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Chantagem Emocional - como reconhecê-la e lidar com ela?

2016
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica

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Chantagem Emocional - como reconhecê-la e lidar com ela?

Viver em sintonia com os nossos desejos e com a nossa verdade é algo que todos nós almejamos e que nos permite viver em satisfação e harmonia. No entanto, este exercício vital da liberdade individual nem sempre é fácil, sobretudo quando as nossas escolhas não vão ao encontro daquilo que os outros pretendem.

Quando o amor é libertador, existe o respeito e a aceitação pelas decisões do outro em prol da sua satisfação e realização pessoal, mesmo que essas escolhas não se coadunem com os interesses da própria pessoa. Mas nem sempre isto acontece, prevalecendo ao invés a tentativa egoísta de pressionar e obrigar o outro a abdicar da sua vontade em prol das necessidades e interesses do próprio.

A esta forma de manipulação psicológica através da qual uma pessoa tem por objetivo levar a outra a satisfazer os seus desejos, através da indução de sentimentos de culpa, ameaça ou remorso chamamos chantagem emocional e pode ocorrer em vários contextos relacionais tais como os conjugais, familiares, sociais e profissionais.

As estratégias mais utilizadas para manipular os sentimentos do outro e levá-lo a agir em oposição às próprias convições são as seguintes:

  • A auto-punição, caracterizada pela ameaça de um comportamento auto-destrutivo. Exemplo: "Se me deixares, não quero continuar a viver"

  • A punição, que recorre à utilização de ameaças de retaliação em relação ao outro. Exemplo: "Se fizeres isso, vou-me embora" ; "Se não fizeres isso por mim nunca mais falo contigo"

  • A vitimização, que faz uso da dor e da angústia para manipular o outro. Exemplo: " Se saíres com os teus amigos vou ficar triste e sozinha"

  • A culpa, cujo objetivo é responsabilizar o outro pelo próprio comportamento. Exemplo: "Se eu sou agressivo é porque me provocas"

Em qualquer dos tipo de chantagem emocional, a indução da culpa no outro, constitui-se como o núcleo principal e a mensagem latente é a seguinte: "Se não fizeres o que eu quero vais sofrer muito". O registo utilizado é muitas vezes o apelativo e o teatral, que rapidamente se desvanece assim que as necessidades ficam satisfeitas.

A manipulação é frequentemente oriunda de pessoas inseguras, autocentradas e com pouca capacidade para conseguirem a empatia dos outros, que recorrem priviligiadamente a estas estratégias para obterem o que desejam, sem levarem em consideração as necessidades dos outros, assim como o sofrimento que lhes induzem.

As pessoas manipuladas são frequentemente vulneráveis e propensas a desenvolverem sentimentos de culpa, medo e de obrigação bem como a evitar situações de conflito, acabando por ceder, sobretudo quando os laços afetivos são maiores como na relação entre casais ou pais e filhos. No entanto, essa não é a melhor maneira de lidar com a situação, na medida que reforça o comportamento manipulador e a sua repetição.

Romper com o padrão de chantagem emocional não é fácil e pode induzir sofrimento para ambas as partes, mas é essencial para que a pessoa manipulada possa restaurar a sua liberdade individual e para que o sujeito manipulador possa desenvolver novos comportamentos mais saudáveis na relação com os outros.

Importa não ceder ao jogo da culpa, fazer uso da razão e ser firme na recusa.

A assertividade também transmite uma imagem mais segura e menos vulnerável, inibindo a ação da pessoa manipuladora.

Em casos mais graves, em que a pessoa se tornou refém emocional da outra, passando a viver numa situação de exploração emocional e de acordo com os interesses daquela, em desrespeito pelos próprios, poderá ser aconselhável a procura de ajuda psicológica especializada.

Trabalhar a inteligência emocional, promover a auto-estima, aumentar a conscencialização dos direitos e deveres e reforçar os limites pessoais são fatores protetores que capacitam a pessoa para lidar com estas situações de modo mais ajustado.

 

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Joana Valério

Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.

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