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A psicoterapia como facilitadora do desenvolvimento infantil

2005
sollua-estrela@uol.com.br


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A psicoterapia como facilitadora do desenvolvimento infantil Pode

"As dificuldades são como as montanhas.
Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas."

Provérbio japonês

Na natureza todas as estruturas em seu início de formação apresentam-se mais frágeis, sendo isto verdadeiro também para o ser humano. A infância e adolescência são períodos de muitas transformações. O indivíduo constantemente se percebe esbarrando em novas situações de vida. As descobertas acontecem tanto em relação às transformações do próprio corpo, que vai sofrendo modificações em diversos níveis: morfológico, hormonal, mental, etc, como também em relação às situações de vida que se apresentam.

Pensando no mundo contemporâneo, repleto de informações que se inovam a cada momento e que, são constantemente oferecidas às crianças e a seus pais, vê-se a necessidade de conseguir se adaptar a essa nova demanda que se mostra a nós. Atualmente, as crianças são muito exigidas em função do mundo em que vivemos: devem saber dominar a informática, falar outras línguas, praticar esportes, tirarem sempre notas altas na escola, serem boazinhas e obedientes, enfim, serem “eficientes” naquilo que fazem. Estando sempre ocupadas com atividades que precisam cumprir (nem sempre tendo tempo para brincar, jogar, chorar, brigar...), não conseguem ser o que são, isto é, crianças, e sobrecarregam-se para serem aceitas pelos outros.

Tantas responsabilidades podem ser colocadas como obstáculos, uma vez que nem sempre o indivíduo consegue facilmente se adaptar a elas. Isso pode prejudicar o desenvolvimento sadio da criança. Esta se perde dentre tantas informações e requisições e, na tentativa de sobreviver ao desencontro consigo mesma, utiliza-se de alguns comportamentos tais como: agressividade, hiperatividade, angústia, medos, enurese noturna, ser bonzinho em demasia, ser apegada a adultos, reter fezes, desenvolver tiques, dificuldades escolares e de relacionamentos com os colegas e pais, falta de limite, síndromes de pânico, depressão infantil, dentre tantos outros. Estas cobranças sofridas pela criança, podem tanto ser de ordem interna como e, também, de ordem externa.

Existem crianças que manifestam esses sentimentos de outra forma, quando se percebem em meio a conflitos (entre os pais, dentro da escola ou em alguma situação específica), acabam "adoecendo" na tentativa de informar que algo não vai muito bem. Diante de tais conflitos, podem se sentir responsáveis por dilemas que não são seus, mas que vivenciam como sendo.

Dessa forma não há porque se estranhar à necessidade de um facilitador (processo psicoterapêutico) para assegurar o bom andamento do desenvolvimento humano. A importância de uma psicoterapia para as pessoas que estejam passando por distúrbios e conflitos têm se mostrado de grande importância. O afeto e o comportamento do indivíduo são determinados pelo modo como ele se estrutura no mundo. A partir do processo terapêutico, o sujeito tem a possibilidade de re-significar pensamentos e vivências, podendo descobrir outras maneiras de ver a realidade e formas de viver mais satisfatórias aos objetivos deste.

A psicoterapia infantil visa auxiliar a criança e os pais e/ou cuidadores, quando algo não está bem no desenvolvimento emocional ou social da criança. Entende-se assim, a necessidade de um ambiente que proporcione momentos à criança e os pais e/ou cuidadores para que pensem suas relações, suas escolhas, suas dificuldades, seus sonhos, suas possibilidades; em um espaço protegido, no qual o indivíduo possa se experimentar, se escutar, sentir, fantasiar entre outros. Através da utilização de algumas técnicas que têm embasamento na psicologia, a criança pode se experimentar sendo ela mesma e, no relacionamento estabelecido em terapia, que é uma analogia à relação com os outros, pode "organizar" seus conflitos vivenciados internamente, aproveitando sua fase de desenvolvimento com mais tranqüilidade.

O trabalho que tem como foco auxiliar as crianças e seus pais/cuidadores a trabalharem e refletirem sobre os seus conflitos, dúvidas, angústias, dores, entre outros conteúdos, pode ser feito de diferentes maneiras, se utilizando técnicas e meios para contribuírem nesse processo. Através das técnicas expressivas e de relaxamento há a facilitação do entrar em contato e, do trabalho com esses conteúdos, muitas vezes dolorosos e difíceis de se abordar. Estas técnicas embasadas pelo conhecimento da psicologia permitem que o indivíduo seja visto e, portanto trabalhado de forma mais global e dinâmico.

As técnicas de relaxamento facilitam o entrar em contato do indivíduo com seu si-mesmo, facilitando perceber-se, compreender seus sentimentos, visualizar imagens e outros conteúdos inconscientes, além do próprio relaxamento. Já o uso terapêutico das técnicas expressivas permite à pessoa dar forma (traduzir) e vislumbrar imagens que cria, que refletem seu interior, sendo assim símbolos de seus sentimentos, percepções e imagens internas , muitas vezes indizíveis. Por meio do criar em arte e refletir sobre os processos e trabalhos expressivos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto-estima, lidar melhor com estresse e experiências traumáticas desenvolvendo novos recursos emocionais e cognitivos, uma vez que interage e dialoga no próprio fazer com as novas formas que se configuram e, explora novas alternativas e possibilidades numa realidade alternativa (simbólica).

Psicoterapeuta e criança juntos, descobrem o que está dificultando o desenvolvimento desta. A partir dessas descobertas, reconstroem também juntos, outras maneiras dessa criança se posicionar no mundo. Paralelamente ao trabalho com a criança, são realizadas sessões de orientação aos pais, imprescindíveis para o sucesso da terapia, pois trazem informações valiosas sobre a criança além de permitirem apoio e esclarecimentos aos mesmos.

Além de ser recomendada para o tratamento de problemas específicos (hiperatividade, depressão, mania, etc), a psicoterapia infantil fornece respaldo para que a criança escolha seu próprio caminho, uma vez que os outros não poderão escolher sempre por ela. Independente do "rótulo" (ou diagnóstico) que carrega, a criança pode se redescobrir, diferenciando-se das críticas e avaliações externas tomadas para si, sendo mais feliz no presente e sofrendo menos na fase adulta.

Finalizo com um trecho de um livro que reforça o trabalho da psicoterapia de descobrir-se a si mesmo e, a partir desse ponto poder executar mudanças na vida:

“Antes de impormos mudanças radicais nos nossos padrões de vida, seria bom descobrir o que já existe no nosso estilo de vida. Com que matéria-prima podemos construir? De que forma a verdadeira realidade do que somos agora se enquadra nesse esquema elaborado do que poderíamos ser, e quando? Vamos dar um tempo para entrar em contato conosco como realmente somos, e descobrir de que materiais dispomos antes de esboçar e planejar a mudança para novas estruturas de personalidade. Para fazer isso conscientemente, precisamos, antes de tudo, prestar atenção ao nosso modus operandi atual; precisamos manter contato com mais aspectos do nosso ser; além daqueles que aparecem habitualmente; temos de ter maior percepção da nossa configuração total, da nossa gestalt total.” (Janie Rhyne no livro: Arte e Gestalt)