Sonhos estranhos que se entranham
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Licenciado em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP), com especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos. Consultor de Recursos Humanos. Psicólogo clínico, no sector privado.

Existem certos tipos de sonhos que são habitualmente conotados de estranhos. Essa estranheza deriva, em boa parte das ocorrências, de não ser entendida a origem dos noctívagos devaneios, aliada ao facto da sua possível interpretação se afigurar enevoada ou incognoscível.
A situação adensa-se e ganha relevância quando um sonho se torna recorrente. Quando a actividade onírica, com despudorada teimosia, se repete, de forma circular e, frequentemente, intimidatória, os alarmes tocam. É fácil esquecer um episódio aparentemente sem significado, mas quando o mesmo, ainda que sem valor perceptível, se repete até à exaustão, não há forma de olvidar tal fenómeno.
É nessa altura que se colocam as primeiras lógicas conjecturas: "Será que este sonho quer dizer alguma coisa? Haverá algum simbolismo escondido atrás deste cenário ilusório?". De repente, aquilo que parecia um episódio sem relevância, adquire, pare quem o vivencia, uma importância capital. Quer-se, a todo o custo, desvendar o outrora irreal cenário, agora transformado em real e assumido enigma.
A convicção de que uma mensagem subliminar é passível de ser despida, inquieta. Simultaneamente, convida à acção, à pesquisa de respostas e à mudança de atitudes.
Nesta matéria, recordo o ilustrativo exemplo de uma ex-aluna, que me descreveu um repetido e avassalador sonho ocorrido numa fase mais sombria da sua vida. Nesses episódios, brotava "a imagem de uma corda que esticava cada vez mais”, ao ponto de ameaçar romper a qualquer momento, o que, apesar de nunca suceder, causava um enorme e atroz sofrimento. Segundo as suas palavras, nunca compreendeu o porquê desses sonhos iterados.
Ao ouvir esta descrição, elaborei a hipótese de que se trataria de uma mensagem que a alertava para a necessidade de modificar drasticamente a sua vida, antes da corda romper, ou seja, antes de acontecer uma situação perniciosa e irreversível. Era um facto. Conforme confidenciou, naquela altura vivenciava diariamente experiências que roçavam a marginalidade, com comportamentos desviantes cíclicos e companhias pouco abonáveis. Quando esse panorama se alterou, o bizarro sonho ofuscou-se.
Que peso terá tido o curioso sonho na sua recuperação para uma vida com um mais escorreito significado? É difícil pesar com exactidão. Mas é coerente aceitar que tais ocorrências estabelecem um adequado alerta e uma convocatória pertinente à transformação pessoal.
Paulo Sobral, possui Licenciatura em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP), com especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Iniciou a prática profissional na área da Psicologia, conciliando a actividade clínica de âmbito privado, com a de membro de uma equipa multidisciplinar do Centro de Acolhimento Aos Sem Abrigo, em Viana do Castelo, e a de Professor da disciplina de Psicologia da Comunicação no Instituto Multimédia, no Porto, pelo período de 3 anos.
Foi, durante cerca de uma década, Consultor de Recursos Humanos de variadas empresas de dimensão nacional e multinacional, na área do recrutamento, avaliação e selecção de recursos humanos.
Actualmente, desenvolve a actividade de Psicólogo Clínico, no sector privado, em Lisboa e no Porto.