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Solidão é só lição

2018
pedrosampaiominassa@gmail.com
Graduando em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil)

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Solidão é só lição

Medo de ficar sozinho, em suas várias concepções, é um sentimento que domina boa parte da humanidade. Existem aqueles que receiam a solidão literalmente, não gostando de ficar em ambientes sem ninguém. Outros, temem estar sozinhos no seu sentido duradouro, uma solidão afetiva para o resto da vida.

Independentemente de qual figura de solidão que o leitor se encaixe (ou em nenhuma, por tu seres um ser pretensamente destemido e que estar sozinho não passe de uma alegria), este estado tem uma proposta educativa. Senão, vejamos.

Solidão deriva do latim solitudo e solus que significa coincidentemente estar sozinho, mas em certos termos, poderíamos estabelecer uma lista de palavras que traduzem este substantivo, que se não for abstrato gramaticalmente, pelo menos o é em sentimento: vazio, isolamento, só, sozinho, solitude, afastamento, exílio, deserto, retiro, introspecção e outras muitas palavras.

Bom, e o que elas têm em comum? O silêncio. Vazio pressupõe a ausência de algo, nesse caso, do barulho, e logo, a presença do nada, do silêncio. Isolamento remonta, como afastamento, a uma distância de algo incômodo, é a busca do silêncio. Solitude e solidão, exílio e deserto, retiro e introspecção, são todos vocábulos que acabam por representar a ausência de matéria e a presença de energia muda: o silêncio.

Em plano conotativo (deixemos que os dicionários denotem), estar só é, sim, estar na solidão, mas não num vazio físico, vejamos: só eu sou (conota unicidade) e eu sou só (conota solidão). Sozinho, em contrapartida, tem sentido mais físico do que metafísico, é essencialmente uma atitude de vazio, ou seja, nem sempre estar sozinho significa estar só, porque é possível estar só numa multidão, mas é impossível estar numa multidão, sozinho. Só mexe com o interior, sozinho é a posição exterior do ser. Daí, quando queremos ficar a sós com alguém, além de almejarmos ficar sozinhos, queremos também que o meu só interior seja ocupado com o só interior da outra pessoa.

Assim, a solidão é um sentimento que permite a criação de um espaço de pura fertilidade cognitiva. A história da humanidade é a prova cabal de que a solidão tem um nexo de causalidade com o conhecimento novo, com o progresso da ciência e de todo o mundo. São vários os exemplos: um autor que se retira para um lugar afastado a fim de escrever um livro que se tornará futuramente um best-seller; o cientista que se isola no seu laboratório para conseguir achar a fórmula que resolve a incógnita; o religioso que se abastece de espiritualidade nos desertos (como os monges e os dalais); os exilados políticos que muitas vezes produzem grandes manifestações culturais de resistência; os estudantes que buscam nas bibliotecas o silêncio como canal livre de aprendizagem e etc. No fim, todos nós já vivemos na solidão e no silêncio, e isso ocorreu durante nove meses de nossa vida, não à toa que logo nos primeiros.

Homens que estão à frente de seu tempo continuam a recorrer, mesmo que depois de terem nascido, a um ventre silencioso de solidão para achar respostas que não achariam na multidão. Moral da prosa: se quisermos achar respostas para os mais diversos problemas, precisamos, antes, fazer silêncio para escutarmos, na solidão, um sussurro esclarecedor.

Pedro Sampaio Minassa

Pedro Sampaio Minassa é brasileiro, graduando (já finalista) em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo e cronista nos tempos livres. É colaborador de diversos portais e jornais, tais como o P3 (Público, Portugal), Portal DUO, Portal do Envehecimento, Crônicas da Editora KBR.

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