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Como lidar com o estigma do ‘Bode Expiatório’ nas organizações

2008
ligiaguerra@ligiaguerra.com
Psicóloga especialista em psicologia analítica e do trabalho. Escritora, autora do livro “O segredo dos invejáveis”. Possui o quadro “Mulheres às Avessas” às quintas-feiras no jornal matinal - ‘Bom dia Paraná’ - da Rede Globo em que aborda temas sobre o mundo feminino. Psicóloga por vocação, palestrante por devoção e escritora por paixão. Ministra palestras e presta conultoria em 'Gestão de Pessoas' em diversas organizações.

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Como lidar com o estigma do ‘Bode Expiatório’ nas organizações

A definição do termo bode expiatório é: ‘Aquela pessoa sobre quem se faz recair a culpa dos outros ou a quem se imputam todos os reveses e desgraças’. Nas organizações é bastante comum encontrarmos pessoas que costumam ser responsabilizadas por tudo que dá errado, imaginemos um funcionário de nome João, ele carrega o estigma de bode expiatório em uma determinada empresa, assim se um projeto não decolou foi por que o João não fez a parte dele... Se o João participou bastante e ainda assim o projeto não deu certo, é porque o João falou demais na apresentação... Se uma fofoca rola no departamento é porque o João abriu a boca antes do tempo sobre algum assunto.

Vale lembrar que ao longo da trajetória humana, nem sempre foi o homem que carregou o estigma do bode expiatório, no distrito ocidental da ilha de Timor quando as pessoas estão realizando viagens muito longas e cansativas, elas costumam se abanar com ramos de folhas, as quais depois serão lançadas fora em determinados lugares e com isso acreditam que a fadiga seria transmitida às folhas e ficaria para trás. Os animais também são utilizados com muita freqüência no mundo ocidental, os gatos, especialmente aqueles de pelagem preta, são sinônimos de má-sorte.

Parece ser bem mais fácil usar o nosso amigo João, alguns objetos ou animais como depósitos de lixo emocional para mascarar as deficiências de uma situação, de um povo ou de uma organização, ao invés de enfrentar e resolver os conflitos existentes e comumente maquiados pela cegueira coletiva. Isso me faz lembrar de uma história: ‘Conta-se que numa pequena cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado "de pouca inteligência" que vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas - uma grande de 400 réis e outra menor de dois mil réis. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. Certo dia, um dos membros do grupo o chamou e lhe perguntou se ele ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. "Eu sei" - respondeu o não tão tolo assim - “ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda”.

Esse é exatamente o problema das empresas que têm a política de cultivar o bode expiatório, os problemas não costumam ser resolvidos, alguém que passa por bobo pode se adaptar ao papel por necessidade e desperdiçar as próprias potencialidades, e o grupo que costuma criticar um colega para aliviar as próprias ineficiências e tensões pode afundar abraçado com um abobalhado sorriso coletivo. Então, o que pode ser feito se você observar alguém ser usado como bode expiatório ou se isso ocorrer com você? Para aqueles que isso ocorrer, uma ONG britânica chamada Scapegoat Society recomenda seguir os seguintes passos:

 

- Compreenda o que está ocorrendo não apenas superficialmente, mas de uma forma profunda: Examine a história, os bastidores, o contexto e situação.

- Questione o que o difamador tem como objetivo.

- Tente entender o que está ocorrendo entre ele e a vítima.

- Deixe claro que você ou o grupo identificou o processo e irá falar abertamente sobre isso até que ele termine.

- Enfatize que você ou seus colegas não estarão disponíveis como alvos.

- Mantenha distância máxima possível do difamador.

- Estabeleça os fatos do que foi feito e por quem.

- Assegure que o difamador assuma a responsabilidade por tudo que ele tenha creditado ao seu bode expiatório.

- Assegure que o difamador concorde em cessar suas ações contra seu bode expiatório.

- Faça um acordo maleável para ambas as partes.

 

Por isso fique de olho, ninguém ganha em uma situação assim, nem quem se acha esperto.