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Da terapia à mudança terapêutica segundo Rogers

2018
andradesofia958@gmail.com
Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. Formadora certificada pelo IEFP.

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Da terapia à mudança terapêutica segundo Rogers

“Descobri que a eficácia

Está quando me posso ouvir a mim mesmo,

aceitando-me e ser eu próprio”

(Rogers)

 

Existem várias correntes que assentam em diferentes quadros teóricos. O mais importante de um quadro teórico que suporta a formação em psicoterapia é o próprio psicoterapeuta, ou seja, é a relação que ele consegue estabelecer com o outro, compreendendo a pessoa que vem para ajuda.

Neste modelo de psicoterapia centrada no cliente, o objetivo foca-se no conceito de pessoa, como sendo a pedra basilar de toda a terapia, ou seja, é equivalente ao conceito de sistema, (conjunto de partes interligadas entre si) sendo a parte principal a pessoa no seu todo.

A psicoterapia centrada na pessoa ou no cliente, foi durante muitos anos conhecida como psicoterapia não diretiva, cujo objetivo é tentar fazer com que a pessoa perceba a necessidade de mudança, e reconheça que quer mudar.

Nesta terapia, para haver mudança terapêutica ou cura, é preciso que haja um conjunto de condições necessárias e suficientes. Condições essas, que quando reunidas e convergirem na relação terapeuta/cliente, ocorrerá naturalmente a mudança do sujeito.

Existem uma série de condições psicológicas, entre terapeuta e cliente no processo de psicoterapia, tais como:

1.ª condição: haver contacto psicológico entre terapeuta e cliente.

2.ª condição: a incongruência (estado de desacordo interno, vulnerabilidade e ansiedade que a pessoa revela, o não estar bem, e ir à procura de um equilíbrio) por parte do cliente. O cliente tem que estar em estado de incongruência, senão nenhum processo psicoterapêutico funciona.

3.ª condição: congruência por parte do terapeuta no relacionamento com o seu cliente.

4.ª condição: consideração positiva incondicional; o psicoterapeuta aceita o cliente enquanto pessoa, independentemente de ele ser membro de um partido político que não é o seu, ou ser acusado de um crime, como por exemplo: posso estar contra a criminalidade do meu cliente, mas não contra o cliente em si. A atitude do terapeuta, tem de ser de aceitação incondicional, ou então, não tem condições para trabalhar com essa pessoa.

5.ª condição: compreensão empática; tentativa que se faz de compreender o outro à luz do seu próprio quadro de referências, compreendê-lo e aceitá-lo como ele é.

6.ª condição: o cliente percebe por um lado a consideração positiva incondicional e a compreensão empática.

 

Rogers, defendeu três conceitos importantes na pessoa:

 - O conceito de organismo; que são todos os fenómenos que constituem a totalidade das experiências conscientes e inconscientes, por um lado o comportamento individual depende do “campo fenomenal”, por seu lado o organismo humano tende à auto atualização de forma a adotar diretamente novas situações, como por exemplo, na aprendizagem, no emprego, geneticamente, ou seja, há um impulso inato no ser humano voltado para o desenvolvimento pleno das suas potencialidades. Impulso esse, que conduz todo o organismo a desenvolver-se, e a tornar-se autónomo.

 - O self (eu); self real e o self ideal; para Rogers, o Self é o autoconceito que a pessoa tem de si mesma, baseada em experiencias passadas, estímulos e expetativas futuras, o self é o contínuo processo de reconhecimento. Este autor, enfatiza a sua teoria e crença de que o ser humano tem possibilidades de mudança, fazendo parte do seu crescimento e desenvolvimento pessoal. Neste sentido, a personalidade saudável é aquela que está plenamente consciente do self contínuo.

O self ideal, é caracterizado como um conjunto de características que o individuo gostaria de ter. Desta forma, pode existir um conflito ou obstáculo ao desenvolvimento pessoal entre o Self e o Self ideal, tornando-se este, um indicador de insatisfação e dificuldades neuróticas. A aceitação de si mesmo como se é na realidade, é indicador saudável de saúde mental, porque a partir do momento em que a pessoa reconhece as suas características reais, desenvolve-se eficazmente.

 - A consideração positiva incondicional; implica no distanciamento de si e em centrar-se no cliente. A atenção que se dá a si mesmo é negada dinamicamente pela atenção que se dá ao outro. É preciso que se distancie suficientemente de si mesmo, para que se tenha cuidado com o outro, isto é, apreciar, aceitar e salientar o que o outro tem de melhor.

Para concluir, podemos afirmar que o organismo e o self, pode resultar em congruência ou incongruência. Quando existe o olhar positivo, frequentemente o individuo tende para a congruência, se lhe falta o olhar positivo tende para o desacordo ou incongruência.

Quando o individuo age livremente, consegue experimentar e vivenciar a sua própria natureza em harmonia, condição essencial para o seu desenvolvimento, desta forma adapta-se a novas experiências e desenvolve o amor-próprio e a autonomia.

Quando a pessoa tem o self distorcido da realidade, não consegue estar bem consigo próprio, é incongruente em estados de tensão e angústia, levando à destruição do seu próprio self e do self que o rodeia. Ao negar os seus próprios sentimentos, origina um estado de desorganização interior, exemplo disso: uma mãe neurótica que está sempre a repreender o filho e a desvalorizá-lo, ou o adulto.

Resumidamente, podemos dizer que o organismo é o lugar de todas as experiências, que tem como finalidade a auto atualização e evolui nos traços hereditários, ou seja, é condicionado à herança genética. Esta tendência atualizante assenta no pressuposto Rogeriano, que confirma a existência de um impulso inato dentro de cada ser humano, capacitado para o desenvolvimento pleno das suas potencialidades. Quando se dá o amadurecimento do ser humano, o organismo torna-se mais expansivo, mais autónomo e socializado. O crescimento positivo, acontece quando as opções são claramente percebidas e adequadamente simbolizadas, o individuo tornar-se consciente de si próprio e aceita-se tal como é.

Sofia Andrade

Sofia Alexandra de Jesus Andrade é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. É Membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado do MDM. É também membro de uma IPSS em Lisboa. É licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento pela Universidade Autónoma de Lisboa, tendo realizado um mestrado via profissionalizante na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens do Seixal, onde adquiriu competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, onde atualmente trabalha. Realizou também um estágio de Licenciatura no Gabinete de Saúde Ocupacional da Câmara Municipal do Seixal, tendo desenvolvido um estudo sobre o levantamento do Absentismo Prolongado dos trabalhadores, bem como consultas de desabituação tabágica. Para além de ser formadora certificada pelo IEFP, e apoiar várias causas sociais, é participante ativa em causas voluntárias. Atualmente dedica-se também à escrita sendo autora do livro intitulado: “Crianças e Jovens em Perigo. Estudo de Casos Clínicos. 2.ª edição”, pelas Edições Vieira da Silva.

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