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As zonas do abandono em Portugal

2018
simaopedromata@gmail.com
Psicólogo, especialista em psicologia clínica e da saúde e membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. A sua prática profissional é realizada na Norte Vida – Associação para a Promoção da Saúde, uma IPSS que se foca na intervenção psicossocial com sujeitos em situação de vulnerabilidade social. Exerce atividade clínica em contexto hospitalar no Hospital Senhor do Bonfim (Grupo Trofa Saúde), integrando uma equipa multidisciplinar de Saúde Mental. Colabora ainda como psicólogo clínico no Gabinete Relaction – Psicologia, Terapia Familiar e de Casal. É ainda investigador externo no Centro de Ciências do Comportamento Desviante (CCCD) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto tendo-se dedicado, nos últimos anos, ao estudo do fenómeno droga, da exclusão social, da marginalidade urbana e da intervenção psicológica nos comportamentos adictivos.

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As zonas do abandono em Portugal

Acaba de sair esta semana um estudo do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Coimbra que mostra como as zonas rurais em Portugal são aquelas que maiores registos de suicídio registam. O estudo mostra também que o Alentejo já não está sozinho nesta problemática, juntando-se agora as áreas rurais do interior de Portugal, zonas que, como sabemos, estão, nos dias de hoje, desertificadas e com um tecido populacional extremamente envelhecido. A TSF, na sua edição online, a propósito do referido estudo, refere o seguinte: “O suicídio é cada vez mais um fenómeno muito mais comum no Interior do país do que no Litoral” (edição de 26 de março de 2018). Pode ler-se também, na referida notícia, que os concelhos rurais do Algarve, Centro e Trás-os-Montes estão em lugares cimeiros nesta problemática a nível nacional. 

As conclusões deste relatório devem convocar uma reflexão política urgente. Não podemos escamotear anos a fio de políticas que instigam, direta ou indiretamente, a desertificação e o abandono das zonas rurais, deixando as populações do nosso Interior “ali para um canto”, sozinhas e abandonadas, sem nenhuma ou praticamente nenhuma rede de suporte familiar ou até mesmo social. São as zonas do abandono que ainda persistem de forma marcante no nosso País. Isto tem, como é evidente, consequências muito graves no bem-estar psicológico dos indivíduos em que o suicídio é talvez a forma mais extrema dessas consequências. De acordo com o referido estudo houve, no período de 1980 a 2015, um fenómeno de “ruralização do fenómeno suicidário”. Contudo, “No outro extremo, os municípios da Área Metropolitana de Lisboa que chegaram a ter, no passado, áreas de risco, “passaram a ter valores significativamente mais baixos de mortalidade por suicídio”, pode ler-se no site da TSF, na sua edição online de 26 de março de 2018. Portugal anda hoje a duas velocidades não só nesta como noutras matérias.

Importa, mais do que contemplar estes dados, pensar e problematizar sobre o que estamos e queremos construir para Portugal. Não há bem-estar psicológico pleno nas nossas comunidades sem políticas que respeitem a integridade e a coesão do nosso território. E os dados do estudo referido sobre o suicídio mostram uma realidade nacional que nos toca a todos, de uma ou de outra forma, e para a qual devemos estar atentos e implicados.

Simão Mata

Simão Mata é psicólogo, especialista em psicologia clínica e da saúde e membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. A sua prática profissional é realizada na Norte Vida – Associação para a Promoção da Saúde, uma IPSS que se foca na intervenção psicossocial com sujeitos em situação de vulnerabilidade social. Exerce atividade clínica em contexto hospitalar no Hospital Senhor do Bonfim (Grupo Trofa Saúde), integrando uma equipa multidisciplinar de Saúde Mental. Colabora ainda como psicólogo clínico no Gabinete Relaction – Psicologia, Terapia Familiar e de Casal.

É ainda investigador externo no Centro de Ciências do Comportamento Desviante (CCCD) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto tendo-se dedicado, nos últimos anos, ao estudo do fenómeno droga, da exclusão social, da marginalidade urbana e da intervenção psicológica nos comportamentos adictivos.

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