos reflectir sobre o que aprendemos.

Neste momento com certeza muitos perguntarão: “Mas se eu estou bem na zona de conforto, porque hei-de fazer um esforço para sair?”. Talvez nos possa ajudar conhecer os efeitos que sair da zona de conforto nos proporciona.

 

Que efeitos nos proporciona a saída da nossa zona de conforto?

  • Satisfação pessoal

  • Melhoria na qualidade de vida

  • Expansão dos seus limites

  • Desenvolvimento das suas habilidades

  • Ampliação da sua maneira de ver o mundo

  • Desenvolvimento de adaptabilidade e flexibilidade

  • Maior facilidade de lidar com imprevistos e problemas inesperados

  • Maior capacidade de análise

  • Encontrar mais alternativas

  • Maior criatividade

Ao sairmos da nossa zona de conforto crescemos enquanto pessoa, e para tal ajuda começarmos a mudar as nossas crenças em relação ao que conseguimos e ao que não conseguimos fazer. Ao irmos conseguindo dar passos nesse sentido tornamo-nos mais confiantes em nós e nas nossas capacidades, e vamos sentindo o stress a diminuir gradualmente, à medida que vamos executando com maior frequência algumas actividades que, inicialmente, nos criavam muita ansiedade.

 

Então vamos abraçar alguns desafios!

  1. Faça alguma coisa que você nunca fez antes - Porque não aprender um novo idioma, aprender a tocar um instrumento musical, escrever um blog, ou entrar para um desporto de equipa? 

  2. Esqueça a TV e as redes sociais por uma semana - Use o tempo pós-laboral para passear, aprender algo novo, encontrar-se com alguém com quem já não está há algum tempo, ler um livro, conhecer um novo grupo musical.

  3. Desenvolva a sua capacidade de iniciativa e proponha uma nova ideia - Dê uma opinião, faça uma sugestão, partilhe o que pensa sobre determinada questão. Por vezes, em contexto laboral ou pessoal, podemos ter alguma dificuldade ou receio de nos expormos. Então porque não tentar fazê-lo em ambientes mais seguros e ir avançando à medida que se sinta mais à vontade?

  4. Saia da sua rotina até mesmo nos detalhes - Oiça nova música, passeie por zonas diferentes, experimente sentar-se numa cadeira numa posição diferente da habitual. E porque não fazer um workshop de culinária, dança ou fotografia?

  5. Viaje e conheça novas pessoas - Viajar para cidades vizinhas, ou viajar pelo mundo inteiro. Viajar é uma das melhores maneiras de sair da sua zona de conforto. Terá a oportunidade de conhecer novas pessoas, novas culturas, novos alimentos. Fale e perceba diferentes pontos de vistas, diferentes valores. É muito bom podermos sentir que aprendemos um pouco com cada pessoa com quem falamos.

 

Aceita o desafio?

 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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